João Lousada é astronauta análogo e diretor de voo do Columbus, o módulo europeu da Estação Espacial Internacional. Além de coordenar o planeamento e operações como a segurança dos astronautas, tem participado em missões que simulam na Terra o ambiente de Marte ou da Lua.

Licenciado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico, acredita que o primeiro homem a pisar Marte estará agora entre a primária e o secundário, talvez até seja aluno de uma das escolas onde já deu palestras.

Nesta conversa, João Lousada fala dos desafios e dos perigos de Marte, da próxima viagem à Lua, do número excessivo de satélites na órbita terrestre, do risco de colisão e da falta de legislação. Mas também de negócios como o turismo espacial ou a mineração de asteróides, que deixaram de ser ficção científica. E desconstrói alguns mitos criados por Hollywood.

O que é isto de ser um astronauta análogo?

Análogo vem de analogia. Um astronauta análogo é selecionado e treinado para fazer missões análogas, ou seja, missões na Terra em ambientes semelhantes aos que queremos explorar no Espaço. Tenho-me especializado em missões análogas a Marte, mas também é possível fazer missões análogas à Lua - por exemplo, os astronautas do Programa Apollo fizeram muitas missões na Islândia, onde testaram a tecnologia que iriam usar na Lua. O conceito análogo não é novo, mas em relação a Marte é algo relativamente recente.

Onde na Terra se fazem essas missões, onde é que o ambiente é semelhante ao que se quer explorar?

Já fiz quatro missões diferentes. A primeira no Glaciar de Kaunertal, na Áustria, a três mil metros de altitude, um ambiente entre gelo e rocha, semelhante ao que existe no Polo Norte e no Polo Sul de Marte (temos também estes calotes polares em Marte, que seria interessante explorar).

A segunda missão foi na Polónia, uma organização diferente, duas semanas e mais contida, numa antiga base aérea, num hangar onde se  simula o ambiente da Lua e de Marte.

A terceira expedição foi outra vez com o Fórum Espacial Austríaco, com quem tenho trabalhado mais, em Omã, no deserto de Dhofar. Nesta missão o objetivo principal era procurar antigos leitos de rio, porque sabemos que em Marte existe este tipo de ambiente.

A quarta e mais recente missão foi no deserto de Neguev, em Israel, e teve também uma componente mais psicológica, cerca de cinco semanas isolados do mundo exterior.

"As comunicações com Marte, devido à distância, demoram entre oito e vinte minutos em cada direção"

A que perguntas procuram responder nestas missões?

Uma das razões para explorar Marte é responder à pergunta se surgiu vida em Marte. Sabemos que a água existia no estado líquido há milhões de anos e é interessante explorar locais onde costumava fluir, porque sabemos que a vida, pelo menos na Terra, está associada à água.

No caso da missão em Omã, por exemplo, um dos objetivos era perceber que tipo de experiências podemos fazer para encontrar vestígios de vida também na Terra, para tentar replicar em Marte.

Em Israel a missão tinha sobretudo dois objetivos. Uma componente psicológica, onde procurámos estar isolados, com uma tripulação pequena, sem contato com o exterior. Porque as comunicações com Marte, devido à distância, demoram entre oito e vinte minutos em cada direção, mesmo à velocidade da luz. Fazer uma pergunta ao nosso centro de controlo demora muito tempo, temos de planear as coisas de maneira diferente.

A parte psicológica é afetada, é interessante ver como a equipa se comporta ao longo da missão, como resolve os problemas que vão surgindo, como a equipa se relaciona. Se pensarmos numa missão a Marte, são cerca de dois anos, ida e volta, e um conflito entre a equipa pode ter consequências muito graves.

créditos: © Florian Voggeneder, All Rights Reserved

Explorar in loco também deve ter muitos desafios, nomeadamente técnicos.

Outra pergunta à qual tentámos responder nesta missão foi: "Aterrámos. E agora?" Começámos com um mapeamento aéreo com drones que nos deram as primeiras indicações do ambiente que nos rodeia e conseguimos identificar grandes estruturas geológicas, como antigos leitos de rio. No fundo, foi identificar zonas cientificamente interessantes.

Depois passámos para uma exploração com rovers, que conseguimos operar dentro do habitat, sem sequer ter de sair da nave. Já temos rovers na superfície de Marte, mas o problema é o tal atraso na comunicação. Controlar um rover é como tentar conduzir um carro com o tal atraso de oito a vinte minutos, ou seja, carregamos no acelerador e temos de parar pouco depois porque não sabemos até onde foi, é preciso esperar a resposta a esse comando.

Conseguimos explorar muito, temos excelentes equipas a trabalhar nos rovers que estão em Marte, mas tendo as pessoas no local a controlar os rovers, mesmo dentro do habitat, permite-nos explorar muito mais rapidamente e com mais eficácia.

