“A interpretação que dão a esse papel nega o real posicionamento, desde a primeira hora, por parte do PCP. De facto, não houve um acordo, não houve uma maioria de esquerda, não houve uma maioria parlamentar. Eram as matérias em concreto que determinavam a nossa posição. Como poderia haver um tal acordo se o PS, em matérias de fundo e estruturantes, voltou ao regaço do PSD e do CDS, fazendo aprovar normas e leis profundamente injustas? Seria uma contradição”, salientou Jerónimo de Sousa.
O líder comunista respondia a questões dos jornalistas após a conferência de imprensa em que anunciou as principais conclusões da reunião da véspera do Comité Central, órgão dirigente máximo entre congressos.
“[Em 2015] Não formalizámos acordo nenhum. O que se formalizou, por pressão do Presidente da República de então [Cavaco Silva], foi a exigência de um papel, um papel, pressionando assim o PS. Resultou, não um acordo, mas uma posição conjunta que definia âmbitos de convergência, particularmente nos avanços em relação a direitos e rendimentos. Não foi mais que isso. Agora, há aqui uma situação nova. Não existe essa pressão. O Presidente da República indigitou o primeiro-ministro. Agora, é aguardar pelo programa de Governo, pela própria proposta de Orçamento do Estado”, descreveu.
Jerónimo de Sousa insistiu que, “na legislatura que agora termina, nunca houve por parte do PCP a garantia, à partida e sem conhecer a proposta de orçamento, para lhe dar acordo”.
“Fazia parte dessa posição conjunta o exame comum da proposta de orçamento, guardando a votação para o resultado final desse processo de discussão na Assembleia da República”, continuou.
O secretário-geral do PCP manteve a expectativa sobre a reunião agendada para a tarde de hoje com a comitiva do PS, encabeçada pelo chefe de Governo, António Costa.
“Acho que não é perda de tempo. É o momento para conhecer os objetivos do PS. Não quero fazer nenhum juízo de valor antecipado em relação ao que o PS pretende afirmar aqui. Não vai ser uma reunião crispada, vai ser clarificadora”, previu.
O líder comunista disse que “se o PS avançar com respostas positivas e corresponder a às aspirações, contará com a contribuição insubstituível do PCP”, referindo-se ao investimento nos serviços públicos (Serviço Nacional de Saúde, escola pública, transportes), criação de uma rede de creches gratuitas para crianças até três anos ou à valorização geral dos salários.
“Está nas mãos do PS, do Governo do PS. O nosso primeiro e principal compromisso é com os trabalhadores e com o povo”, reforçou, sobre a estabilidade governativa ao longo da próxima legislatura, embora manifestando dúvidas sobre a possibilidade de os socialistas virarem à esquerda: “tenho muita dúvida, é uma boa pergunta para o PS”.
Questionado sobre a eventualidade de o PS chegar a alguma espécie de entendimento apenas com um dos outros parceiros à esquerda, o BE, por exemplo, Jerónimo de Sousa desvalorizou tal hipótese.
“Não fragiliza [a posição do PCP] porque estivemos sempre, de forma franca e franca, com o PS. O PS não tem nenhuma ilusão em relação ao posicionamento do PCP. Sempre lidámos com franqueza e frontalidade. Sempre tivemos um papel decisivo na construção dos avanços, muitos deles com a marca do PCP. O PS sabe, desde a primeira hora, em que reunimos depois das eleições de 2015, independentemente do esforço que fizemos para viabilizar o Governo e vários orçamentos, sempre soube que mantínhamos a nossa independência. Não há aqui nenhuma arca encoirada. O PS sabe ao que vem”, disse.
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