O partido nasceu com uma vantagem sobre os outros: não foi preciso recolher as 7500 assinaturas obrigatórias, um processo difícil. Em vez disso, os seu líderes fizeram um "assalto" ao poder no PRD - o partido que tinha sido de Ramalho Eanes - já moribundo e prestes a ser extinto. Tudo na maior legalidade.
Vinte anos passados, o partido não conseguiu mais de 0,50% dos votos, menos de 30 mil eleitores. José Pinto Coelho, fundador e presidente da comissão política nacional, queixa-se de boicote e diz que, como está, é difícil fazer passar as ideias do PNR.
Interrompeu as férias em São Martinho do Porto, meteu-se na sua Kynco 125, "uma mota coreana que não presta para nada, mas é ótima para andar na cidade", e veio até Lisboa conversar com o SAPO24 e contar na primeira pessoa quem é José Pinto Coelho e o que defende, afinal, o Partido Nacional Renovador.
Nasceu em 1960, "um ano redondo", no Campo Grande, em Lisboa, na Clínica de São Miguel, e é o segundo de quatro irmãos, nascido numa família tradicional. Diz que "sempre fui uma criança muito tímida, acanhado, calado, introspetivo, sensível - ainda sou, não de lágrima fácil, mas de sentimento lamechas". Por "osmose", sempre bebeu uma educação de direita nacional. O avô, sabemos, era um homem do regime. Tinha 13 anos quando aconteceu o 25 de Abril e a família teve de se mudar para o Brasil, Rio de Janeiro, Botafogo nos primeiros meses, Flamengo no tempo seguinte.
Foi bom e mau estudante: em 1974 só não chumbou graças ao 25 de Abril - "eu preferia ter chumbado e que não houvesse 25 de Abril" - porque passou a ser possível passar de ano cortado a duas disciplinas. Quando chegou a altura de escolher um curso, foi "impelido" a ir para Direito, talvez rendido ao factos de ambos os avôs, materno e paterno, serem juristas. "Detestei e passado um ano e meio fui para o IADE, onde tirei o bacharel em Design". Desde então divide o seu tempo entre dar aulas e trabalhar com profissional liberal em design.
Por acaso, o logotipo do PNR não é da sua autoria, mas nunca é tarde: é que o partido vai mudar de nome. "A decisão foi tomada há pouco menos de um ano, mas não quisemos fazê-lo antes das eleições para não confundir as pessoas". A nova designação ainda está no segredo dos deuses, até porque uma das ideias é lançar um concurso nas redes sociais: "Sugira-nos um nome". E tudo será possível, desde que José Pinto Coelho não seja bloqueado no Facebook. Este ano já aconteceu sete vezes, a última a conta foi reativada ontem [dia anterior à entrevista].
Para o PNR esta é uma situação duplamente grave em véspera de eleições legislativas, uma vez que, devido ao baixo orçamento do partido, esta é uma das principais formas de campanha. "Agora tenho andado mais no Twitter, que é mais reativo, do que no Facebook, onde estou sempre a ser bloqueado. Ofendem-me até à última casa, mas divirto-me. À agressividade só não acho piada, mas não bloqueio ninguém nem apago nada, e há coisas com humor. Por causa da história do novo nome do partido, apareceu logo um: 'Ó presidente, porque é que não dá o nome de Partido Nacional Socialista do Trabalhador Português?' Teve graça."
Por que motivo é bloqueado na Facebook?
São denúncias. Sou bloqueado muitas vezes, é infernal. Há certas imagens e palavras que são consideradas discurso de ódio. Uma das vezes foi porque falei em sociopatas, a propósito de uns livros infantis. Para mim, quem está a dar cabo da sociedade é um sociopata. Pronto, bloqueado. E eu preciso realmente do Facebook para fazer campanha, mas o Facebook é insuportável.
Posso ter muitos defeitos, mas se há defeito que não tenho é gostar de homens. Podia ser, mas só gosto de mulheres.
Mas também foi bloqueado depois de uma conversa sobre se era ou não era homossexual...
Ah, isso foi conversa de um rapaz esquerdista, Jovem Conservador de Direita, que tem alguma piada quando não é ordinário - às vezes é ordinário e afino, sobretudo quando mexe com religião. Ele tem graça, e às vezes pica-se comigo. E um dia disse qualquer coisa sobre eu ser ou ter sido gay, fez uma montagem e, claro, pegou fogo. Depois o Polígrafo veio desmontar isso. Posso ter muitos defeitos, mas se há defeito que não tenho é gostar de homens. Podia ser, mas só gosto de mulheres.
Um homem gostar de outro é um defeito?
Olhe, coitados dos que nascem coxos, isso é um defeito. Uma pessoa que não vê, é um defeito... Atenção, tenho imensa consideração por quem tem esse sofrimento, porque há pessoas que nascem no corpo errado, mas toda a vida houve gays, e sejam muito felizes, mas é um defeito de produção.
A Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade do grupo de doenças há uns anos.
Por mim era outra coisa que acabava, a ONU [Organização das Nações Unidas, casa mãe], um organismo altamente nefasto.
Tem filhos. O que fazia se um deles lhe dissesse que era homossexual?
Tenho cinco filhos, que têm entre 20 e 33 anos. Não lhes vou dizer, como o Bolsonaro, que lhes dava dois pares de estalos para ficarem homens. Se tivesse um filho homossexual amá-lo-ia infinitamente e sofria o sofrimento dele. Se ele fosse realmente homossexual. Mas agora há homossexuais que o são por opção. É evidente que numa família são todos diferentes, pode haver pessoas honestas e um é um patife, mas a educação gera um campo mais ou menos propício. É por isso que cabe à família ser a primeira educadora, são os pais que têm de decidir como querem educar os filhos, ao contrário dos regimes comunistas, em que é o Estado a educar as crianças, uma coisa contranatura.
Só no 25 de Abril vejo o mundo, o meu mundo, desabar, tudo a virar-se de pernas para o ar
O que o fez despertar para a política, o que o levou a interessar-se?
Tudo é política, todas as atitudes são fazer politica, mesmo que a pessoa não tenha essa consciência. Interessei-me por política, talvez a partir do dia 26 de abril de 1974. Até dia 24 à noite vivia tranquilamente, não sabia nada de política - sabia que havia russos e americanos, fascistas e comunistas, tinha uns soldadinho com que brincava, e sabia que havia a guerra para defesa do Ultramar e um governo português que era bom e que era bom que se mantivesse como tal. Só no 25 de Abril vejo o mundo, o meu mundo, desabar, tudo a virar-se de pernas para o ar. De repente, as minhas referências e toda a minha vivência mudou radicalmente. E isso fez-me, com os meus treze anos, querer saber coisas sobre política.