Com as zonas mais interessantes identificadas, podemos fazer aquilo a que chamamos atividades extra veículares, ou seja, sair do habitat com o fato espacial [que pesa 50 Kg e demora mais de uma hora a vestir] para, aí sim, fazer testes mais específicos e, então, tentar responder à pergunta se surgiu vida em Marte e se podemos encontrar vestígios dela.

Acredita que será possível viver em Marte?

Sim, será apenas uma questão de tempo. Não será inicialmente, primeiro teremos apenas um conceito de ir e voltar, como as missões Apollo [à Lua]. Podemos aprender muito sobre Marte, mas não temos ainda a tecnologia e os sistemas que nos permitem estar lá muito tempo.

"Ao longo da sua carreira um astronauta pode realizar em média três missões, a partir daí a exposição à radiação é um risco muito alto"

Há também questões por resolver, como a dos elevados níveis de radiação, não?

A radiação é um dos riscos principais. Não é o único, mas é um dos maiores. Fora da esfera magnética terrestre já estamos muito expostos à radiação solar. Na Terra, principalmente na superfície, temos não só uma esfera magnética, como também a atmosfera - a camada de ozono permite-nos filtrar a radiação ultravioleta, por exemplo.

À medida que nos afastamos mais e mais desta esfera magnética de proteção estamos mais expostos à radiação, que tem um efeito cumulativo, quanto mais tempo estamos expostos, maior o risco. A probabilidade de ter cancro, por exemplo, é mais elevada.

Os astronautas que estão a Estação Espacial Internacional, na órbita terrestre, têm todos um dosímetro pessoal para medir a radiação a que estão expostos ao longo da missão. E há um limite a partir do qual não é recomendado um astronauta voltar a voar.

O limite definido representa um aumento de 5% do risco de cancro, valor ainda considerado aceitável. O que significa cerca de três missões de seis meses à Estação Espacial Internacional, dependendo, claro, do ciclo solar. Portanto, ao longo da sua carreira um astronauta pode realizar em média três missões, a partir daí a exposição à radiação é um risco muito alto.

As missões Apollo, por exemplo, foram mais curtas, cerca de uma semana, mas os astronautas estiveram sujeitos a mais radiação, por estarem mais longe da esfera magnética terrestre. Uma missão a Marte teria uma duração de cerca de dois anos, ida e volta, e uma maior exposição à radiação. É preciso resolver esse problema, ter proteção que permita manter esse risco relativamente baixo.

Disse que a radiação é um dos maiores risco, mas não é o único. Quais são os outros?

A comunicação é outro dos problemas, porque não tendo esse contato direto, uma coisa que talvez seja fácil de resolver com os especialistas certos rapidamente pode evoluir para um problema muito mais grave.

E temos o sistema de suporte de vida, que precisa de produzir oxigénio, remover dióxido de carbono, que hoje não é 100% eficaz. Na Estação Espacial Internacional temos de ir reabastecendo certos componentes, certos equipamentos, e se algum desses sistemas falhar pode ter consequências bastante graves.

Outro fator é a comida. Se pensarmos alimentos para dois anos, para uma tripulação de cinco ou seis pessoas, torna-se difícil levar tudo desde o início, desde logo pelo peso. O que torna a missão mais complexa, temos de pensar em sistemas que possam produzir comida: estufas, impressão 3D de alimentos, uma tecnologia que começa a existir, mas que não está completamente testada, não é infalível.

Ouvi-o dizer numa palestra que a próxima pessoa a pisar Marte podia estar na assistência. Acredita que está para breve?

Sim. Em termos de tecnologia penso que em dez a vinte anos conseguiremos resolver estes problemas. Depois é preciso haver um interesse político em prosseguir estas missões. Mas as questões técnicas são resolúveis e estamos a testar isso com as missões análogas.

Acredito que dentro de vinte anos teremos as primeiras missões tripuladas a Marte. Se fizermos as contas, se um astronauta tiver 30 a 35 anos por altura da missão, isso significa que esse astronauta já nasceu e estará agora na escola primária ou no secundário. É interessante para mim, quando falo com alunos, ter esta perspetiva, de que talvez a primeira pessoa a caminhar em Marte esteja ali na plateia.

"Para mim continua a ser impressionante ver o que a NASA consegue alcançar com menos de 1% do orçamento dos Estado Unidos"

Falou na vontade política. Estas missões custam muito dinheiro e temos nesta altura várias guerras, nomeadamente Rússia-Ucrânia e Israel-Palestina, que consomem grandes recursos financeiros. Isso pode desviar financiamentos?

É possível que sim. As decisões políticas estabelecem em muitos casos a maneira como trabalhamos ou o framework que temos para trabalhar. E por vezes sim, há uma redução. Mas também é certo que ao longo das operações da Estação Espacial Internacional os custos vão reduzindo, vamos fincando mais eficazes e conseguimos fazer os mesmos programas cada vez com menos dinheiro.

