Perante várias centenas de jovens vietnamitas reunidos em Ho Chi Minh, a antiga Saigão, Barack Obama participou num exercício de perguntas e respostas. Uma rapper relativamente conhecida, Suboi, explicou-lhe como era difícil exercer a sua arte no país, e entoou ao líder americano um rap em vietnamita. Obama lembrou então a história do rap, "que começou como um meio de expressão para os afro-americanos pobres" e depois se converteu num fenómeno global. "Imaginem se na época o governo tivesse dito 'não' ao rap, alegando que algumas palavras são ofensivas", acrescentou, referindo-se à restrição da liberdade de expressão no Vietname, onde o espaço público é estritamente controlado pelo partido único.
"Se tentam suprimir as artes, acabam a suprimir os sonhos mais profundos" das pessoas, afirmou o presidente americano. "Senhor presidente, é tão bonito!", disse um jovem vietnamita antes de fazer a sua pergunta, provocando risos na plateia. "Pode ficar por aí, se quiser", respondeu Obama, sorrindo, com um tom que contrasta com o estilo rigoroso das autoridades do partido comunista vietnamita, que monopolizam habitualmente a palavra pública através dos meios controlados pelo Estado.
Outro jovem atreveu-se a perguntar se eram verdadeiras algumas informações divulgadas na internet, segundo as quais Obama teria fumado haxixe na juventude. "Não acredite em tudo o que dizem na internet", respondeu Obama.
Todos os jovens reunidos eram membros da YSEALI (Young Southeast Asian Leaders Initiative), um programa americano de formação de "líderes do futuro" que Barack Obama espera que seja mantido pelo seu sucessor na Casa Branca. Houve vários temas ligados à sua trajetória política e aos seus sonhos de juventude foram citados no encontro, após um início cheio de perguntas bastante formais.
Sonhar com um pai
O presidente americano lembrou que cresceu sem pai, sendo educado pela mãe e pelos avós. Após um período de raiva, "ao crescer dei-me conta de que, em vez de me preocupar pela ausência do meu pai, deveria perguntar-me o que podia fazer para assumir mais responsabilidades na minha própria vida", explicou a um auditório atento.
Nas ruas de Ho Chi Minh - que muitos continuam a designar por Saigão - milhares de pessoas reuniram-se durante a passagem do comboio de Obama, com bandeiras e cartazes com as frases: "Bem-vindo a Saigão, senhor presidente, adoramos-te". Este é um ambiente de festa incomum num país onde as manifestações são proibidas e as vozes discordantes ou opositoras silenciadas.
Na multidão, Tran Huu Duy, de 22 anos, jovem formado em Arte, lamenta não ter participado no debate. Barack Obama "é o homem mais poderoso do mundo, mas é muito próximo do povo, não é como os nossos líderes, que a única coisa que fazem é usar fato e recitar estereótipos". "Os líderes no Vietname não são uma fonte de inspiração para os jovens. Se uma pessoa aqui quiser tornar-se líder, tem de ter dinheiro ou familiares bem colocados entre as instâncias comunistas", acrescentou.
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