O objetivo é deixar tudo pronto para a visita do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, na quarta-feira, e todas as instruções são dadas pela irmã Lúcia, seja para lembrar que falta pintar uma placa, ou para fazer recomendações a um professor.
A freira portuguesa está há 18 anos em São Tomé e Príncipe e diz que não escolheu o país, mas "apenas uma missão em África".
Veio para dar aulas, ensinando português durante oito anos na escola secundária de Neves, a cerca de 30 quilómetros da capital são-tomense, e como viu "as necessidades das crianças sozinhas e abandonadas" nunca mais parou.
O projeto começou "debaixo de uma jaqueira", onde davam comida a idosos carenciados da zona, criando depois o lar de São Francisco, construído pela Misericórdia de Lisboa.
De seguida, avançaram para a escola. Primeiro uma sala para 20 crianças no espaço da catequese, depois outra para 40 e hoje são mais de 1.200 do primeiro ao quinto ano.
Além de creche, jardim de infância e escola, o projeto das irmãs Franciscanas tem ainda um lar, com 250 idosos, ateliê de costura, biblioteca, refeitório, ou uma carpintaria que já é autossustentável e emprega 26 jovens.
"Costumo dizer que tenho crianças dos cinco meses aos 90 anos", brinca.
Para acolher tantas crianças, é preciso dar as aulas em dois turnos.
Enquanto faz a visita guiada ao espaço, a irmã Lúcia quer saber sempre como as coisas estão a correr, se a criança já comeu, por que está a chorar. "Terá a fralda suja? Vê lá", ordena a uma das funcionárias.
Carolina, de 49 anos, que trabalha na creche desde novembro, tenta sossegar um dos oito bebés. Muito envergonhada, lá explica que há mais 20 crianças entre um e dois anos de idade e aponta para uma fila de colchões colocados no pátio, onde dormem.
Na sala de costura, Marisa, de 38 anos, faz um avental. Diz que trabalha no projeto há dez anos.
Os produtos são depois vendidos para ajudar a pagar as despesas.
Na sala ainda vazia à espera dos alunos está Diodotce Lima, engenheiro elétrico que dá aulas de mecânica. Diz que estão inscritos 18, mas só parecem dez, os outros "têm algumas dificuldades".
O professor, que se formou no Rio de Janeiro, diz que é difícil depois os alunos trabalharem na área da engenharia "num país que não constrói nada", mas "conseguem sempre emprego".
Na escola, um grupo de alunos prepara-se para o ensaio geral da dança que vai mostrar a Marcelo Rebelo de Sousa.
"Já ali está o palanque", aponta a irmã Lúcia.
Também Albertino da Silva Pontes anda atarefado com os últimos retoques no campo desportivo pago pela Fundação do Sport Lisboa e Benfica.
"Ainda falta pintar uma placa", aponta a irmã Lúcia a "Tino", o "faz tudo".
"Sou carpinteiro, pedreiro, faço pinturas, tudo de construção civil", pormenoriza Albertino, que trabalha na Obra há dez anos.
Pelo caminho, a irmã Lúcia ainda dá instruções às cozinheiras, que preparam mais de 1.000 refeições por dia", canta uma canção com os meninos que estão na biblioteca e só se senta por cinco minutos para explicar um pouco da sua história de vida.
Questionada sobre se pretende ficar muito tempo ainda em São Tomé e Príncipe, diz que depende da congregação a que pertence. "Se amanhã me mandarem para outro lado eu vou".
Em relação à mensagem que pretende transmitir a Marcelo Rebelo de Sousa, a irmã Lúcia diz que é "de gratidão" pelo apoio que Portugal tem dado ao projeto que lidera.
Enquanto aguarda à entrada da sala do quarto ano, vestida de farda em dois tons de azul, Celine, de nove anos, escapa da fila porque quer falar para dizer que gosta muito de estudar, mais "meio físico", mas também português e francês.
Sabe que a escola vai receber a visita do "Presidente de Portugal". Mas fica sem resposta quando se pergunta o nome.
Numa sala do terceiro ano, a irmã Lúcia tenta ensaiar o nome completo com os 37 meninos e meninas. Mas desiste. "Pronto, Dr. Marcelo chega".
[Por Vera Magarreiro (Texto) e Miguel Lopes (Fotos e Vídeo), enviados da agência Lusa a São Tomé]
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