No entanto, acho que é interessante perceber que a NASA, que continua a ser a maior agência espacial, com foguetões enormes e grandes missões a todo o Sistema Solar, gasta menos de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos. Comparado com o orçamento militar, é completamente desproporcional. Para mim continua a ser impressionante ver o que é possível alcançar com menos de 1% do orçamento.

Uma coisa que me impressiona é olhar para a Estação Espacial Internacional e ver que há ali muitas nações envolvidas. Parece uma realidade paralela, como os conflitos da Terra não se refletissem no Espaço. Até porque o primeiro módulo é russo, não é?

Sim, o primeiro módulo é russo, o segundo dos Estados Unidos, foram os dois parceiros que começaram a Estação Espacial Internacional. A Agência Espacial Europeia (ESA) veio um pouco mais tarde, como a agência espacial do Japão (Jaxa) e a agência espacial do Canadá (CSA). São estas as cinco agências espaciais que hoje fazem parte da Estação Espacial Internacional.

O que me continua a fascinar e me motiva muito neste projeto é que a ciência se tem mantido à parte dos conflitos que existem Terra. É mesmo como um mundo à parte, que mantém esse ideal de colaborar internacionalmente, de cada parceiro contribuir com as suas especialidades e em conjunto conseguirmos alcançar grandes objetivos que sozinhos seria impossível. Para mim isso foi-se mantendo verdade durante todos estes anos e continua a ser verdade apesar dos conflitos que vão surgindo e desaparecendo na Terra.

Há alguma informação que os países possam esconder ou a informação é partilhada sem segredos?

As missões são principalmente científicas, pelo menos as missões a Marte. E a grande maioria das missões no Sistema Solar são missões com um objetivo científico e a maneira de evoluirmos e termos progresso científico é através da partilha de dados. Tem sido assim.

À medida que as descobertas são feitas os cientistas publicam papers, descrevem a experiência, que depois é replicada noutro país, comprovada ou não - pode-se demonstrar que afinal não é sempre assim. É assim que a comunidade científica em conjunto vai evoluindo e é assim que conseguimos compreender melhor os fenómenos científicos.

É possível que, existindo interesses estratégicos de cada país, haja segredos. Talvez um campo onde isso está mais presente possa ser a indústria da mineração de asteróides.

"O que me continua a fascinar e me motiva muito neste projeto é que a ciência se tem mantido à parte dos conflitos que existem Terra"

Os asteróides podem ser vistos como minas espaciais, é isso?

Na Terra os metais mais pesados, que são normalmente os mais preciosos, têm tendência a ir na direção do centro, devido à força da gravidade. Por isso é mais difícil obter esses materiais. Os asteróides são interessantes porque, sendo mais pequenos, não têm esse problema e, teoricamente, é mais fácil chegar a esses metais.

Não temos ainda tecnologia que nos permita fazer mineração mais barata, mas já existem muitos planos, muitas empresas começam a pensar na possibilidade de ir ao Espaço para obter nos asteróides esses recursos de uma forma que na Terra não é tão eficaz.

A pergunta é se será mais fácil ir ao Espaço buscar esses recursos. Hoje não, mas que com a evolução da tecnologia acredito que será apenas uma questão de tempo até podermos utilizar de forma eficaz estes recursos espaciais, seja no Espaço, para construir novas infra-estruturas, novos sistemas, seja para trazer para Terra para utilizar nas diferentes indústrias.

Também há o negócio do turismo espacial, sem grandes segredos, mas caro - uma viagem pode custar mais de 400 mil euros.

O turismo espacial é uma evolução natural. Se pensarmos na aviação, que é uma boa comparação, também começámos com menos acesso, como se voar fosse um luxo. Estamos nessa fase inicial, viajar para o Espaço ainda é um luxo, mas à medida que os sistemas vão evoluindo, à medida que tudo vai ficando mais eficaz, haverá mais e mais acesso, será apenas uma questão de tempo até ser global.

E isso trará vantagens, como aconteceu na aviação, no sentido de permitir concorrência, desenvolvimentos de sistemas, melhores naves espaciais, mais eficazes, capazes de levar mais gente e gastar menos combustível. Fazer essas descobertas permite-nos continuar a evoluir. Não sou especialista, mas, por exemplo, a Blue Origin já utiliza um combustível mais sustentável.

Falamos em morar no Espaço, mas desde 2000 que existe gente a viver no Espaço em permanência. Quantas pessoas tem a tripulação da Estação Espacial Internacional?

A primeira tripulação foi enviada em 2000, na altura eram três astronautas, dois russos e um americano. Desde esse momento mantemos presença permanente. Vamos trocando as equipas, claro, não é sempre a mesma pessoa que lá está. As missões são de cerca de seis meses, às vezes mais longas, outras mais curtas.

Hoje temos sete astronautas a operar a Estação Espacial Internacional: um dinamarquês, o nosso astronauta europeu, Andreas Mogensen, que é também o comandante da estação espacial, um japonês, três russos e dois astronautas dos Estados Unidos. É uma tripulação bastante internacional e tem sido sempre assim. O que mostra que diferentes culturas conseguem trabalhar em conjunto e alcançar objetivos.

