“Eu fui em Ceilândia e Taguatinga [cidades satélites da capital brasileira] no fim de semana passado e fui massacrado pelos media. Disseram que fui passear, mas eu fui ver o povo. Duvido que um governador desses, um João Doria [de São Paulo], um Carlos Moisés [de Santa Catarina], vá no meio do povo. Vão nada. A justificação é que podem apanhar o vírus. Estão com medinho de pegar vírus?”, questionou ironicamente o mandatário, em conversa com pastores evangélicos, em Brasília.

A conversa entre o chefe de Estado e os pastores foi transmitida em direto na rede social Facebook, tendo Bolsonaro criticado novamente as medidas de isolamento adotadas por governadores e a minimizado o impacto do novo coronavírus no país.

“Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Muito pelo contrário. Um hospital no Rio de Janeiro que tem 200 camas só tem 12 ocupadas. Não é isso tudo que estão pintando. Até porque no Brasil a temperatura é diferente. Tem muita coisa diferente”, afirmou Bolsonaro.

Contudo, segundo uma estimativa do Ministério da Saúde, divulgada pelo jornal O Globo, no final de março 17 das 27 unidades federativas do Brasil tinham mais de 70% das suas camas dos cuidados intensivos ocupadas.

Os pastores que aguardavam Bolsonaro na entrada do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial em Brasília, disseram ter vindo de Monte Sião, no interior de Minas Gerais, a 1.100 quilómetros de Brasília.

Os religiosos relataram dificuldades das pequenas igrejas para pagar a renda e outras despesas, pedindo uma linha de crédito para as entidades religiosas, e criticando as “medidas drásticas” de encerramento de comércios adotadas por prefeitos e governadores.

“Vocês sabem a minha posição desde o começo. (…) Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, que é o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco a imprensa vai dizer que eu estou a atacar governadores. (…) Temos de convencer governadores a não ser tão radicais”, defendeu o Presidente.

Alguns estados e municípios do Brasil prorrogaram por mais 15 dias medidas de isolamento social contra a disseminação do novo coronavírus.

“Eles (governadores) acabaram com o comércio. O João Doria acabou com o comércio na estrada. Não pediu para mim, não vou conversou comigo, para fazer aquela loucura”, declarou Jair Bolsonaro.

Segundo o chefe de Estado, o “remédio” de Doria contra a crise foi aplicado em grandes doses e tornou-se um “veneno”.

“O Doria tem de ter uma fórmula para começar a desfazer o que fez de excesso há pouco tempo. Não vai cair no meu colo essa responsabilidade”, frisou o mandatário.

Brasil soma 241 mortos e 6.836 infetados pelo novo coronavírus, anunciou na quarta-feira o Governo brasileiro.

São Paulo continua a ser o estado com maior número de casos registados, totalizando 164 mortos e 2.981 casos confirmados da covid-19. Segue-se o Rio de Janeiro com 28 óbitos e 832 infetados e o Ceará que contabilizou oito vítimas mortais e 444 casos positivos para coronavírus.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.