À margem do debate promovido pelo PCP intitulado “Capitalismo, soberania, desenvolvimento tecnológico: novas e velhas questões”, Jerónimo de Sousa foi questionado pelos jornalistas sobre a entrevista dada hoje pelo primeiro-ministro à Rádio Renascença, na qual António Costa disse ser sua vontade renovar os acordos de Governo com o BE, PCP e PEV numa próxima legislatura, independentemente de o PS ter ou não maioria absoluta no parlamento.

“Assumimos uma posição conjunta que define o grau de compromisso e o grau de convergência, mas simultaneamente toda a liberdade e toda a autonomia para que o PCP mantenha o seu posicionamento crítico em relação a questões centrais, sempre sabendo honrar os compromissos e nunca esquecendo que o principal é com os trabalhadores e com o povo. Mas não podendo subestimar esses aspetos críticos e, por isso, ninguém faça contas apressadas”, respondeu o líder comunista.

Jerónimo de Sousa começou por “reafirmar, até porque são conhecidas, as muitas e significativas divergências em relação ao programa do PS”.

“Do nosso ponto de vista, a questão que se coloca é da necessidade de enfrentar os problemas nacionais e encontrar uma política alternativa que nós caracterizamos como uma política patriótica e de esquerda que se liberta da submissão da União Europeia e do capital monopolista. Essa é a questão pela qual nos vamos bater no próximo futuro, aliada à defesa dos interesses dos trabalhadores”, anteviu.

Questionado sobre se faz sentido, com maioria absoluta, o PS precisar do PCP e do BE, o secretário-geral comunista considerou que “isso são palpites, meras afirmações” e realçou que para os comunistas “nada está adquirido, nada está perdido”.

Sobre se estes acordos de apoio parlamentar ao Governo têm sido vantajosos para o PCP, Jerónimo de Sousa considerou que os avanços alcançados são de valorizar, concretamente no plano dos salários, das reformas, das pensões, da carga fiscal, dos direitos de proteção social.

“Existem outros problemas e divergências designadamente em relação à contratação coletiva, caducidade dos contratos, alterações à legislação laboral e, mesmo no caso recente do Novo Banco, naturalmente nós temos diferenças significativas o que não invalida nem retira esse conteúdo positivo dos avanços que se verificaram neste tempo da solução política atual”, referiu.

Numa entrevista à Rádio Renascença, em que elogiou o contributo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para a estabilidade política no país, António Costa foi questionado sobre se tem “o sonho” de conseguir uma maioria absoluta para o PS nas próximas eleições legislativas.

“Não tenho sonhos desses”, respondeu imediatamente, começando por alegar que o voto cabe aos cidadãos e que não espera que haja eleições antes do final da legislatura.

“Para mim, uma coisa é certa: Esta solução governativa é uma boa solução com maioria absoluta ou sem maioria absoluta. Se, no final da legislatura, houver eleições e houver maioria absoluta, da minha parte entendo que, havendo disponibilidade do Bloco de Esquerda, do PCP e do PEV para renovarem este acordo, seria útil que isso acontecesse”, sustentou o líder dos socialistas.

JF (PMF) // ARA

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