"É possível que, existindo interesses estratégicos de cada país, haja segredos. Talvez um campo onde isso está mais presente possa ser a indústria da mineração de asteróides"

E o seu trabalho, em que consiste exatamente?

Na Estação Espacial Internacional sou diretor de voo, o que significa que estou no chão, na sala de controlo, a coordenar as equipas que estão no chão a controlar os sistemas que estão na estação espacial. Por exemplo, ativar as experiências, controlar a temperatura, tudo o que facilita o trabalho dos astronautas, como fazer o planeamento e saber onde está cada equipamento ou até uma chave de fendas.

Como diretor de voo tenho a responsabilidade de saber um bocadinho de todas as áreas, mas também confiar nos diferentes especialistas que temos para ir aos detalhes e dar a informação mais especializada. No fundo, orquestrar esta equipa para alcançar os objetivos da missão, tendo em conta, acima de tudo, a segurança dos astronautas e a segurança da estação espacial, porque é sempre preciso ter em conta que o Espaço é um ambiente perigoso.

Apesar de termos anos e anos de operações, a segurança continua a estar muito presente no dia-a-dia, fazer as coisas bem pensadas, com planos B, ou seja, planear à frente e conhecer os procedimentos a seguir se alguma coisa correr mal, como um fogo ou o impacto de um meteorito.

Muito do nosso treino passa por fazer simulações, testar. E as simulações são interessantes porque é quase um turno de oito horas onde tudo vai correr mal, onde temos todos os problemas possíveis, exatamente para estarmos imediatamente aptos caso alguma coisa corra mal na estação espacial.

créditos: © 2017 Florian Voggeneder

O que é que já aconteceu de pior, que problemas graves ou sustos já apanharam?

Já tivemos uns quantos. Por exemplo, tivemos alguns avisos de fogo. Acabaram por ser falsos alarmes, mas todas as equipas estão treinadas para reagir imediatamente tal como se fosse um incêndio real, tanto os astronautas a bordo como nós no chão.

Parte da reação passa por os astronautas recolherem à sua nave espacial, caso tenham de evacuar a estação espacial. A partir do momento em que o acesso à nave espacial está garantido começam a tratar o problema connosco desde o chão e vão avançando pela estação espacial à procura do fogo ou do problema e nós também temos indicações dos medidores de fumo, que medem o monóxido de carbono e todos os gases característicos de combustão.

No caso foi possível verificar que eram falsos avisos, principalmente porque os detetores de fumo são ativados por partículas de pó que estão no momento errado no sítio errado. Os detetores de fumo funcionam através de um laser, que se for interrompido aciona o alarme.

Também já tivemos problemas mais graves, como o risco de colisão com pequenos meteoritos. Não tivemos de evacuar a estação espacial, mas tivemos que posicionar a tripulação dentro das suas naves espaciais pronta a sair porque um satélite se desintegrou em várias peças na órbita terrestre e em direta possibilidade de colisão com a Estação Espacial Internacional. Aconteceu há cerca de dois anos.

Há mais do que uma nave espacial, nesse plano de evacuação a equipa divide-se ou vem toda junta?

Atualmente temos dois sistemas, duas naves espaciais diferentes: a Soyuz, da Rússia, uma nave espacial que tem vindo a ser operada há bastantes anos, com bastante história, um sistema fiável, e a Dragon, dos EUA, da SpaceX, que é mais moderna, começou a voar há cerca de dois ou três anos com tripulação.

No fundo, são sistemas semelhantes: uma cápsula que reentra com um pára-quedas. A diferença é que a Soyuz tem tendência para aterrar no deserto do Cazaquistão, está feita para aterrar em terra, enquanto a Dragon aterra na água, normalmente no Oceano Atlântico. Outra diferença é que a Soyuz tem capacidade para três pessoas, enquanto a Dragon leva quatro, daí termos os sete astronautas na estação. Estas naves espaciais ficam na estação espacial durante toda a missão, ou seja, os astronautas vão e vêm na mesma nave espacial (embora possa existir alguma troca).

Se houver uma emergência médica, em que um dos astronautas precise de assistência imediata, volta toda a equipa, não deixamos parte da tripulação lá em cima sem uma nave espacial, precisamente porque se alguma coisa correr mal, temos de ter essa solução.

"Já tivemos uns quantos sustos. Por exemplo, alguns avisos de fogo ou problemas mais graves, como o risco de colisão com pequenos meteoritos. Aconteceu há dois anos"

E nunca haveria uma Sandra Bullock a tentar chegar à outra nave espacial, como no filme Gravidade?

Hollywood tenta sempre contar a sua história, tem de fazer um atalho aqui ou ali [ri].

A propósito, há algum disparate recorrente nesse filmes, algum mito que possa desfazer?

