“A OSCE está a ser transformada num apêndice da NATO e da União Europeia (UE). Sejamos realistas, a organização está à beira do precipício e surge a questão: ainda fará sentido investir para a revitalizar?”, disse Sergei Lavrov no seu discurso no conselho ministerial da organização.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) iniciou hoje o seu conselho anual, na Macedónia do Norte, perante a ausência dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, da Polónia e dos países bálticos que protestam contra a presença do chefe da diplomacia russa.

O ambiente que se vive ficou explanado logo na abertura da reunião, quando o atual presidente da conferência, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Macedónia do Norte, Bujar Osmani, afirmou que “a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia é um insulto” aos valores da OSCE.

A guerra “mina a confiança, o diálogo e a nossa capacidade de agir”, disse perante os representantes dos vários países, incluindo o seu homólogo russo, Sergei Lavrov.

O ministro russo chegou pouco depois das 10:00 locais (09:00 em Lisboa), sem se dirigir aos jornalistas presentes à entrada do concelho.

“Serguei Lavrov chegou à Macedónia para participar na reunião ministerial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Apesar das intrigas dos inimigos, estamos em Skopje”, escreveu então a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, na rede de mensagens Telegram.

A Bulgária, que primeiro autorizou Lavrov – alvo de sanções ocidentais pelo conflito na Ucrânia – a sobrevoar o seu espaço aéreo, revogou a autorização devido à presença no seu avião da própria Zakharova, também sob sanções e proibida de entrar na União Europeia.

“A perversa estupidez dos russófobos resultou no facto de que as autoridades, pela primeira vez na história, proibiram não um avião de estar no céu, mas uma pessoa de estar no avião”, comentou a porta-voz.

O Kremlin apoiou a porta-voz, presença habitual nas plataformas mediáticas russas, e o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, classificou a decisão da Bulgária como “totalmente absurda e até estúpida”.

O avião de Lavrov acabou por aterrar na Macedónia do Norte através do espaço aéreo grego, segundo agências de notícias russas.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros estónio, letão e lituano não falarão no conselho como forma de boicotar a cimeira, já que acreditam que a sua presença “corre o risco de legitimar o agressor que é a Rússia como membro de pleno direito da comunidade de nações livres”.

“O lugar de [Serguei] Lavrov é num tribunal especial, não na mesa da OSCE”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia, Margus Tsahkna.

Kiev também está a boicotar a conferência, criticando a presença de “um Estado que desencadeou a maior agressão armada na Europa desde o fim da II Guerra Mundial”.

A Polónia, que organizou a reunião de 2022 e se recusou a permitir que o ministro russo participasse, descreveu a presença de Lavrov em Skopje como “inaceitável”.

A organização, criada em 1975 como fórum de diálogo entre o Oriente e o Ocidente, atravessa a crise mais grave da sua história desde a invasão russa da Ucrânia.

A decisão de “autorizar [Serguei] Lavrov a participar visa cumprir o nosso objetivo de manter vivo o multilateralismo”, referiu na quarta-feira à noite o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.

Lavrov “precisa ouvir de todos, mais uma vez, por que é que a Rússia está condenada e isolada. Ele então será capaz de informar ao mestre do Kremlin que a União Europeia e a OSCE permanecem unidas na deploração do comportamento agressivo e ilegal da Rússia”, acrescentou.

Os Estados Unidos também apoiam fortemente este fórum europeu, tendo o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, feito um desvio a Skopje na noite de quarta-feira para mostrar o seu apoio, mas não estará presente nem hoje nem na sexta-feira.

A França é aí representada pela sua secretária de Estado para a Europa, Laurence Boone.

“Estou aqui para reiterar o nosso apoio à Ucrânia”, disse, acrescentando querer “mostrar que, apesar da obstrução russa, é possível fazer a OSCE funcionar”.