Já tinha uma orientação política, uma tendência ideológica?
Embora haja na direita muita gente que entrou pela esquerda, sempre fui intrinsecamente nacionalista, nunca fui outra coisa desde o 25 de Abril. Mas uma coisa foi interessar-me e começar a devorar livros logo na primeira juventude - um dos temas que mais me fascinou foi a guerra civil espanhola - outro foi a intervenção na política, que aconteceu quando regressei a Portugal - tinha o bichinho, queria fazer qualquer coisa, e foi quando ingressei no Movimento Nacionalista. E isso encheu-me as medidas.
Quando passou a ter idade para votar, em quem votava?
Ao 18/19 anos já votava no MIRN [Movimento Independente para a Reconstrução Nacional], Partido da Direita Portuguesa, de Kaúlza de Arriaga. Nas eleições usava sempre um autocolante e, quando nos editais da junta de freguesia em que eu residia, a Lapa, apareciam os resultados dos votos - vamos imaginar que a AD tinha três mil e o MIRN 15 votos - eu dizia orgulhosamente que um daqueles 15 era meu. Teve uma vida efémera e concorreu coligado com o PDC e com a Frente Nacional [PDC-MIRN/PDP-FN], quando toda a gente votava AD. O MIRN foi vítima da febre da Aliança Democrática e do voto útil, que aniquilou qualquer esperança de crescimento do partido. Toda a minha família votava AD, e são pessoas que pensam como eu. Quando desapareceu, passei a fazer parte da abstenção, deixei de votar. Devo dizer-lhe que ao princípio ainda me dava ao trabalho de ir votar e votava nulo.
O que escrevia no voto?
Não digo, não acrescenta rigorosamente nada, mas dava-me a esse trabalho. Quando o PNR apareceu, fui um dos fundadores, comecei a votar PNR. Tive um ocaso de cerca de 20 anos em que não votava, porque o espectro político nacional e a composição da Assembleia da República vai da extrema-esquerda ao centro-direita. Hoje a diferença entre a esquerda e a direita está esbatida, mas ultimamente está a renascer, e é por isso que a esquerda tem uma necessidade extrema de chamar direita àquilo que não é direita. É a direita que lhe convém.
O CDS é, quando muito, centro-direita, e o seu eleitorado é claramente mais à direita do que o partido. E o do PSD, parcialmente, também será
Que partidos não são de direita?
O CDS e o PSD, por exemplo. O CDS é, quando muito, centro-direita, e o seu eleitorado é claramente mais à direita do que o partido. E o do PSD, parcialmente, também será.
Para terminar, como passou à atividade partidária, o que o levou a dar esse passo?
Entrei na política já casado e com filhos relativamente criados. Em 1997, quando vou sair de um edifício onde tinha clientes da minha atividade de artes gráficas, no Bairro Azul, vejo uns folhetos com uma imagem claramente nacionalista colocados no carros, aproximo-me, retiro um e eram do Aliança Nacional. Telefono a saber quem eram e vou parar à Aliança Nacional, que é a génese do PNR, que nasce em 2000. Sempre disse que não me oferecia para nada de especial, mas nunca recusaria o que o partido me pedisse. Em 2002, nas primeiras eleições legislativas a que concorremos, era preciso um cabeça-de-lista por Lisboa e ninguém queria dar a cara; fiquei eu. E em 2005, quando o partido esteve na eminência de desaparecer, percebi que ou agarrava aquilo ou nunca mais teríamos outro igual.
Onde se posiciona o PNR no espectro político?
Na direita da sua extrema, como é evidente. Quando eu for eleito, agora ou nas próximas eleições, vou sentar-me no último lugar da direita na Assembleia da República, e aí ela estará completa, porque vai ter direita. O PNR é a direita nacional, portanto, somos a direita e a sua extrema, não há volta a dar ou nada para escamotear.
Nas últimas eleições europeias o PNR teve 0,49% dos votos e ficou em 13.º lugar, de 17 partidos candidatos. É azar?
Não sou supersticioso, acho isso uma menoridade mental - sem desrespeito para com quem é supersticioso, mas não tem nenhuma base. Sei que em alguns países os prédios passam do 12 para o 14, saltam o 13.º andar. Mas penso que isso é pequenez.
Cada voto custou-nos menos de cinco cêntimos, quando há partidos a quem cada voto custou dois euros
O número de votos, contudo, tem um significado. Qual o significado que lhe atribui?
Tem, e digo-lhe já o significado: tivemos um orçamento de quinhentos ou seiscentos euros e, portanto, cada voto custou-nos menos de cinco cêntimos. Era logo o que diria se fosse liberal, quando há partidos a quem cada voto custou dois euros. É uma questão de meios. Como sabe, o PNR [Partido Nacional Renovador] é um partido que sofre não só de desatenção por parte da comunicação social, mas também de boicote. É um partido que só colhe algumas migalhas de atenção na altura das eleições e, de resto, é como se não existisse. Por isso, é muito complicado exigir-se mais. Por outro lado, é verdade que as eleições europeias nunca nos foram favoráveis. Onde temos maior votação, e mesmo assim ainda é inexpressiva, é nas eleições legislativas. A questão toda passa por isto: não podemos ter mais votos se as pessoas não souberem que o PNR existe ou se conhecerem o partido de uma maneira distorcida. É uma luta extremamente desigual, é o mesmo que pôr à luta uma pessoa sem armas contra outra com um escudo e uma espada. Mas temos superado muitas barreiras e continuamos a lutar e a crescer - somos contemporâneos de "n" partidos que têm aparecido e desaparecido, nomeadamente o Partido da Nova Democracia, de Manuel Monteiro.
Qual é o orçamento do PNR para estas legislativas?
É mesmo uma brincadeira, como aquelas trotinetas que por aí andam. Não sei ainda, mas não estou a contar com mais de mil euros. É metade para tempos de antena e metade para folhetos e para o que chegar, quando acabar, acabou. Vivemos exclusivamente das quotas dos militantes.
Qual o valor da quota?
Cinco euros mensais. E alguns não pagam, ou tardam a pagar, sabe como estas coisas são. Os outros partidos têm altos financiamentos, é uma luta desleal.
Todos os novos partidos têm a mesma dificuldades. Até, eventualmente, crescerem. A lei é igual para todos.