Eu diria que o mais recorrente que vejo será, talvez, o do perfil dos astronautas. Os conflitos ou dilemas, que para a história são muitas vezes necessários, são impensáveis. E se comparo o perfil dos astronautas dos filmes com o dos astronautas de verdade, a maior parte não se enquadra.

Trabalho com astronautas no meu dia-a-dia, já conheci muitos, e é completamente diferente, são profissionais, trabalham em equipa e os conflitos que surgem nos filmes são completamente disparatados, uma equipa trabalharia sempre em conjunto, nunca tomaria decisões autonomamente. Essa é a maior discrepância que encontro, mas percebo que sem ela não haveria história para contar.

A propósito de mitos - e falo nisto porque talvez tenha suscitado dúvidas em algumas pessoas e continua a circular na Internet: numa entrevista, o jornalista José Gomes Ferreira disse que as cores do planeta Marte são alteradas e que fotografias e os vídeos de astrónomos amadores que mostram Marte com zonas azuis, verdes e brancas, parecidas com Terra. Quer comentar?

No que respeita às cores, qualquer instrumento ou qualquer câmara mede num certo comprimento de onda, que pode ou não ser visível, como o infravermelho ou o ultravioleta, dependendo do que queremos explorar. Quase sempre é preciso fazer um ajuste para tornar esses dados visíveis ao olho humano. Daí existir sempre alguma modificação para conseguirmos tirar sentido dos dados.

Mas Marte não tem a mesma cor da Terra. Tem, de facto, o tom vermelho, e isso tem a ver com a exposição à radiação. No fundo, é ferrugem, ou seja, é oxidação da camada que está mais à superfície. Muitos dos rovers que temos na superfície de Marte têm uma pequena broca, que consegue fazer um buraco no chão. E é interessante ver que por baixo, sim, existe terra. Mas aquele tom vermelho está na superfície, portanto, não é como se fosse a Terra.

"Se comparo o perfil dos astronautas dos filmes com o dos astronautas de verdade, a maior parte não se enquadra"

Lembro-me de ver o vaivém espacial Challenger, construído pela NASA, explodir em direto, segundos depois do lançamento, em 1986. Morreram sete astronautas, nunca vou esquecer. Esses riscos estão hoje reduzidos?

Estão. Se compararmos o registo das naves que utilizamos hoje, temos um risco muito menor. Tivemos já alguns problemas num lançamento, e já tivemos de abortar lançamentos, mas em termos de fatalidades tem diminuído bastante.

Não significa que o Espaço seja menos perigoso, porque continua a ser, o ser humano continua a não ser desenvolvido para viver no Espaço, qualquer falha nos sistemas pode ter consequências muito graves. A diferença é que temos vindo a melhorar os sistemas, temos vindo conseguir obter um sistema muito mais robusto. Mas os riscos continuam lá.

No Espaço, tudo é fatal para nós. Temos ausência de atmosfera, não conseguimos respirar, temos temperaturas extremas, tanto nos podem congelar imediatamente como queimar, dependendo de estarmos expostos ao sol ou na sombra, temos radiação (com os efeitos de que já falámos). Portanto, tudo no Espaço nos pode matar. São os nossos equipamentos, a nossa tecnologia que nos permitem sobreviver, explorar e trabalhar nestes ambientes.

Os astronautas têm de ter uma preparação física especial?

Sim, claramente. Por um lado as forças de lançamento são bastante elevadas, cerca de 4 a 5 g durante logos períodos de tempo, vários minutos. Podemos comparar com a aviação comercial ou jatos militares, que conseguem alcançar maior força-g (8 a 9 g), mas não é uma aceleração prolongada, como acontece no lançamento de uma nave.

Depois temos os efeitos de estar no Espaço. Retirando a gravidade, deixamos de utilizar as pernas, perdemos imediatamente massa muscular, os ossos vão ficando mais fracos. Até certo ponto, conseguimos contrariar isso com exercício físico, é obrigatório os astronautas fazerem cerca de duas horas de exercício por dia, para compensar a perda de músculo.

O astronautas estão habituados a zero g. Quando regressam à Terra, têm de fazer reabilitação, uma fisioterapia necessária quase que para reaprender a andar, para desenvolver esses músculos. Porque na terra, mesmo sem pensar, sentados ou a andar, estamos sempre a usar músculos: nos abdominais, nas costas, nas pernas, nos tornozelos. E no Espaço esses músculos não são utilizados, só os grandes músculos são treinados, os pequenos perdem bastante força.

A esperança de vida de um astronauta é inferior à média?

É uma boa pergunta. Não estou a par, mas nunca ouvi dizer que fosse inferior. Mas também é difícil medir, porque normalmente são pessoas saudáveis que são selecionadas, em princípio também teriam maior longevidade que a generalidade da população. Não sei se alguma vez foi feito algum estudo para tentar responder a essa pergunta. Foram feitos estudos em relação à exposição à radiação e ao cancro, e está provado que há maior risco de desenvolvimento de cancro.

