"Estamos nesta fase intermédia de definição do caminho e, neste sentido, tendo em conta esta situação, o Governo pode dar aqui uma contribuição positiva, na exata medida em que haja disponibilidade por parte dos detentores da [Cervejaria] Galiza e isso possa corresponder a uma saída onde todos saiam bem", afirmou Jerónimo de Sousa, que jantou esta noite no estabelecimento.
Em declarações aos jornalistas, o secretário-geral do PCP, que se mostrou "solidário" para com os funcionários da cervejaria, declarou que, apesar "dificuldades naturais do processo", a "firmeza" e defesa dos trabalhadores pelos seus direitos é "uma primeira vitória".
"Creio que já há uma primeira vitória. Foi, de facto, a firmeza e a razão que lhes assiste para defenderem os seus postos de trabalho e manterem esta bela casa aberta", salientou Jerónimo de Sousa, considerando existirem "condições bastantes para ultrapassar o conflito e resolver o problema".
"São 30 postos de trabalho que estão aqui em causa, de muitos que para a sua vida precisam de continuar aqui a trabalhar, não pedem mais do que isso. Querem continuar a trabalhar e ter o seu direito ao trabalho e, por isso mesmo é que, tendo em conta esta marca que é parte intrínseca desta cidade do Porto, [desejo que] possa continuar de portas abertas com uma situação social e laboral resolvida", salientou.
A Cervejaria Galiza está, desde há quatro anos, em dificuldades, com dívidas aos funcionários, ao fisco e à Segurança Social.
A tentativa de resolver o problema passou pelo recurso a um Processo Especial de Revitalização (PER), aceite pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia, e pela chegada de um gestor.
Os 31 trabalhadores mantêm-se, desde o dia 11 de novembro, de dia e noite, de forma alternada nas instalações, depois de se terem apercebido, nesse dia, da tentativa da retirada do equipamento pela proprietária da cervejaria.
Também em declarações aos jornalistas, António Ferreira, de 57 anos e funcionário há 33 anos na Cervejaria Galiza, afirmou que, apesar da firmeza, os trabalhadores estão "cansados".
"Estamos cansados porque isto começa a ser desgastante, até pelo facto de termos de ficar aqui de noite para assegurar as instalações, mas vamos mantendo alguma firmeza. É preciso um grande esforço", admitiu.
António Ferreira avançou também que até ao momento não está previsto o corte da luz ou da água, mas que os trabalhadores continuam a "ter esse receio".
"Se isso acontecer, aquilo que temos infelizmente é de encerrar o estabelecimento aos clientes, porque vamos manter-nos cá dentro, sem água e sem luz", garantiu.
Quanto à "solidariedade" demonstrada pelos partidos de esquerda, António Ferreira salientou que tal só "vem confirmar (...) que é o PCP e o BE que estão ao lado dos trabalhadores", adiantando estar à espera de que o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, visite a cervejaria.
"Dá-me a impressão de que o sr. Rui Moreira está mais preocupado com a questão das lojas de ‘franchising’ no centro da cidade e esqueceu-se de que na Rua do Campo Alegre existe uma casa com história na cidade do Porto", acrescentou.
Esta tarde decorreu uma reunião “inconclusiva” com a gerência da Cervejaria Galiza, segundo informação do delegado sindical Nuno Coelho. Nova reunião está agendada para segunda-feira.
Fundada em 29 de julho de 1972, a cervejaria detida pela empresa Atividades Hoteleiras da Galiza Portuense é uma das referências do Porto no setor da restauração.
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