A lei é clara, só que não é cumprida. Desde logo, a Constituição, que consagra a igualdade de oportunidades, e aquilo que está explícito na CNE [Comissão Nacional de eleições], de se atribuir igualdade de tempo de antena a todas as forças políticas que concorrem a eleições. Só que isso é tábua rasa para a comunicação social.
No que toca à cobertura jornalística [Lei n.º 72-A/2015, de 23 de julho], o que a lei diz é que têm de ser ouvidos os partidos com assento parlamentar...
Se a lei diz isso, é de uma injustiça de bradar aos céus. Porque este regime, que enche a boca de liberdade, de igualdade de oportunidades, acaba por se comportar como um autêntico feudo. Isto são feudos. Há uma partidocracia, um gang dos partidos com poder, e depois há um ou outro que lá consegue penetrar, como foi o caso do PAN, porque nasceu da união de imensas associações de protecção de animais. Depois, repare: há "n" reclamações de partidos na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] e na CNE que caem em saco roto, porque a própria CNE não tem poder. Nas últimas eleições europeias a SIC promoveu um debate com partidos sem assento parlamentar e sem representação e não convidou o PNR. Depois vem o Ricardo Costa [diretor de Informação da SIC] com uma distinta lata dizer que são critérios editoriais. Porque inventam os critérios que querem. A hipocrisia é uma coisa que me tira do sério.
Este regime, que enche a boca de liberdade, de igualdade de oportunidades, acaba por se comportar como um autêntico feudo
Acredita que o PNR é alvo de censura?
Sei que é assim. Até porque já colocámos processos contra jornalistas, a partir de 2016. Uma vez, por acaso, apareci na capa do jornal i - porque o boicote tem de vez em quando uma ilhazinha - e logo uma senhora jornalista, não vou dizer o nome para não ser desagradável - colocou na sua página pessoal de Facebook um comentário: "Isto é incrível, como é que um jornal dá voz a estes energúmenos" e tal, "ainda me lembro quando decidíamos não dar voz ao PNR..." E lá vieram mais dois ou três jornalistas, um do DN, dizer que sim, que era indecente e que ainda se lembrava de quando "calavam essa gente". Além disso, sei de fonte segura, porque o disseram a uma pessoa que, justamente, tem o pelouro da imprensa: "Disseram que o PNR é para não se falar aqui na Lusa".
Efetivamente, não acredito em nada que seja neutro, não há coisas neutras, não há regimes neutros, e por mais que digam que há liberdade, o regime nascido do 25 de Abril não é neutro, tem um pendor claro para a esquerda
Mas hoje, exatamente, a Lusa publica declarações suas.
Anunciei que ia entregar as listas porque vim a Lisboa e aproveitei. O facto de haver boicote não significa que uma ou outra vez não possamos aparecer. Quando falo contra a comunicação social é contra este polvo, embora saiba perfeitamente que o jornalista é um trabalhador como qualquer outro e, muitas vezes, ele próprio sente essa censura, mas tem de lutar pelo seu ganha pão. Há órgãos piores que outros e isto não se passa apenas em Portugal, é no ocidente. Efetivamente, não acredito em nada que seja neutro, não há coisas neutras, não há regimes neutros, e por mais que digam que há liberdade, o regime nascido do 25 de Abril não é neutro, tem um pendor claro para a esquerda. Não existe neutralidade na comunicação social, mas não gosto de pôr no mesmo pacote todos os jornalistas, até porque salvaguardo sempre, em todos os campos que ataco, o que é a pessoa e o que é a ideia ou a instituição. Nada me move contra as pessoas, até por formação, tenho um profundo respeito pelo ser humano e acho que há o bom e o mau em todos nós. Portanto, se falo contra políticas de emigração, não sou contra a pessoa do emigrante, se falo contra a agenda LGBT, não sou contra a pessoa homossexual. Falo contra ideias.
Como é possível não ser contra uma pessoa se as políticas em causa são contra ela?
É uma questão ideológica, não lhe sei explicar de outra maneira.
Estão assustados com [Matteo] Salvini, começam a ficar assustados com o Brexit, estão assustados com Marine Le Pen, com [Jair] Bolsonaro
Voltando atrás, qual o motivo desse boicote ao PNR?
Boicotam-nos porque o PNR aparece como o partido que é realmente contra o sistema. Mesmo hoje, é o único partido que diz abertamente que não sufraga este regime do 25 de Abril, não anda de cravo ao peito. Todos os outros partidos - todos - mais à extrema-esquerda ou mais ao centro-direita, pertencem, de alguma forma, a este sistema. Mesmo que alguns digam que não. Todos beneficiam da comunicação social, todos têm os outdoors intactos... O PNR não. Porque o sistema, e quando falo em sistema estou a falar dos grandes centros de decisão - o poder político, a comunicação social, a universidade -, sabe perfeitamente que se houver um brecha para o PNR crescer, se chegar às pessoas, se chegar aos portugueses, tem muita margem de crescimento. E se o PNR começar a crescer, começam a ficar assustados. Estão assustados com [Matteo] Salvini, começam a ficar assustados com o Brexit, estão assustados com Marine Le Pen, com [Jair] Bolsonaro.
E são motivo de susto?
Não. Motivo de susto é o mundo em que nós estamos emergidos. Existem duas mundivisões e há uma linha que separa a mundivisão nacionalista e a mundivisão mundialista. E todas as forças políticas, da extrema-esquerda ao centro-direita, - e isto não é uma teoria, é um facto -, unem-se contra a visão mundialista. Basta ver o que aconteceu em França, tudo contra Le Pen, em Itália tudo contra Salvini, no Brasil, tudo contra Bolsonaro. É um modelo, uma conceção do mundo que é totalmente diferente do nosso, não há consenso possível, quando muito poderá haver um ou outro ponto de entendimento.
Nós, os nacionalistas, defendemos que o mundo é um mundo de pátrias, de nações, e não um mundo, como muita gente advoga, sem fronteiras nem bandeiras. São visões diferentes
Todos, não. Eles ganharam eleições.
O que assusta as pessoas é o conflito de ideias. E cada vez mais a comunicação social comporta-se de uma forma bastante cobarde, evita o verdadeiro conflito de ideias, que é pôr em cima da mesa este confronto entre dois modelos, o nacionalista e o que está a ser criado desde o final da II Guerra Mundial, desde a segunda metade do século XX e, sobretudo, desde o fim da Guerra Fria, que é um modelo globalizador. Nós, os nacionalistas, defendemos que o mundo é um mundo de pátrias, de nações, e não um mundo, como muita gente advoga, sem fronteiras nem bandeiras. São visões diferentes.