"Marte não tem a mesma cor da Terra. Tem, de facto, o tom vermelho, e isso tem a ver com a exposição à radiação"

A NASA e a ESA estão a preparar uma nova expedição à Lua. Qual a importância desta missão?

A Lua tem diferentes interesses. O primeiro é que a Lua não está exposta à erosão. Na Terra, se tivermos o impacto de um meteorito, ao longo dos anos essa cratera vai-se deteriorando por causa do vento, da chuva, essa história vai-se perdendo. Temos também sistemas geológicos ativos que vão apagando a história terrestre, enquanto a Lua não tem atividade sísmica, não tem atividade geológica que leve à renovação da sua superfície. A Lua, de certa forma, é como se fosse um livro da história da Terra, ou seja, um livro sobre aquela zona do Sistema Solar, que na Terra foi desaparecendo ao longo de milhões de anos e na Lua continua presente.

Conseguimos aprender na Lua muito de como foi a história da Terra. Tivemos períodos de grandes impactos de meteoritos, por exemplo, que na Lua ainda conseguimos identificar, saber quando aconteceram e depois relacionar isso na Terra com os fósseis que vamos encontrando, com a história que vamos construindo.

Ir à Lua também tem interesse do ponto de vista da exploração. Sabemos que no Polo Note e no Polo Sul existem crateras que estão permanentemente na sombra. Essa partes são interessantes porque têm aquilo que em inglês chamamos volatiles [substâncias refratárias], que são basicamente uma mistura entre gelo e rocha, da qual conseguimos extrair recursos interessantes, que nos permitem fazer combustíveis, por exemplo. Que podem ser usados para produzir energia, mas também para explorar a superfície lunar e mais longe no Sistema Solar.

A superfície da Lua, principalmente a face exterior à da Terra (o outro lado da Lua) tem a vantagem, por um lado, de não ter atmosfera e estar num ambiente sem poluição de ondas rádio de todos os sistemas que temos na Terra, da aviação às telecomunicações. Na Lua conseguimos uma observação mais limpa, mais precisa, que permite observar fenómenos dos universo com mais detalhe e aprender mais sobre estrelas, nébulas e galáxias, conhecer o ambiente na Via Látea e no Sistema Solar.

Se olharmos para o Espaço, está já muito povoado de satélites?

A órbita terrestre está cada vez mais povoada de satélites e certas zonas da órbita terrestre, por terem mais interesse, estão já bastante disputadas. Quando fazemos uma missão nessa órbita é necessário ter em conta o fim de vida do satélite e removê-lo, para manter esse recurso.

Também na órbita mais baixa terrestre temos cada vez mais satélites e temos constelações com cada vez maior número de satélites, o que acaba por congestionar bastante a órbita terrestre. Vemos isso na Estação Espacial Internacional, temos um aumento de perigo de colisão. Conseguimos calcular as órbitas dos satélites e prever com boa precisão se existe ou não risco de impacto, mas a partir do momento em que o risco é significativo temos de manobrar a estação para evitar esse detrito ou satélite.

O que se pode fazer para evitar esse espaço congestionado?

A questão não é incontrolável, mas não tem sido controlada, o que é diferente. Tem principalmente a ver com legislação. Ou seja, hoje não existe uma lei que tente prever isso. Existem algumas recomendações, tanto da NASA como da Agência Espacial Europeia - e a Europa tem estado bastante presente nesse esforço de tentar manter a órbita terrestre como recurso sustentável.

O que evitaria este problema era que, perto do final da sua missão, quando já existe pouco combustível no satélite, esse resto de combustível fosse usado para retirar o satélite de órbita ou para o fazer reentrar na atmosfera. Mas, do ponto de vista comercial, esse pouco combustível permite estender a vida do satélite por mais dois ou três anos. Se não existir uma lei, a empresa vai preferir manter o satélite em órbita para o rentabilizar.

"É obrigatório os astronautas fazerem cerca de duas horas de exercício por dia, para compensar a perda de músculo"

Já estamos a poluir o Espaço, portanto. Como é que isso afeta a Terra?

Temos muitos satélites na órbita terrestre que já não funcionam, ou porque acabaram a sua missão, ou porque não têm mais combustível ou porque tiveram uma falha no sistema e já não são controlados.

Ao longo dos anos existe sim um atrito que afeta a órbita, porque existem sempre partículas de atmosfera que, pouco a pouco, vão fazendo a órbita decair. Mas estamos a falar de décadas ou até séculos até esses satélites, numa órbita de 400 ou 500 quilómetros de altitude, voltarem a reentrar na atmosfera. Vamos tendo mais e mais satélites e não fazemos esse esforço de os fazer reentrar na Terra.

Esses satélites podem cair em qualquer lugar na Terra?

Não. Esses satélites são pequenos e vão queimar ao reentrar na atmosfera, não existe esses risco. É como se fosse um meteorito, que com a velocidade e as elevadas temperaturas ao entrar na atmosfera acaba por se desfazer. E isso acontece todos os dias, temos centenas de meteoritos que muitas vezes não são visíveis a entrar na atmosfera: queimam e desintegram-se.

