Virgínia Ribeiro, da Associação de Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA), entidade detentora dos quatro livros genealógicos das raças de galinhas portuguesas, disse à Lusa que, atualmente, não chegam aos 5.000 os animais com as características exemplares destas raças, o que leva a que se encontrem em risco de extinção.

Esta situação levou a que, em 2012, a AMIBA estabelecesse um protocolo de colaboração com a Estação Zootécnica Nacional (EZN), entidade do INIAV responsável pela investigação e desenvolvimento experimental em produção animal, detentora do Banco Português de Germoplasma Animal, para a constituição de um núcleo, na Fonte Boa, no Vale de Santarém, para garantir a preservação das quatro raças.

Uma das investigadoras da EZN envolvida no projeto, Inês Carolino, disse à Lusa que, além da criação do núcleo, esta parceria permitiu a realização de vários estudos, nomeadamente, para registo de dados biométricos e a caracterização genética das quatro raças, percebendo as diferenças entre elas.

Das quatro raças existentes – Amarela, Branca, Pedrês Portuguesa e Preta Lusitânica -, a Branca é a que apresenta um menor número de efetivos (com apenas 900 reprodutoras em todo o país), afirmou Virgínia Ribeiro.

Inês Carolino referiu a dificuldade em “manter as raças em linha pura” por frequentemente se encontrarem misturadas, cruzando-se na reprodução, realçando o papel do Estado na conservação das raças autóctones.

O trabalho das duas entidades tem passado ainda pela sensibilização dos criadores para colaborarem nesse esforço, nomeadamente separando os animais nas explorações, de forma a evitar que as raças se cruzem.

Uma das ações de sensibilização aconteceu esta semana na Feira Nacional da Agricultura, que decorre em Santarém até domingo, com uma adesão de produtores que surpreendeu as responsáveis.

“Estas galinhas estão muito ligadas à agricultura sustentável” e à agricultura familiar, disse à Lusa Inês Carolino, realçando o “valor acrescentado” que representam, nomeadamente pela produção de carne e ovos “a muito baixo custo”.

“Muitas vezes estas galinhas são produzidas quase com o excedentário da exploração, com o que vai sobrando e com o que se vai alimentar na natureza. Não dependem muito de rações, nem de água e não poluem”, disse, salientando que estão “muito associadas a uma agricultura do tipo biológico” e que são “cada vez mais procuradas”.

Virgínia Ribeiro referiu o trabalho que tem sido feito para a introdução destes animais na agricultura sustentável, “porque, pela sua rusticidade, pela sua resistência considerável a doenças, pelo baixo investimento nas instalações, pelo fácil maneio, são animais completamente integrados, sendo um rendimento acrescentado às outras atividades da exploração”.

A técnica da AMIBA referiu ainda o aumento da procura por parte de consumidores cada vez mais “preocupados com novas doenças e com uma alimentação saudável” e que “querem ver de onde vêm e como são criados” os produtos que consomem.

Por outro lado, apontou o interesse turístico gerado pelas raças autóctones, criadas no seu meio natural, já que há uma procura crescente pelo que “é original”.

Virgínia Ribeiro salientou a existência em Portugal de 50 raças autóctones, o que representa “uma diversidade imensa” num país “tão pequeno” a que se tem que “dar valor”.