Já percebi que está zangado com as televisões, mas não coloca a hipótese de os eleitores discordarem da visão do PNR?
Há muita gente que não concorda, mas também há quem se identifique com ela. Ontem fomos contactados por uma senhora que é votante recente do PNR, residente em Fátima, e que quer promover lá um encontro. Quer que vamos lá promover uma conferência, porque diz que muita gente que conhece votará PNR se conhecer o partido. A comunicação social não é a única culpada, mas é, obviamente, um instrumento. Goste-se ou não, a televisão chega a milhões. As redes sociais são muito bonitas, mas não têm o mesmo alcance da televisão, da rádio, dos media tradicionais. Mas já disse que é todo o sistema que é culpado, a máfia da partidocracia, dos partidos instalados, e a comunicação social, que é um tentáculo poderosíssimo.
Fala muitas vezes no 25 de Abril. Passaram mais de 40 anos. A faixa etária que menos vota situa-se entre os 18 e os 40, exatamente. Faz sentido para estas pessoas estar sempre a falar do 25 de Abril ou é quase como se estivesse a falar da monarquia ou da Primeira República?
Falo no 25 de Abril apenas para explicar por que motivo o PNR é, à partida, o patinho feio. De facto, o 25 de Abril já passou, já não aquece nem arrefece, já não diz nada às pessoas, mas tenho de dizer isto porque há este anticorpo, porque, efetivamente, somos um corpo estranho, somos algo que está do lado de fora. Todos os outros partidos têm ligações entre si, todos se entendem, todos se dão bem. Aliás, são esses que passam a vida a recorrer ao passado, ou porque eles é que são antifascistas, ou porque eles é que lutaram contra o sistema, ou porque eles é que lutaram pela democracia. Passam a vida a exibir galões. Mas uma coisa é clara, o PNR é um partido do século XXI, um partido do presente e a olhar para o futuro. Temos as nossas referências, mas não somos nem saudosistas, nem estamos amarrados a nada. O PNR é o partido mais livre que existe, pode parecer paradoxal, mas é. Podemos ter uma luta muito desigual e muito difícil, mas não devemos fretes a ninguém.
Vamos começar pelo princípio: o PNR nasceu de forma diferente, não precisou de recolher as 7.500 assinaturas obrigatórias para se constituir, comprou e transformou um partido já existente.
Foi um golpe de sorte, mas de génio.
Pode contar a história, para quem não conhece?
Estou a escrever um livro - que infelizmente tarda, porque estou a ter dificuldade em encontrar editora (se calhar vou ter de fazer uma edição de autor) - que vai ter cerca de 500 páginas e é um pouco autobiográfico, mas a falar do meu combate político.
O tal que começou em 1997?
O que começou no dia 24 de Abril de 1974, às nove e meia da noite. Escrevo muitas coisas que vivi, contadas na primeira pessoa, muitas coisas que as pessoas ignoram, mesmo as que têm mais informação, porque não viveram a história por dentro. E conto a génese do PNR desde 1997, quando andávamos a tentar fazer um partido a partir de uma Aliança Nacional - é bom que as pessoas não sofram de anacronismo e percebam que só tinham decorrido vinte e poucos anos do 25 de Abril, a Revolução ainda estava muito, muito presente, falar em Salazar era perigoso. Hoje, em qualquer lado se diz que fazem falta dez Salazares, mesmo que seja da boca para fora, diz-se.
Mas e então o que aconteceu?
Para fazer um partido, como disse, era preciso recolher uma série de assinaturas, e fazer um partido de cariz nacionalista era extremamente complicado: as pessoas tinham imenso medo de dar o nome e o número do bilhete de identidade, para pedir a assinatura às vezes tínhamos de estar uma tarde inteira a explicar o projeto, a nossa vida. No fim as pessoas ainda perguntavam: "Então e quem são as caras conhecidas?", sempre à espera que tirássemos da cartola nomes de pessoas do sistema. E depois de tudo ainda respondiam "vou pensar". Era um trabalho inglório, ao fim de dois anos não tínhamos mais que duas mil e tal assinaturas.
E mudámos o nome do PRD para Partido Nacional Renovador, mudámos o logotipo, um ou outro ponto dos estatutos e pronto, o Tribunal Constitucional aprovou. Limpinho, limpinho
E sucede que...
Sucede que o PRD [Partido Renovador Democrático] de Eanes, mais um daqueles que aparecem e é um êxito, mas depois fura-se e desaparece, ficou ao deus-dará, os oportunistas saltaram para o PS e para o PSD e abandonaram o partido às mãos do último presidente, o engenheiro Vargas Loureiro. Era já um partido pequeno, não apresentava contas ao Tribunal Constitucional, o presidente, pessoalmente, levava coimas atrás de coimas, e o partido ia ser extinto, veio no jornal: "PRD de Eanes vai ser extinto pelo Tribunal Constitucional". Um dos nossos, que foi um visionário, leu a notícia, foi falar com o Eng. Vargas Loureiro e sugeriu que reerguêssemos o partido. O senhor já estava doente, mortinho por se ver livre do problema, nem sequer questionou muito bem quem nós éramos ou o nosso interesse: íamos fazer ressurgir o PRD. Foi tudo perfeito, perfeito, perfeito. Convocou-se uma convenção do PRD, a nona convenção nacional do PRD, mandou-se carta para todos os militantes - claro que apareceram poucos, a maior parte deles já nem sequer se interessava - apresentaram-se duas listas, uma constituída por antigos militantes, outra por novos, mas que incluía dois dos antigos, entusiasmados com este sangue novo, votou-se e ganhámos. E mudámos o nome do PRD para Partido Nacional Renovador, mudámos o logotipo, um ou outro ponto dos estatutos e pronto, o Tribunal Constitucional aprovou. Limpinho, limpinho.
E as dívidas, pagaram-nas?
Fomos pagando, mas herdámos um peso brutal do qual ainda não nos conseguimos safar, porque isto... Também aí há uma situação extremamente injusta: a lei dos partidos e do financiamento dos partidos é penalizadora para os mais pequenos, é uma lei arbitrária. Os partidos recebem subvenção do Estado a partir dos 50 mil votos. Porque é que um partido que tem 49.900 votos não tem subvenção, e um que tem 50.100 votos tem? Não é justo.
Porque é que não se dá financiamento a todos os partidos políticos mediante o número de votos em cada um?
O que propõe o PNR que se faça ou o que se propõe fazer?