O problema são os satélites maiores e os materiais mais densos que podem sobreviver a essa reentrada. Por exemplo, na Estação Espacial Internacional estamos já a pensar no fim de vida, é algo que está planeado. Faremos uma reentrada programada numa zona da Terra que não tem população, uma zona específica no Oceano Pacífico - normalmente também é dado um aviso aos barcos para evitarem essa zona -, tudo feito com segurança.

Mas, lá está, tem de ser planeado. E se pensarmos em satélites maiores que não são controlados, pode haver uma reentrada descontrolada e pode ter consequências.

Que tempo de vida tem ainda a Estação Espacial Internacional?

É difícil dizer. Tem também a ver com o ciclo político dos diversos países e das diferentes agências espaciais, que não acontece em simultâneo. O que acontece normalmente é que os Estados Unidos elegem um presidente, que estabelece o programa da NASA. E só então a NASA confirma que vai continuar as operações mais xis tempo. Que à data de hoje é até 2030.

Atualmente, todas as agências espaciais se comprometeram até 2030, é o tempo de vida que temos definido. Mas o que tem acontecido é que pouco a pouco temos expandido esse tempo e acredito que será possível estender ainda até 2034 ou 2035. Mas é preciso ir vendo o estado dos sistemas a bordo, a degradação que acontece ao longo dos anos, a necessidade de substituir certas componentes vitais. O que é claro é que não teremos esta Estação Espacial Internacional para sempre.

"A Lua, de certa forma, é como se fosse um livro da história da Terra"

Falou nos pontos fortes de cada agência espacial. Qual o ponto forte da Agência Espacial Europeia e, concretamente, de Portugal - além do João, claro?

A Agência Espacial Europeia tem vários fortes na Estação Espacial Internacional. Contribuiu para bastante do equipamento que está agora a bordo e boa parte da estrutura dos módulos foi construída na Europa. Também do ponto de vista científico temos um background bastante forte, com estudantes cientistas que desenvolvem experiências que nos ajudam a aprender muito sobre diferentes matérias. No fundo, é esse o objetivo principal da estação espacial, ser uma plataforma para a ciência.

Portugal também tem excelentes talentos na áreas científicas. E tem enormes talentos do ponto de vista da engenharia. O que vejo é que nem sempre são bem aproveitados em Portugal, muitas vezes têm de sair do país. Mas começa a haver mais procura, a Agência Espacial Portuguesa, que é relativamente recente, tem feito esforços, com uma base de lançamento planeada nos Açores. Cada vez mais temos essa visão de utilizar o Espaço como um benefício para Portugal.

Se pensarmos, por exemplo, em todo o território marítimo de Portugal, o Espaço permite uma boa observação desse território e é uma enorme ajuda no planeamento.

Conhece Zita Martins, a astrobióloga que já trabalhou na NASA e é consultora do presidente da República para a Ciência, Inovação e Transição Digital?

Sim, conheço. Não pessoalmente, mas tenho acompanhado o percurso e é um excelente exemplo daquilo que estava a dizer. E pode responder à tal pergunta: será que a vida pode surgir fora da Terra? E como será essa vida? Conhecemos bem a vida na Terra, depende da água, mas pode existir outra completamente diferente, que depende de outros elementos. É super interessante. E a Zita Matins é um exemplo do excelente talento que temos em Portugal, capaz de tanta coisa na área científica e da engenharia.

Voltando um pouco atrás, à questão dos meteoritos, que tem dados pano para mangas no cinema. Qual a probabilidade de um grande meteorito chocar com a terra?

É difícil dizer. Conhecemos muitos dos asteróides à volta da Terra e acompanhamos e conseguimos prever as órbitas, mas de vez em quando acontece aparecer um asteróide que apenas identificamos à  passagem perto da Terra. Quanto mais pequenos, mais difíceis de detetar. Os que representam um perigo grande, em princípio, são mais fáceis de detetar e com maior antecedência.

Tivemos uma missão recente da NASA, chamada DART, que testou isso mesmo, como é que um asteróide pode impactar a órbita e como conseguimos defletir essa órbita para evitar o impacto.

"Temos cada vez mais satélites, o que acaba por congestionar a órbita terrestre. Vemos isso na Estação Espacial Internacional, com o aumento de perigo de colisão"

Para terminar gostava que falasse um pouco da sua infância, do que o levou a escolher este caminho, das pessoas que o inspiraram. Quando soube que era isto que queria?

Penso que, um pouco como todos, em miúdo sempre tive vontade de explorar, de andar pela floresta, tentar cruzar o rio, ver o que está do outro lado da ponte, do outro lado da colina. E isso, pelo menos em mim, manifestava-se mais ainda quando ia à terra dos meus avós. Sou de Lisboa e passar da cidade para uma pequena aldeia com grandes montanhas e rios - Bouçã, perto de Figueiró dos Vinhos -, era um desafio.

