É como se na cidade se começasse a arranjar espaço para deixar peregrinos, voluntários e curiosos entrar. Espera-se que nos próximos dias, em Lisboa, haja mais de um milhão de pessoas a movimentar-se entre os vários palcos do grande evento que é a Jornada Mundial da Juventude. Empresas públicas e privadas esperam a dificuldade de mobilidade na cidade e, por isso, muitas deram aos trabalhadores a possibilidade de teletrabalho durante estes dias. Mas houve quem não esperasse por isso e aproveitasse este período para tirar férias longe do bulício da capital.

O SAPO24 falou com vários lisboetas e habitantes em Lisboa, católicos e não católicos, que escolheram ver a JMJ à distância. Hoje conta as histórias de Luísa e de Beatriz que preferem evitar a inquietação e os constrangimentos por que a cidade vai passar na próxima semana.

Luísa Braga da Cruz Barosa é professora de ioga, explica ao SAPO24 que foi há dois meses que decidiu sair de Lisboa. "Conjuguei. Procurei estar fora e escolher este período para tirar as minhas férias. Temo a confusão da cidade, não gosto de multidões portanto nunca iria estar no meio de tantas pessoas." Beatriz Martins, técnica de comunicação na JRS, uma ONG da Companhia de Jesus, também começou cedo a planear a fuga da cidade, "desde abril, maio, tenho estado a tentar engendrar um plano para sair de Lisboa." Tentou sair com as amigas, mas "boa internet para o teletrabalho" revelava-se sempre um problema, e acredita "que haja muita gente, como nós, a tentar encontrar uma forma de não estar em Lisboa esta semana." Beatriz não conseguiu arranjar uma solução para estar fora durante todo o evento, mas teve a sorte de no trabalho darem o dia 3 e 4 e aproveitou. "Vou na quarta à noite para a minha casa de Ferreira do Zêzere. E depois volto no domingo, o mais tarde possível. Vou olhar para o trânsito, vai ser daqueles dias que também vai ser uma loucura. Para já é este o plano, se pudesse, obviamente, que ficava lá esta semana toda e a próxima, porque há muitas pessoas de fora que vão ficar em Lisboa."

Também Luísa regressa domingo a Lisboa, não pode jogar com o horário de chegada porque vai para fora do país e tem regresso marcado de avião. "Não sei como vai ser. Não pensei... Pelo menos estou em sentido contrário às pessoas. Tinha ponderado... e depois arrependi-me de não vir mais tarde, mas também não podia estar nesta altura a tirar mais dias, portanto foi o possível", justifica.

Para uma e outra, a confusão é o principal mote de saída, Luísa garante que se não fossem as férias "iria ficar fechada em fechada", principalmente porque vive no centro de Lisboa e sabe que a sua "zona ia ficar muito condicionada". Na sexta-feira, 28 de julho, falou com o SAPO24 antes de partir de férias e disse já estar a notar "algumas movimentações" por ali. Beatriz também quer fugir do "caos", explica que nunca viu "uma coisa assim deste tamanho" contudo, não tem pena de a perder. "Felizmente haverá jornalistas que me vão informar do que está a acontecer, não quero estar em Lisboa", brinca. E aquele que para Luísa seria o plano B - ficar em casa - é o plano A para muitos conhecidos de Beatriz, "há pessoas que estão a ir abastecer previamente aos supermercados para não sair durante a semana da JMJ. Para mim isso é demasiado, demasiada loucura, demasiada confusão, barulho etc." E faz uma extrapolação com base no vê à sua volta, acho que há muitos lisboetas a querer sair. No dia em que vou sair, ainda nem vi que estradas vão estar cortadas."

Esta "confusão", Beatriz acredita que por viver em Camarate não a afetaria diretamente, mas tem "a certeza que haveria muita movimentação ali." Tanto Beatriz como Luísa não vão arrendar as casas no período em que saem, mas ambas conhecem casos próximos que o farão.

E se, para Beatriz, a única proximidade que quer à JMJ é através da comunicação social, Luísa tem "imensa pena de não ver o Papa Francisco, é o grande senão" da ida, diz. Explica que foi ver "o Papa Bento XVI quando foi na Praça do Comércio" e também viu o Papa João Paulo II a passar quando veio a Lisboa.

Embora as duas concordem na distância, distingue-as a percepção acerca do evento. Luísa pensa "que é muito positivo a todos os níveis. É uma oportunidade para o país. O país precisa de amadurecer nesse sentido. Aproveitámos para melhorar algumas infraestruras, que é uma coisa que o país precisa. Essencialmente acho que é uma oportunidade tanto para o país como para os jovens, acho que é saudável o convívio entre os jovens, desde que isto não resvale muito, mas é bom." E resume, "no fundo, é um motivo de orgulho para o país, uma oportunidade de crescer e evoluir um pouco." Embora, saliente aquilo que acredita ser "um bocadinho à português, ainda não está tudo 100%, mas que será tudo resolvido em cima da hora", e exemplifica "tenho um familiar que vai ser médico voluntário, e a semana passada ainda não sabia o que ia fazer".

Já Beatriz tem muitas dúvidas acerca do resultado evento, embora espere e deseje que no fim, o país se saia bem e beneficiado, "não sei se vai ser positivo, tenho dúvidas. Houve um investimento muito grande, não sei se o lucro compensará. Gostaria no final que partilhassem as contas e que mostrassem afinal quanto que é que o país beneficiou. Espero e gostava que sim, mas não sei, para já é uma incógnita."