“Pelo que estou sabendo, o MP [Ministério Público] da Bahia, não tenho certeza, vai cobrar uma perícia independente hoje. É o primeiro passo para começar a desvendar as circunstâncias em que ele [Adriano da Nóbrega] morreu e o porquê”, declarou Jair Bolsonaro à saída da residência oficial, em Brasília.

O chefe de Estado acrescentou: “Poderia interessar para alguém a queima de arquivo. Contra quem ele teria para falar? Contra mim que não era nada. Contra mim teria certeza de que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo”.

O Presidente brasileiro referiu-se à morte do miliciano Adriano da Nóbrega, abatido por agentes da polícia numa operação realizada no estado da Bahia, no início de fevereiro.

Antes da declaração pública junto ao Palácio da Alvora, Bolsonaro usou a sua conta na rede social Twitter para abordar o assunto.

“A quem interessa não haver uma perícia independente? Sua possível execução foi ‘queima de arquivo’? Sem uma perícia isenta os verdadeiros criminosos continuam livres até para acusar inocentes do caso Marielle”, escreveu o Presidente brasileiro.

Conhecido como “Capitão Adriano”, o suspeito encontrava-se em fuga desde 2019, acusado de liderar o chamado “Escritório do Crime”, um alegado grupo de assassinos de elite suspeito de estar envolvido na morte de Marielle Franco em março de 2018.

Segundo a imprensa local, Adriano da Nóbrega tinha dito ao seu advogado que temia ser morto para “eliminação de provas”.

Ex-capitão do Bope, batalhão de elite da polícia militar do Rio de Janeiro, Adriano da Nóbrega recebeu em 2005 a medalha Tiradentes, a mais alta decoração daquele estado brasileiro, numa distinção concedida por iniciativa de Flávio Bolsonaro, atualmente senador, e filho do Presidente.

A mãe e a ex-mulher de Adriano da Nóbrega também eram funcionárias do gabinete do filho de Jair Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Além do assassínio da ativista, as autoridades brasileiras estão a investigar um alegado esquema ilícito mantido no gabinete de Flávio Bolsonaro, sobre funcionários fantasmas e repasses ilegais de parte dos salários dos funcionários contratados pelo seu gabinete na Alerj, que envolve os familiares do miliciano morto.

O assassínio a tiro de Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018, gerou uma grande comoção no Brasil.

A vereadora, negra, homossexual e de uma favela destacou-se pelo seu trabalho como defensora dos direitos humanos, e pelas suas denúncias contra a violência policial no Rio de Janeiro.

As investigações à sua morte continuam a decorrer desde há 23 meses, tendo sido para já detidos os dois alegados autores materiais, mas falta ainda determinar quem foi o autor moral do crime.