O PNR tem propostas a vários níveis, e para o sistema político, nomeadamente, a nível eleitoral, também. Porque não se dá financiamento a todos os partidos políticos mediante o número de votos em cada um, como acontece no Brasil, por exemplo? Assim não haveria eleitores de primeira e de segunda classe, ou quatro mil votos são lixo? E os partidos em que votaram essas quatro mil pessoas não têm direito à vida? Não estamos a pedir que os partidos pequenos e grandes tenham tudo igual, mas a subvenção por voto seria mais igualitária. Porque, curiosamente, na altura de apresentar contas são todos iguais, têm os mesmos deveres. Na altura de passar coimas, é tudo igual. Porque não hão de ter direito à subvenção e têm de sofrer coimas?
Além da não apresentação de contas, as coimas são por que motivo?
Porque o papelinho que devia ser verde afinal foi azul? Por amor de Deus. E é uma coisa de que todos os políticos, até Cavaco Silva, quando foi eleito presidente, se queixam. Cavaco disse a certa altura que as exigências legais, burocráticas e financeiras de qualquer campanha política parecem as das grandes empresas cotadas em bolsa. Isto é um absurdo. Tratam os partidos com uma grande máquina da mesma forma que tratam partidos "amadores". Só se ri quem nunca teve um carro penhorado.
Já tive de pagar 3500 euros para levantar um carro que é meu, que nunca roubei nada a ninguém, e tive várias vezes o ordenado penhorado
Já lhe penhoraram o carro?
Sim, não tem piada nenhuma. Já tive de pagar 3500 euros para levantar um carro que é meu, que nunca roubei nada a ninguém, e tive várias vezes o ordenado penhorado. Andamos na política a lutar, a dar murros em pontas de faca, e depois as pessoas não têm noção do que isso é. Não cai nada em saco roto - contas do partido penhoradas - andamos sempre nisto, vivemos em cima do arame e sem rede. Pergunte aos outros partidos, porque não somos só nós nesta situação, por que motivo fecharam portas; foi porque é insustentável. E o PNR continua por causa da resiliência de uns quantos e porque acreditamos - eu acredito - que não há vencedores nem vencidos definitivos.
Os votos brancos e nulos continuam a aumentar, tal como a abstenção. Ou seja, os novos partidos andam a roubar eleitores uns aos outros, mas não convencem os abstencionistas com as suas ideias. Concorda?
É evidente que onde devemos ir buscar votos é à abstenção. Mas voltamos ao ponto de partida: sem meios e sem voz é extremamente difícil. A diferença que há entre a abstenção e as pessoas que votam branco ou nulo é que as da abstenção, pura e simplesmente, já se desinteressaram, enquanto as que votam branco ou nulo estão desencantadas e querem mostrar o desagrado. Só que muitos desses nem conhecem o PNR e, se calhar, não conhecem também outros partidos. Mas o PNR tem vindo a crescer, um crescimento muito residual para quem anda há tantos anos a dar tanto de si: dinheiro, tempo, motivação, empenho, tudo.
Somos entusiastas de Bolsonaro
Vamos, então, às ideias. O PNR apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Porquê?
Fomos o único partido em Portugal que apoiou fervorosamente Bolsonaro enquanto candidato e o único que se congratulou fervorosamente com a sua eleição. Na altura colocámos um outdoor no Saldanha a dizer: "Parabéns Brasil. Agora falta Portugal". Somos entusiastas de Bolsonaro.
A minha pergunta é porquê, o que é que os une?
Tem um pensamento muito próximo do nosso. Importa fazer esta declaração para as pessoas perceberem: o Brasil, para mim, não é indiferente. Vivi no Brasil, tenho fortes ligações ao Brasil, de empatia e de coração, vivi lá três anos - depois do 25 de Abril, com 15, 16 e 17 anos - e ainda mantenho ligações com pessoas de lá. Não é o mesmo que falar do Chile ou do Vietname, há uma ligação muito umbilical. E conheço muito bem a realidade brasileira, sei o que era a corrupção. Nisso, somos uns meninos de coro quando comparados com o Brasil. Conheço o descalabro financeiro e económico do Brasil, a criminalidade, o que era a agenda da ideologia de género no Brasil. Sabe porque ganhou Bolsonaro? Não é porque os brasileiros, de repente, são todos uns perigosos fascistas, é porque os brasileiros respiraram de alívio por se verem livres de um regime que os oprimia. Bolsonaro veio dar-lhes liberdade, uma lufada de ar fresco.
Porque estão com uma emigração tão forte, a deixar o Brasil e a migrar para outros país, incluindo para Portugal?
É a esquerdalha, que vem para cá intoxicar ainda mais o nosso ar. São justamente os [Jean] Wyllys [ativista dos direitos LGBT] e as Lucélias Santos [atriz]. Mas, mais uma vez, a comunicação social no Brasil está completamente dominada pela esquerda, pelo marxismo cultural, e ataca fortemente Bolsonaro. Só espero, porque os brasileiros são muito fortes nas redes sociais, que consigam levar a Globo, um dos cancros do Brasil, à falência. E que levem com eles o Estadão e a Folha de São Paulo. E, por arrasto, que vá a SIC. Digo isto com todas as letras, porque é uma nação. São totalmente parciais.
O PNR pretende corrigir a democracia que hoje existe em Portugal
No seu "ideário" o PNR começa logo por dizer que são conhecidos os acontecimentos que conduziram ao declínio de Portugal. Que acontecimentos são esses?
Devo dizer que o ideário está um pouco datado, mas já aqui aflorámos alguns deles. O PNR pretende corrigir a democracia que hoje existe em Portugal. Vivemos, na verdade, numa partidocracia, num regime de tirania de alguns partidos. Outro problema é a corrupção que grassa no poder político e é de tal maneira endémica que as pessoas já encolhem os ombros. Está presente a todos os níveis, da Assembleia da República ao poder local, e sob várias formas, a ilegal e a imoral. Isso está completamente assimilado no sistema político e tem conduzido ao descalabro, à mediocridade da classe política, à promoção das pessoas não pelo mérito, mas porque têm cartão do partido ou da maçonaria - não sei se a maçonaria tem cartão, mas há de ter, pelo menos, um aventalzito. É assim que as pessoas se promovem, é um regime dos compadrios. Até ao nível da criminalidade há a boa e a má.
as pessoas estão cada vez mais atrofiadas pelo país dos reality shows e do futebol. Isto de uma pequenez... Quais são hoje os horizontes hoje dos portugueses?
O que quer dizer com criminalidade boa e má?
