Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto explica hoje que o investigador e hematologista do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto Delfim Duarte vai estudar o papel do ferro na hematopoiese clonal, condição que afeta a forma como as células sanguíneas são produzidas.

Recentemente descrita, a hematopoiese clonal está associada ao envelhecimento e risco de leucemia mieloide aguda (LMA), um tipo de cancro agressivo que afeta os glóbulos brancos.

“Vamos estudar o papel da inflamação e do ferro na formação e diferenciação das células de sangue e desenvolvimento de leucemia”, afirma, citado no comunicado, Delfim Duarte.

Segundo o investigador, com o avançar da idade, “o número de erros nas células da medula que dão origem às células sanguíneas vai aumentando por acumulação de mutações em genes que regulam vários processos vasculares”.

“As células mutadas expandem e têm função alterada, aumentando assim o risco cardiovascular e de desenvolvimento de leucemia mieloide aguda”, esclarece.

De acordo com o hematologista, vários estudos demonstraram que o perfil pró-inflamatório das células mutadas está, muitas vezes, relacionado com uma proteína que regula os níveis sistémicos do ferro, designada hepcidina.

“Dados preliminares do nosso grupo de investigação no i3S sugerem que essa proteína e os níveis de ferro regulam por sua vez a formação de novas células sanguíneas”, indica o investigador, também professor auxiliar na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Ao longo da investigação, os investigadores vão estudar a relação entre a inflamação, ferro e formação de novas células sanguíneas, assim como o risco de evolução para a leucemia.

Para tal, a equipa vai recorrer a amostras de doentes com hematopoiese clonal e modelos animais que mimetizam a condição humana.

Além de Delfim Duarte, a equipa conta também com investigadores da Universidade de Tours, em França, e da Universidade de Zurique, na Suíça.

“Este estudo pode ter implicações importantes para a prevenção do risco cardiovascular e de desenvolvimento de leucemias nesta população”, salienta.

A investigação vai ser desenvolvida no âmbito de uma bolsa de financiamento da Associação Europeia de Hematologia, no valor de 240 mil euros, para os próximos três anos.

Este financiamento reflete “o reconhecimento do trabalho” desenvolvido pela equipa do i3S, mas também uma “oportunidade única de explorar num contexto pré-clínico possíveis futuros tratamentos para os doentes com patologia hemato-oncológica.

“Isto só é possível graças ao consórcio do Porto Comprehensive Cancer Center Raquel Seruca, que inclui o i3S e o IPO Porto”, acrescenta Delfim Duarte.

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