Num relatório de 184 páginas, intitulado “Extermínio e Atos de Genocídio: Israel privou deliberadamente água aos palestinianos em Gaza”, a HRW refere que o Hamas, ao perpetrar os ataques no sul de Israel, a 07 de outubro de 2023, também cometeu “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.
Para a HRW, segundo o relatório, as autoridades israelitas impediram “intencionalmente os palestinianos em Gaza do acesso a água potável e ao saneamento básico necessários à sobrevivência humana” desde outubro de 2023.
“[Tal] resultou provavelmente em milhares de mortes”, indicou a organização não governamental de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Nova Iorque, cuja acusação de genocídio é idêntica à avançada num relatório da Amnistia Internacional (AI), divulgado a 05 deste mês e intitulado “Sente-se Como Se Fosse Sub-Humano: O Genocídio de Israel contra Os Palestinianos em Gaza”.
“Restringiram o acesso de Gaza à água canalizada, inutilizaram a maior parte das infraestruturas de água e saneamento de Gaza cortando a eletricidade e restringindo o combustível, destruíram e danificaram deliberadamente as infraestruturas de água e saneamento e os materiais de reparação de água e bloquearam a entrada de abastecimentos de água essenciais”, denuncia a HRW.
“Não se trata apenas de negligência: é uma política calculada de privação que levou à morte de milhares de pessoas por desidratação e doença, o que constitui um crime de extermínio contra a humanidade e um ato de genocídio”, acrescentou
A HRW insiste no documento que as autoridades israelitas infligiram deliberadamente condições de vida calculadas para provocar a destruição de parte da população de Gaza e, ao fazê-lo, são responsáveis pelo crime de extermínio contra a humanidade e por atos de genocídio.
“O padrão de conduta, associado a declarações que sugerem que alguns funcionários israelitas desejavam destruir os palestinianos em Gaza, pode equivaler ao crime de genocídio”, frisou a organização, apelando aos governos e organizações internacionais para tomarem “todas as medidas para evitar o genocídio em Gaza, incluindo a suspensão da assistência militar, a revisão dos acordos bilaterais e das relações diplomáticas e o apoio ao Tribunal Penal Internacional e a outros esforços de responsabilização”.
Para elaborar o relatório, a HRW entrevistou 66 palestinianos de Gaza, quatro funcionários da Coastal Municipalities Water Utility (CMWU) de Gaza, 31 profissionais de saúde e 15 pessoas que trabalham com agências da ONU e organizações de ajuda internacional em Gaza, tendo também analisado imagens de satélite, fotografias e vídeos capturados entre o início das hostilidades em outubro de 2023 e setembro de 2024, bem como dados recolhidos e estimativas de médicos, epidemiologistas, organizações de ajuda humanitária e peritos em água e saneamento.
“A Human Rights Watch concluiu que as autoridades israelitas criaram intencionalmente condições de vida calculadas para provocar a destruição física total ou parcial dos palestinianos em Gaza” e “cometeram o crime de extermínio contra a humanidade”, ainda em curso.
Durante semanas, as autoridades israelitas cortaram toda a água e impediram a entrada de combustível, alimentos e ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
“As autoridades israelitas continuam com as restrições, situação que se manteve mesmo depois de o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ter emitido medidas em janeiro, março e maio de 2024, ordenando às autoridades israelitas que protegessem os palestinianos em Gaza do genocídio, fornecendo ajuda humanitária, especificando em março que tal inclui água, alimentos, eletricidade e combustível”, lê-se no relatório.
Por outro lado, a “dizimação do sistema de saúde de Gaza”, incluindo o rastreio dos cuidados de saúde, significou que os casos confirmados de doenças, enfermidades e mortes possivelmente relacionadas com doenças transmitidas pela água, desidratação e fome não estão a ser sistematicamente rastreados ou comunicados.
Para a HRW, é “provável que milhares de pessoas tenham morrido” em consequência das ações das autoridades israelitas, mortes que se juntam às mais de 44.000 vítimas mortais das hostilidades, segundo as autoridades de Gaza.
“O bloqueio contínuo do governo israelita a Gaza, bem como o encerramento da Faixa de Gaza durante mais de 17 anos, constituem também uma punição coletiva da população civil, um crime de guerra. O encerramento também faz parte dos crimes contra a humanidade de apartheid e perseguição que as autoridades israelitas têm vindo a cometer contra os palestinianos”, refere ainda a HRW.
Segundo a ONG, vários governos têm minado os esforços de responsabilização e “continuam a fornecer armas ao governo israelita, apesar do risco evidente de cumplicidade em graves violações do direito internacional humanitário”.
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