Quando é o nosso criminoso, está tudo bem. Só está mal quando é o criminoso do outro. Há coisas que são inaceitáveis, os criminosos não podem ser recebidos, branqueados, só porque são os nossos, e temos vindo a assistir a isso ao longo destas décadas, à desculpabilização até ao limite, até haver pontes que os deixam cair. Estou a falar de crimes de colarinho branco, crimes de sangue, crimes de pedofilia, vários. Todos estes acontecimentos têm vindo a conduzir Portugal para ser um país cada vez mais pequenino, mais atrofiado ao nível das mentalidades, as pessoas estão cada vez mais atrofiadas pelo país dos reality shows e do futebol. Isto de uma pequenez... Quais são hoje os horizontes hoje dos portugueses?
Devolvo-lhe a pergunta...
É o futebol, o centro comercial, o reality show. Onde está a verdadeira cultura, os valores, o orgulho nacional? E é como qualquer vício, quanto mais se dá... Mesmo as pessoas preparadas vão-se deixando levar, isto vai-se normalizando nas nossas vidas. Quer dizer, quando estamos num país - desculpe, mas não se pode medir palavras - onde o Castelo Branco é figura pública... Isto não é um país digno, é uma anedota. Há países que se prezam pelos seus cientistas, pelos seus intelectuais, escritores, compositores e nós aqui temos uns palhacitos... É uma tristeza, um país que não investe, desde logo na educação. Desinveste-se em áreas fundamentais até para o ego e a auto-estima, como a arte e o desporto, componentes de um ser humano integral. Quando falava em narcotizar as pessoas é isto, é que se puxa para baixo, para a mediocridade, para a vulgaridade. Quando acredito muito no povo português.
Esta é uma UE federalista, e nós o que defendemos é uma confederação de pátrias livres europeias, um outro modelo
Vamos, então ao programa do PNR. Li-o na íntegra e fiquei sem saber: o PNR é contra ou a favor da União Europeia?
O PNR é claramente contra a União Europeia, porque é uma união artificial, que em nada nos serve, a não ser ter-nos dado infra-estruturas, mas com uma fatura muito elevada, que foi perdermos toda a produção nacional e uma parte significativa da nossa soberania. Esta é uma UE federalista, e nós o que defendemos é uma confederação de pátrias livres europeias, um outro modelo.
Na prática, se o PNR tivesse o poder, o significaria isso?
Se tivéssemos podido, nunca teríamos entrado na UE, como nunca teríamos entrado na moeda única. Agora é tarde para sair de uma e de outra. Seria totalmente irresponsável, por isso temos um programa político e um programa eleitoral, que é aquele que traduz aquilo que nos propomos defender e que é viável nos próximos anos. Entendemos que este modelo da UE é artificial, mundialista e globalizador e destrói as nações. Defendemos a Europa com orgulho - é o nosso espaço - mas como confederação. A grande diferença é que numa confederação os países membros não abdicam da sua soberania, a sua Constituição está acima de todo e qualquer tratado, a não ser em pontos expressos. Se fosse governo, o PNR faria tudo para reconquistar as bases fundamentais da nossa soberania, e aí sim, equacionar uma saída da UE. Mas só quando tivemos condições para isso, neste momento seria o suicídio.
Que soberania perdemos, exatamente?
Para já temos uma dívida externa, estamos dependentes dos credores.
Quem contraiu a dívida e porquê?
Conheço pessoas que hipotecaram a sua vida toda às Cofidis e empresas que tais por inadvertência, por parvoíce, por serem gulosos, por darem passos maiores do que as pernas.
Portugal também se endividou e precisou de resgate antes da entrada para a atual UE.
Isso porque o socialismo já nos levou três vezes à falência.. É sempre o problema do socialismo. A soberania é multifacetada, nenhum país é completamente autónomo, isso não existe. Mas é dever de um Estado procurar em cada momento a maior soberania possível, para ter maior margem de manobra a negociar e escolher os seus parceiros. O papel do Estado não é atrofiar a vida das pessoas e das empresas e ocupar um espaço que não deve ocupar. A entrada na UE também teve esse problema, não só o problema interno de as pessoas terem desviado mundos e fundos quando o dinheiro entrava a jorros, mas também a negociação, que foi trocar pão por betão. Fizemos uns fontanários bonitos, umas auto-estradas todas catitas, mas abdicámos da produção nacional, com uma mentalidade subsídio-dependente de receber para não produzir. E os países grandes também se queixam da UE, que é um pau na engrenagem de qualquer soberania: esta questão de obrigarem a importar refugiados, os polacos não querem, os húngaros não querem, mas sofrem sanções por isso. Um país não pode estar à mercê de receber sanções de uma macroestrutura só porque sim. Mas não vou dizer que não haja uma ou outra vantagem - nada é tudo bom ou tudo mau - embora pesando prós e contras, a maior seja negativo. É como este regime.
O que tem este regime de bom?
Agora que me perguntou de repente, não sei [ri]. Há que reconhecer que existe um certo número de liberdades, apesar de tudo.
Contei as vezes que algumas palavras aparecem no programa do PNR. É quase um "Deus, pátria e família", sem o Deus.
Deus não aparece porque o PNR é um partido aconfessional, como não podia deixar de ser. A Deus o que é de Deus, a César o que é de César. O partido tem a ambição de vir a ser poder e esse poder tem duas fases: ser oposição e ser governo. Quando um partido governa, governa para todos os portugueses, católicos e não católicos. Faz-me uma certa estranheza quando vejo partidos a reclamarem-se cristãos. O partido vinca muito a questão da família porque é e sempre foi a célula base da sociedade. As nações são coisas remotas e alargamentos naturais daquilo que é a família, unidas por um devir e porvir comum. Com diferenças, claro.
Não se pode dizer "preto". Eu toda a vida disse preto; preto e branco. Eu também não sou branco, branco é o frigorífico. Não nos tomem por parvos
Sobre as diferenças: uma das acusações que se faz ao PNR é que é um partido racista, xenófobo e homofóbico. É?
O que não aceito é, por exemplo, que hoje não se fale em raças. Não aceito que me comam por parvo. Esta coisa da novilíngua é uma das armas do marxismo cultural, justamente para manipular e dominar a linguagem. Há palavras que passam a ser proibidas, e isto é de uma ditadura terrível, vão para o Index. Depois falam em Inquisição, o que é espantoso. Não se pode dizer "preto". Eu toda a vida disse preto; preto e branco. Eu também não sou branco, branco é o frigorífico. Não nos tomem por parvos. E querem mentir às pessoas. Sempre houve dois sexos e várias raças, mas agora parece que há imensos sexos e uma raça. Qualquer dia temos de estar a justificar que a relva é verde, como dizia Chester Stone. É evidente que o mundo evolui, e a globalização da tecnologia, das comunicações faz parte do progresso. A mobilidade humana é uma das grandes virtudes dessa evolução. Mas justamente por causa disso, temos de nos proteger ainda mais. Mobilidade não significa promiscuidade, e considero o multiculturalismo uma espécie de promiscuidade. Todos vamos perder com isso.
