“O calor é uma das nossas principais preocupações”, disse à agência Lusa a médica Ana Catarina Pereira, responsável pela Urgência Geral Polivalente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, que integra, entre outros hospitais, o São José.
A preocupação é maior devido à falta de sombras no Parque Tejo, localizado na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures, e onde serão realizados dois momentos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), entre os quais a Missa de Envio, que será celebrada pelo Papa Francisco e marca o fim do evento.
“Mas estamos preparados para esse tipo de eventualidades, até porque faz parte do plano de contingência sazonal de verão a atuação nesse tipo de situações”, disse a médica, apelando às pessoas para se hidratarem, protegerem do sol e movimentarem-se com alguma moderação.
Esta preocupação também foi manifestada pelo enfermeiro-diretor do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), afirmando que o Hospital Santa Maria se preparou para um aumento da afluência na ordem dos 40, 50%, pensando nas situações mais prováveis desta altura do ano, como as insolações, as desidratações, problemas gastrointestinais, mas também o “pequeno trauma” devido às deslocações.
Os traumatismos que possam resultar da mobilidade entre eventos da JMJ, que decorre entre os dias 01 e 06 de agosto e onde são esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas em Lisboa, também “preocupam muito” os profissionais de saúde.
“Como sabemos, vai haver algumas estações de metro que vão estar encerradas, provavelmente a nossa rede de transportes públicos não terá também capacidade para dar resposta a este aumento de pessoas e, sendo uma faixa etária jovem, haverá muita mobilidade de trotinetes”, disse Ana Catarina Pereira, admitindo que essa forma de mobilidade “preocupa muito” os profissionais de saúde, por estar associada a acidentes e traumatismos.
A médica disse esperar que o funcionamento em rede dos hospitais de Lisboa e da periferia funcione: “Nesta fase é mesmo preciso que funcione, porque somos um hospital de fim de linha para doente grave e se tivermos a rede falhar, acabamos por ser inundados com situações que não são urgentes e que vão causar entropia na gestão dos nossos recursos. Mas como costumamos dizer, estamos cá para receber doentes e seguramente não ficará ninguém por ver”.
Para José Alexandre Abrantes, seria importante evitar o uso de trotinetes e bicicletas porque, argumentou, “um milhão e tal de pessoas a andar nesses meios vai ser um risco para elas e para as outras pessoas porque Lisboa não vai parar”.
“Não são só os peregrinos que vão estar em Lisboa, há pessoas que residem em Lisboa”, muitos já com uma certa idade e que “não se conseguem desviar rapidamente, já não veem bem, já não ouvem”, lembrou, recomendando que as pessoas se desloquem “com calma, em segurança, sem correrem risco e sem pôr ninguém em risco”.
Em relação aos eventos, o enfermeiro-chefe aconselhou aos peregrinos “os cuidados normais para esta altura do ano”, como não estarem muitas horas ao sol, alimentarem-se bem, terem sempre água, chapéu por causa do sol, procurarem zonas de sombra e evitarem estar 10, 12, 15 horas ao sol sem comer e sem beber.
Observou ainda que, nos locais dos eventos, haverá, além dos hospitais de campanha, vários postos de voluntários para dar água aos peregrinos, molhá-los, e prestar os primeiros cuidados como acontece, por exemplo, na peregrinação a Fátima.
O diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, que integra os hospitais São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz, alertou também para as consequências das temperaturas elevadas, afirmando que têm de ter “uma resposta célere” e muitas vezes em ambiente de cuidados intensivos.
O especialista adiantou que o CHLO tem quatro camas reservadas em cuidados intensivos para acautelar estas e outras patologias de gravidade que possam acontecer durante a JMJ, observando que o centro hospitalar está “perfeitamente preparado” para dar resposta aos casos mais graves.
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