O distrito de Aveiro conquistou nos últimos meses o seu espaço no mapa ‘laranja’. Se durante as eleições à liderança do Partido Social Democrata Salvador Malheiro, diretor de campanha de Rui Rio, surgiu como um dos principais arquitetos para a eleição do novo líder social-democrata, é da ‘Veneza portuguesa’ que vem mais um protagonista para a vida da social-democracia portuguesa: André Neves, candidato à presidência da Juventude Social Democrata.
Ao jovem advogado, natural de S. João da Madeira, e presidente da distrital de Aveiro desde 2015, é lhe conhecida a proximidade a Rui Rio, candidato do qual foi apoiante nas últimas eleições internas do partido, mas ao qual rejeita “colagens”, advogando liderar uma “candidatura autónoma”.
No entanto, não é por isso que os elogios ao novo líder do PSD ficam no bolso, Rui Rio "é o líder certo para colocar o país em convergência com o crescimento da média da União Europeia e para fazer as reformas que o país precisa", afirmou na apresentação da sua candidatura em fevereiro. E nem por isso é difícil encontrar tantas semelhanças entre o discurso do antigo presidente da Câmara Municipal do Porto e o jovem político, que vão das palavras sobre a importância da transparência e credibilidade na execução dos cargos à estratégia de olhar para dentro antes de ir para fora, até os slogans de campanha “Hora de Agir”, de Rio, e “É Tempo da JSD”, de André Neves, que parecem soar em concordância no que toca a necessidade de reforçar a ‘jota’ antes de partir para o plano nacional.
“Voltar a colocar a JSD no centro da discussão política em Portugal”
André Neves afasta-se de Rio nas entrevistas que dá, mas aproxima-se nas conversas de corredor quando fala da proximidade ao atual líder social-democrata como um possível trunfo para o futuro da juventude partidária. Mas o novo presidente do PSD já assumiu que ficará afastado das eleições da estrutura onde militam os mais jovens, e por isso a estratégia passa por colocar a JSD outra vez na praça pública, com uma voz própria, mais autónoma.
“Candidato-me para voltar a colocar a JSD no centro da discussão política em Portugal”, afirmou, em comunicado, André Neves, que é também vice-presidente da comissão política nacional da atual direção liderada por Cristóvão Simão Ribeiro.
André Neves diz querer “relançar o debate político na JSD e devolver-lhe o peso e a importância política que já teve”, considerando que “se existe um afastamento entre os jovens e a política, a JSD tem de ser a protagonista de uma reconciliação”.
"Temos por isso que nos organizar para que [os jovens] possam fazer na sua juventude partidária, no caso a JSD, a sua participação política. Para que possam expor e discutir as suas ideias mesmo estando longe. Para que possam votar à distância. A JSD tem de ser pioneira em trazer uma agenda digital para o partido e para a sociedade", defendeu o presidente da distrital de Aveiro, sublinhando a importância desse caminho passar por um regresso às bases do partido — "o centro de ação política da JSD tem de deixar de ser o Parlamento e voltar a ser a própria JSD, a estrutura, as sedes, as comissões políticas concelhias, as distritais, a comissão política nacional".
É daqui que parte a visão de refundação das estruturas que André Neves tem defendido ao longo da campanha. "É importante termos a humildade de reconhecer que as estruturas partidárias estão caducas. Não estão adequadas à participação cívica e política que a sociedade deve ter. Por isto é que existe o afastamento dos jovens da política. É preciso refundarmos as estruturas partidárias", defende, afirmando que "os partidos têm de se adequar à democracia do século XXI".
O candidato ‘antissistema’
O próximo Congresso Nacional da JSD, o XXV, realiza-se entre os dias 13 e 15 de abril na Póvoa de Varzim, no distrito do Porto, e na corrida à sucessão do atual líder, o deputado Simão Ribeiro, para além do vice-presidente desta organização, André Neves, está a secretária-geral e deputada Margarida Balseiro Lopes.
À sua adversária, André Neves rejeita o rótulo de “sucessora natural”; a leiriense, secretária-geral da JSD, que nos últimos anos tem sido uma “número dois” do líder Simão Ribeiro.
"O que é a candidata natural? Eu sou o primeiro vice-presidente da JSD. Não é natural que o primeiro vice-presidente se candidate quando o presidente não se candidata? Não há mais natural do que isso?", questionou o candidato em declarações à revista Visão.
André Neves afirma rejeitar dinastias, sublinhando que a “JSD tem de ter um líder eleito em congresso pela vontade e com liberdade no exercício da democracia do voto dos delegados ao congresso”. “Rejeito uma JSD que tenha um líder definido a quatro ou a três anos antes do dia da eleição", reafirma na mesma entrevista.
Mas o jovem de 28 anos que em tempos sonhou ser craque da bola, e que ainda chegou a jogar federado durante vários anos, pode ter pendurado as chuteiras, mas continua de pontaria afinada quando o alvo é o ‘sistema’. É por isso que quando é chamado a pronunciar-se sobre os jovens e a política nos dias de hoje o presidente da distrital de Aveiro é perentório ao afirmar que "a democracia tem de se credibilizar, os partidos têm de se credibilizar". Um problema da qual as juventudes partidárias não fogem, para André Neves, atualmente, "as 'jotas' estão ainda mais descredibilizadas do que os próprios partidos por força dos jobs for the boys e dos jovens que andam na política à procura de emprego".
E mesmo quando na sua página de campanha na rede social Facebook, num pequeno artigo biográfico, salienta que tudo o que alcançou na vida o fez “sem favores”, “sem riquezas ou heranças”, assumindo assim ter enfrentado “os mesmos desafios que a sua geração”, o perfil de candidato antissistema mantém-se e evidencia-se.
Todavia, percorreu o sistema todo, da militância na ‘jota’, passando pela presidência da JSD de S. João da Madeira, foi também membro da assembleia de freguesia de S. João da Madeira e em 2013 foi o quinta da lista de vereação à câmara municipal do concelho, em 2015 foi eleito e em abril de 2017 foi reeleito líder da distrital de Aveiro, para agora poder chegar ao topo e tentar mudá-lo.
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