Aliás, um dos nossos mais fervorosos militantes é preto e está sempre ao meu lado, é um português dos sete costados
Isso faz-me lembrar as pessoas que dizem que não têm nada contra pretos, mas "oxalá a minha filha case com um branco".
E isso é legítimo e toda a vida existiu, casamentos miscigenados - e logo os portugueses. Não é aí que está o problema, não temos nada contra isso. Aliás, um dos nossos mais fervorosos militantes é preto e está sempre ao meu lado, é um português dos sete costados: o pai foi para Angola, apaixonou-se por uma angolana, casou com ela. Ela é preta, os filhos são pretos. Está tudo rigorosamente certo.
Explique como é que o multiculturalismo é uma "espécie de promiscuidade"?
Somos contra o multiculturalismo, o que quer dizer que somos contra as imigrações maciças. E a Europa está a ser invadido, digam o que disserem. Mas deixe-me recuar um bocadinho: o PNR, e eu como seu representante, não tem nada contra qualquer raça ou cultura, pelo contrário. Aquilo que me incomoda é quererem diluir tudo, perderem-se as identidades, as referências. Porque há coisas que não se podem mudar e uma delas é a sua memória e a sua história, ou não teremos futuro, seremos facilmente aniquilados por qualquer poder supranacional. Mas não somos só nós a dizer isto: o cardeal [Robert] Sarah, um grande cardeal, preto, da Guiné Conacri, adverte: a Europa dentro de 20 anos é muçulmana.
A história está cheia de bons exemplos de povos que vão e vêm, de movimentos migratórios. Até Portugal. Que perigo representa?
A questão tem que ver com a linha cultural. A língua evolui, escrita e falada, mas pode haver abortos, como este acordo ortográfico, que é uma aberração, um crime contra a língua. O perigo é que isso gera tensão social e uma injustiça social gravíssima - e é justamente isso que gera o racismo. Eu não sou racista, o PNR não é racista. Mas o racismo, a existir - toda a vida existiu - é potenciado precisamente por culpa destes governantes, que estão a proporcionar este multiculturalismo e a invasão imigrante ao protegerem sempre as minorias étnicas. Essas minorias sentem-se protegidas e impunes. E os autóctones sentem uma profunda injustiça. Mas todos já são considerados portugueses, e não são. Veja aquele senhor, Mamadou Ba, é considerado português. Mas ele é português de onde, um homem que veio do Senegal para cá? Porque lhe deram o bilhete de identidade português que passa a ser português? Não é português. Se a minha cadela tiver filhos na capoeira eles não passam a ser galinhas, continuam a ser cachorrinhos. Se me for instalar em sua casa e ainda lhe for pedir comida, não passo a ser um Tavares.
Para ter passaporte português, como de outra nacionalidade, é preciso cumprir uma série de requisitos. Imagino que Mamadou Ba, como tantos outros, pague impostos em Portugal, entre outras coisas.
Mas é que não acontece isso.
Disse que foi para o Brasil com a família, depois de 1974. Foi emigrante.
Sim, mas não andei a pedir subsídios, nem casas, nem apoios, e os imigrante que vêm para cá, vêm à espera disso tudo. Aqueles imigrantes que vêm por bem, que trabalham, que estão integrados, esses são muito bem-vindos. Mas não são esses que geram problemas, os que geram problemas são os que se vêm aproveitar dos países europeus, têm um monte de filhos, filhos esses que não têm culturalmente nada a ver connosco. Porque estas coisas não são por decreto, estão no ADN. Não são portugueses porque a sua cultura não é portuguesa, salvo, talvez, ao fim de várias gerações. E passamos a ter imensos bairros problemáticos, em que quem lá vive não se sente português, hostis a Portugal. São estas políticas erradas...
O mundo divide-se entre bons e maus?
Não, o trigo e o joio convivem.
O que sentiu quando chegou ao Brasil?
Senti um misto de... Eu era tímido, calado e uma pessoa cheia de medo, tinha muito medo.
A seguir ao 25 de Abril tinha medo dos gritos na rua, das confusões, das manifestações, das confusões no liceu Pedro Nunes... Tudo me atemorizava, vivia com medo permanente
Medo que quê?
De tudo. A seguir ao 25 de Abril tinha medo dos gritos na rua, das confusões, das manifestações, das confusões no liceu Pedro Nunes... Tudo me atemorizava, vivia com medo permanente. A ida para ao Brasil trouxe-me um misto de sentimentos: um alívio total e uma saudade indescritível, porque fomos para não voltar. Tinha saudade da pátria, da minha vida, da minha cidade, da minha casa, da minha rua, das minhas coisas, dos meus amigos, da família... Senti isso. E achei o Brasil um país muito diferente, para o bem e para o mal, um país de altos contrastes: miserável em termos de cultura, muito pobre, e de topo em áreas como a engenharia, medicina, arquitectura, muita coisa. Cheguei lá já havia televisão a cores... Depois senti o brasileiro incomparavelmente mais alegre do que o português, muito fechado e frio, mas não dá para confiar, apesar do "deixa comigo, tá comigo tá com Deus". Mas é um povo muito alegre e simpático, muito aberto e muito mais quente, as pessoas abraçam-se muito. E têm o condão de ter esta amizade séria, que fica para a vida. A nível de costumes era um povo muito mais permissivo, a bissexualidade era mato, os homens gillette, como chamavam aos que dão para os dois lados. Quando voltei foi uma alegria imensa, já tinha passado o medo. Mas é um drama, feliz por voltar, mas a ter de largar muito bons amigos. Deixa-se sempre um pouco do coração lá.
Os portugueses que emigraram comeram o pão que o diabo amassou, não foram exigir coisas. E estes imigrantes, muitos deles, ainda vêm exigir que nos comportemos como eles querem
Falou em políticas de imigração erradas. O que propões o PNR?
