Ao ser anunciada a apresentação da candidatura de Saif-al-Islam, procurado pela justiça internacional, vários altos responsáveis locais encerraram as instalações onde podem ser adquiridos os documentos eleitorais.

“Rejeitamos a candidatura daqueles que usaram força excessiva durante a revolta do povo líbio e que são alvo de mandados de prisão do sistema de justiça líbio e do Tribunal Penal Internacional (TPI)”, declarou o Conselho de Notáveis e Sábios de Misrata, 200 quilómetros a oeste de Tripoli, bastião da revolta contra o regime de Kadhafi e de onde vieram as milícias mais poderosas do oeste da Líbia.

No comunicado, divulgado na rede social Facebook, os “notáveis” de Misrata apelaram aos “patriotas livres” para se manifestarem contra a realização das primeiras eleições presidenciais por sufrágio universal no país.

Domingo, num vídeo divulgado nas redes sociais em que surgem dezenas de pessoas reunidas na praça central da cidade, os “líderes, revolucionários e notáveis de Zaouia” (45 quilómetros a oeste de Trípoli) declararam recusar “categoricamente” a candidatura dos “dois criminosos de guerra, Seif al-Islam e Khalifa Haftar, procurados pela justiça”.

A candidatura presidencial de Haftar, o “homem forte” do leste da Líbia, estará para breve, segundo a imprensa líbia.

Um funcionário da Alta Comissão Eleitoral (HNEC, na sigla em inglês), citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), indicou hoje que, no domingo, várias secções eleitorais tiveram de encerrar face à pressão de “pessoas que contestam a candidatura presidencial de Seif al-Islam”.

Segundo a fonte, que solicitou anonimato, “vários centros de votação foram encerrados em Zaouia, Ghariane, Khoms e Zliten”, onde, porém, não houve confrontos.

O encerramento das assembleias de voto impedirá os habitantes destas localidades inscritas nos cadernos eleitorais de obterem o cartão de eleitor.

Segundo a HNEC, 2,83 milhões de eleitores estão registados para as eleições presidenciais marcadas para 24 de dezembro (as legislativas realizar-se-ão um mês depois), ainda incertas devido às divergências entre os beligerantes que podem inviabilizar um laborioso processo político patrocinado pela ONU.

Hoje de manhã, segundo a HNEC, Saif al-Islam, 49 anos, apresentou a sua candidatura oficial às eleições presidenciais, tendo recebido também o respetivo cartão de eleitor.

A HNEC anunciou na segunda-feira passada a abertura das candidaturas para a eleição presidencial.

As eleições devem constituir um virar a página após uma década de guerra civil, iniciada após a queda do regime de Muammar Kadhafi, morto em 2011 durante uma revolta popular, e encerrar as lutas entre os dois campos rivais, um no oeste e outro no leste do país.

No final de julho, Saif al-Islam, filho mais novo do ex-ditador líbio, falou, em entrevista ao New York Times, da sua intenção de se candidatar à presidência.

O agora candidato foi capturado em 2011 por um grupo armado em Zenten, no noroeste da Líbia, tendo sido condenado à morte em 2015, depois de um julgamento rápido.

No entanto, o grupo que o deteve recusou-se a entregá-lo às autoridades ou ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que o procura desde 2011 sob a acusação de “crimes contra a humanidade”. O grupo libertou-o em 2017 e não deixou rasto.