Relativamente ao Espaço, algo que me motivou mais ainda era ver à noite aquele céu estrelado, como milhares e milhares de estrelas, que em Lisboa não existe. Lembro-me de ficar impressionado e pensar que tipo planetas existiriam lá fora, se existia vida ou não, como seria essa vida, se conseguimos comunicar. E isso foi o que me levou a escolher Engenharia Aeroespacial, tentar dar um contributo nesta área. Foi um sonho que sempre tive.

E tive professores que me inspiraram, que me motivaram a explorar mais opções. Recordo-me de falar com professores de Física sobre a teoria da relatividade de Einestein e de fazer mais e mais perguntas, se calhar mais do que eles queriam. Mas tinham sempre paciência para falar comigo e ajudar-me a perceber mais sobre o universo.

Isso ajudou-me muito, por um lado a preparar-me bem para a universidade, porque é preciso ter uma boa base, depois já na universidade, onde me ajudaram a ter projetos fora das aulas.

Por exemplo?

Por exemplo, trabalhei na construção de satélites. Pôr a teoria em prática nestes projetos, para ver como as coisas de facto funcionam.

Depois, o meu primeiro trabalho foi na construção de satélites, trabalhei na construção do satélite Meteosat Third Generation, um satélite da ESA lançado no fim do ano passado. Foi bonito ver o lançamento de algo para o qual eu contribui já há alguns anos.

E depois esta oportunidade de me mudar para Munique e trabalhar num centro de controlo, foi mesmo um sonho cumprido de trabalhar no dia-a-dia da Estação Espacial Internacional. Comecei como engenheiro de sistemas, controlava, por exemplo, o suporte de vida, a temperatura, a energia do nosso módulo europeu, e depois de alguns anos passei para diretor de voo, que me deu acesso a estar em contacto com muito mais áreas. Uma experiência que tem sido extraordinária.

Qual a sua próxima missão?

Agora estou a preparar a missão Muninn, com o astronauta sueco Marcus Wandt. Vai ser a primeira missão europeia num operador comercial, ou seja, o Marcus vai voar numa missão da Axiom Space, uma empresa dos Estados Unidos que organiza estas missões à estação espacial.

É um conceito diferente e traz as suas dificuldades e desafios, como aprender a lidar com um parceiro comercial. Mas é interessante, porque acredito que no futuro esta órbita terrestre será mais operada por operadores comerciais, enquanto as agências, pouco a pouco, vão focar-se mais na Lua e no resto do Sistema Solar: Marte, Vénus, as luas de Júpiter e Saturno, que são também interessantes para responder à pergunta de haver vida, porque tem oceanos líquidos.

Esta área tem sido explorada principalmente por sondas. Aqui o desafio é sempre a distância, é fácil enviar um satélite a partir da Terra, muitas vezes pô-lo em modo dormente durante alguns anos - sete anos até chegar à sua missão -, e depois acordá-lo à chegada. Mas não conseguimos pôr um astronauta a dormir os tais sete anos. Se já Marte já é difícil...

Então, é interessante começar a fazer essa transição, e esta primeira missão é um pouco o primeiro passo nessa direção. É tudo ainda muito novo, novos parceiros, novas maneiras de trabalhar, e tem sido muito interessante preparar esta missão. O lançamento está previsto para 10 de Janeiro de 2024.

"Na Estação Espacial Internacional estamos já a pensar no fim de vida. Faremos uma reentrada programada numa zona da Terra que não tem população, no Oceano Pacífico"

Qual a sua visão mais futurística do Espaço?

A expansão será natural, vamos cada vez querer saber mais, explorar mais. É a história do ser humano. Fizemo-lo primeiro na Terra, onde ainda existem zonas por explorar, como o fundo dos oceanos. Mas falámos das missões na Lua e a ideia é ter uma estação espacial lunar, que permitirá ter uma presença mais permanente na Lua, uma presença mais sustentável.

Continuamos a fazer missões ida e volta, tal como foram as missões Apollo, tal como acho que serão as primeiras missões a Marte, mas passaremos a utilizar mais a Lua para o proveito da Terra. Podemos até ter um sistema de prevenção de asteróides para proteger a Terra, por exemplo. E a expansão continuará progressivamente, primeiro no Sistema Solar, depois, porque não, a nível Interestelar.

"Acredito que no futuro a órbita terrestre será mais operada por operadores comerciais, enquanto as agências, pouco a pouco, vão focar-se mais na Lua, Marte ou Vénus"

O que é importante, porque fala-se muito num evento catastrófico que pode acontecer na Terra e num plano B como alternativa, é lembrarmo-nos que uma alternativa não é bem uma solução. De todos os planetas que encontrámos até agora a Terra continua a ser o melhor, por isso, é importante pensar que é preciso cuidar deste planeta e que explorar o Espaço não significa deixar de cuidar da Terra.