Defendemos políticas de imigração restritivas, em vez da actual política de portas abertas. Para estes governantes europeus, qualquer pessoa que venha é recebê-la e integrá-la e dar subsídios e casas. Para nós, não. Quando fui para o Brasil, os meus pais não foram pedir casa e não foram pedir subsídio nem RSI [Rendimento Social de Inserção]. Se não tivessem trabalho voltavam para trás, é assim a vida. Os portugueses que emigraram comeram o pão que o diabo amassou, não foram exigir coisas. E estes imigrantes, muitos deles, ainda vêm exigir que nos comportemos como eles querem. Era só o que faltava. Mas para nós o centro da questão, a primazia das preocupações, é a questão da islamização da Europa. Digo preto no branco: islão, aqui, não.
Porquê?
Porque consideramos o islão inimigo, e ninguém mete o inimigo dentro de portas. "Ah, mas há islâmicos que são bons..." Também há comunistas bons, mas o comunismo, para mim, é um inimigo, uma aberração, um atentado à dignidade humana.
Porquê?
Desde logo pela sua ideologia, pelos escritos de Marx e Engels, pela doutrina e pela praxis dos países comunistas. São atentados contra a propriedade privada, contra a vida, contra a família, contra a empresa, contra a dignidade humana. Portanto, um inimigo a abater, como o islão. Para mim, o islão é um sistema político-religioso invasor, hostil, bárbaro, atrasado, culturalmente completamente diferente de nós. Não tem nada de estar aqui. Não tem nada a ver connosco, o islâmico não tem nada que ver com o cristão.
Pensei que tinha dito que o PNR é um partido aconfessional...
É, mas sendo um partido aconfessional, Portugal, goste-se ou não, é um país de matriz cultural judaico-cristã, como a maior parte da Europa. Esta é a matriz que nos informa. Temos de defender o que é nosso, é um instinto de sobrevivência - que o ser humano tem enquanto ser individual, uma empresa tem enquanto organização, uma família tem enquanto comunidade. E a nação tem de ter este instinto. O islão, sendo o inimigo, não tem lugar na Europa. E repare, como é que se pode permitir que o nosso dinheiro, ainda por cima, sirva para financiar a construção de mesquitas, que é o que está a acontecer em Lisboa? Porque é que o seu imposto e o meu vai financiar a construção de uma mesquita para os que nos vêm invadir e impor-se a nós e, qualquer dia, reclamar que há crucifixos que têm de ser retirados? Basta ver o que está a acontecer noutros países da Europa. Estão à espera que em Portugal suceda como em França, na Bélgica, na Inglaterra, na Alemanha? Não conseguem ler os sinais dos tempos? Não queremos que Portugal venha a viver esses dramas, queremos paz, queremos segurança.
As leis não servem para regular tudo isso?
Devia haver a lei a montante, que era não virem. Mas devia haver a lei a jusante, que era pô-los fora.
Também existe.
Ora, a lei... Havia de ser uma lei em governos da Frente Nacional ou do Salvini para ver o que seriam as leis para os pôr fora, a todos os subsidio-dependentes, todos os criminosos, todos os que não estejam integrados: os inadaptáveis.
E onde seria o caixote do lixo?
Os países dos pais deles. Voltem para a terra dos seus pais.
E quando a terra deles é a sua? Porque na Noruega houve um atentado levado a cabo por um loiro de olhos azuis. Os nativos não estão imunes.
Não me esqueço que há uns dez anos houve uma grande celeuma nos jornais por o Canadá expulsar um português, coitadinho, um luso-canadiano do Açores, que nem sabia falar português. Foi mandado de regresso para a terra dos pais. O Canadá fez muitíssimo bem, o país dos pais que o ature. Com os imigrantes indesejáveis é um bilhete de ida sem regresso. Por muitos serem os nossos é que as leis têm de ser acauteladas a montante: volto à lei da nacionalidade e à lei da imigração. A questão é esta: a Europa está-se a desfigurar, a mudar a sua face. Há pessoas que estão felizes, acham isto muito bonito, e há pessoas que não gostam. Somos dos que não gostamos. O que não posso é aceitar que digam que este é um discurso de ódio.
Não posso aceitar que haja pessoas ou partidos, sobretudo de esquerda, que têm a mania que são intelectual e moralmente superiores e depois comportam-se como ditadores quando nos acusam de discurso de ódio
É de amor?
Não temos de catalogar as ideias. Só porque não concordamos é discurso de ódio? Tenham juízo, não são deuses nem juízes. Isso é uma cobardia e uma maneira de calar quem pensa de modo diferente. Não acho justo que haja um partido político em Portugal e que o seu dirigente não tenha uma coluna, uma vez por mês que seja, num jornal, uma entrevista na televisão pública. Além da lei, não há ética. A comunicação social devia pôr a mão na consciência e envergonhar-se de querer ser juiz, Deus. Não posso aceitar que haja pessoas ou partidos, sobretudo de esquerda, que têm a mania que são intelectual e moralmente superiores e depois comportam-se como ditadores quando nos acusam de discurso de ódio. Isso é uma cobardia, um cinismo. Discutam as ideias, não ponham chavões. O que têm contra nós, pergunto, não é ódio?
Avançando no programa, que mais quer o PNR para o país?
Há vacas sagradas que não podem ser vacas sagradas e tem de se falar nelas. Uma das coisas em que queremos mexer é no direito à greve e no âmbito da actuação sindical. Tem de haver limites, não é justo uma greve penalizar gravemente uma população, que não tem culpa, ou uma nação. Não estou a dizer que se acabe com a greve, deve-se discutir e, se calhar, impor alguns limites muito mais claros à atual lei. As greves fazem lembrar um bocadinho os casais desavindos, que usam os filhos como joguetes, que são quem sofre. E nestas coisas, porque as greves são quase sempre na função pública, os sindicatos terroristas comunistas usam as greves como forma de agitação política.
Que poder tem uma greve que não cause estragos, que não seja, de alguma forma, um empecilho?
É verdade, mas uma greve de zelo é muito mais compreensível nos transportes, do que pura e simplesmente acabar com um transporte. E devia ser proibido haver greves à sexta-feira ou à segunda-feira. Como devia ser obrigatório o grevista estar no local de trabalho, ou como devia ser proibido haver mais do que xis greves do mesmo organismo durante um certo período de tempo. A greve é utilizada como as senhoras que fazem abortos como anticonceptivo. Os sindicatos comunistas fazem greve como forma de luta banal e quem se prejudica são as pessoas e as nações. Esta [motoristas de matérias perigosas] foi uma greve do sector privado - e há que tirar o chapéu pela coragem, é uma coisa fora da mãe, não estão lá os do costume. À partida, os camionistas têm uma forte razão, mas chegou a um ponto onde não devia ter chegado. A lei da greve tem de ser mudada, muito restringida, e a actuação dos sindicatos também.
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