O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), Ivo Rosa, autorizou a Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ) a fazer escutas telefónicas e de varrimento eletrónico (que permite saber que telemóveis que estão a ser utilizados) aos aparelhos dos irmãos iraquianos detidos em Lisboa por suspeita de terrorismo.

Esta ordem, contudo, foi válida apenas durante uns meses em 2017, ano em que chegaram a Portugal, segundo relata o Expresso. O semanário conta que autoridades temiam que os "dois homens continuassem as atividades terroristas em Lisboa e acionassem contactos com células terroristas noutros pontos da Europa", pelo que pediram uma extensão desse período.

No entanto, o juiz Ivo Rosa recusou, justificando não existir qualquer conversa relacionada com os factos que estavam a ser investigados, além de considerar que os quatro meses de escutas eram já um período "muito longo", admitindo apenas o recurso à recolha de imagens e de sons. O MP recorreu então da decisão e o Tribunal da Relação de Lisboa acabou por dar razão ao MP e anulou o despacho de Ivo Rosa. 

Conta o Diário de Notícias, que entre a recusa do juiz e a decisão do tribunal da relação passaram quase três meses em que a investigação aos dois suspeitos de terrorismo esteve quase parada. 

O caso dos irmãos iraquianos ganhou mediatismo ao saber-se que Yasser A. era um dos empregados que estavam presentes na visita que o primeiro-ministro, António Costa, e o antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, realizaram em janeiro de 2018 ao restaurante Mezze, em Arroios, Lisboa, reconhecido pela integração de refugiados, que também foi visitado por Marcelo Rebelo de Sousa, em junho do mesmo ano.

Marcelo declarou publicamente que não teve informação sobre a eventual presença de Yasser no restaurante, mas relativizou o caso. "Por outro lado, eu passo a vida na praia, no hipermercado a fazer compras. Como imaginam, é muito difícil eu ter a certeza de que as pessoas que estão ali ao lado não virão mais tarde a ser consideradas ou já são consideradas suspeitas de serem ou não terroristas".

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que, mesmo se o suspeito já estivesse a ser vigiado, isso "isso não o limitava" em termos de circulação pelo país: "Podia encontrar-se comigo, com qualquer outro cidadão, numa praça pública, num supermercado".

Os dois iraquianos suspeitos de terem integrado as milícias do estado islâmico em Mossul, antiga capital do Estado Islâmico (EI) no Iraque, foram detidos na Grande Lisboa e estavam a ser monitorizados e vigiados pela PJ desde 2017.

Segundo fonte ligada à investigação, no âmbito da cooperação judiciária internacional, estes dois suspeitos terão estado em Mossul em 2016 e os elementos recolhidos indicam que pertenciam às fileiras das milícias do Daesh.

Em comunicado, a PJ informou que em causa estão indícios da prática dos crimes de adesão e apoio a organização terrorista internacional, terrorismo internacional, e crimes contra a humanidade.

“As provas recolhidas indiciam que estes dois indivíduos assumiram distintas posições na estrutura do ISIS / Daesh, sendo os mesmos igualmente objeto de investigação por parte das competentes autoridades judiciárias iraquianas”, referia a nota da Polícia Judiciária, sublinhando não existirem por agora indícios de que os crimes que são imputados aos dois indivíduos tivessem sido cometidos em Portugal.