"Acreditamos que o número real (de menores abusados, inclusive aqueles cujos dossiês se perderam ou que nunca denunciaram por medo) está nos milhares", destaca o relatório de 1.400 páginas sobre o abuso sexual de menores em seis das oito as dioceses do estado da Pensilvânia, escreve a AFP.

O número atual é mais baixo do que aquele que o grande júri crê ser o real pois houve registos que se perderam e há vítimas com medo de avançar com acusações. Segundo o relatório, mais de 300 padres perpetuaram este abuso num período que se estende desde aos anos 50.

"Para muitas vítimas, esta descoberta faz justiça", disse à imprensa o procurador geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, ao informar sobre as suas descobertas. Shapiro confirmou também que a investigação confirmou um encobrimento sistémico dos crimes por parte de altos funcionários da Igreja Católica, tanto na Pensilvânia como no Vaticano.

"O encobrimento foi sofisticado. E durante este tempo todo, de forma chocante, a liderança da igreja manteve registos do abuso e do encobrimento", revelou o procurador numa conferência de imprensa na cidade de Harrisburg. De acordo com Shapiro, citado pela Associated Press, "estes documentos, dos próprios 'Serviços Secretos' das dioceses, formaram a espinha dorsal desta investigação".

Grande parte das vítimas são rapazes, houve também raparigas a sofrer abusos que, segundo Shapiro, os funcionários da igreja descreviam "rotineira e propositadamente" como "brincadeiras, lutas e conduta inapropriada", mas que na realidade envolvia atos de abuso sexual, "incluindo violações".

Como escreve a NPR, são inúmeros os casos grotescos que perpetrados por alguns padres, desde um padre na diocese de Harrisburg que abusou cinco irmãs, até outro, da diocese de Greenburg, que engravidou uma jovem de 17 anos, casou-se com ela e divorciou-se meses depois.

O grande júri concluiu que vários bispos católicos e líderes de dioceses procuraram proteger a Igreja de má publicidade e de responsabilidades financeiras ao não denunciar os casos à polícia e pressionar as vítimas a não recorrerem às autoridades.

Todo este esforço poderá, todavia, ser em vão no que toca a condenações, já que grande parte dos padres envolvidos já morreram ou podem evitar a detenção dada a prescrição dos casos de acordo com as leis estaduais da Pensilvânia. Para já, apenas dois elementos da Igreja foram formalmente acusados, incluindo um padre que forçava a sua vítima a confessar-se depois de cada sessão de abuso.

Esta investigação já chegou às mais altas instâncias do poder da Igreja Católica nos Estados Unidos. No relatório estão gizadas as conexões que ligam o Cardeal Donald Wuerl (na fotografia) ao encobrimento sistémico dos abusos. Wuerl, que durante décadas foi o bispo de Pittsburgh, lidera agora a arquidiocese de Washington e lançou hoje, 13 de agosto, uma declaração na qual defende ter "agido com diligência, com preocupação pelas vítimas e para prevenir futuros atos de abuso".

O relatório é publicado, como recorda a AP, pouco depois do Papa Francisco ter retirado o título de cardeal a Theodore McCarrick e tê-lo condenado a uma vida de oração e penitência. Em causa estão acusações de abusos sexuais a rapazes e de conduta sexual com seminaristas adultos.

Wuerl volta a estar sob fortes críticas pois os dados do relatório causam sérias dúvidas quanto ao seu desconhecimento das ações de McCarrick, até porque substituiu-o enquanto arcebispo de Washington em 2006.

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