"Vimos uma oportunidade onde muitos encontraram uma ameaça. Temos de respeitar a alma do Teatro Sá da Bandeira e dedicar aquele monumento à cultura. Com a história de felicidade e sucesso que a Lello conhece, manter um ícone faz parte de aceitar a sua vocação primeira", afirmou a presidente do Conselho de Administração da Livraria Lello, Aurora Pedro Pinto, na cerimónia de assinatura da escritura de aquisição do teatro, vendido, em maio de 2019, em hasta pública pela autarquia.

Em declarações aos jornalistas, Aurora Pedro Pinto destacou a importância deste dia não só para a Lello, como para a cidade e para a cultura e o teatro, assegurando que toda a experiência adquirida pela Lello na área cultural será empreendida na valorização do Sá da Bandeira.

Aquela responsável não quis, contudo, detalhar o projeto que está a ser pensado para o espaço, revelando apenas que passará por uma vertente "ligada à arte e à cultura".

"Não vou definir aqui em concreto situações e tipologias de espetáculos porque é um projeto grande, que ainda está a ser estruturado, e a seu tempo daremos conta com o pormenor necessário. É ligado à cultura, isso é que é importante", disse.

Aurora Pedro Pinto deixou claro que o edifício vai sofrer obras de restauro e conservação, repondo o seu estado original.

"Já estamos a trabalhar na estruturação do que lá queremos fazer. Vamos agora começar a pensar inclusive em arquitetos, em entidades que nos possam ajudar a transformar o Teatro Sá da Bandeira numa joia ainda mais única do que aquilo que ela é", detalhou, escusando-se a adiantar datas.

Lembrou que "o teatro está ocupado e [que] há tempo” para ir “gizando um programa e uma estruturação até que as coisas juridicamente se resolvam".

O sonho da Lello, é, contudo, maior do que a "união destes dois monumentos centenários no Porto", explicou a responsável, que espera que o Sá Bandeira possa alavancar em pelo menos "um terço" a procura nacional e internacional pelo Porto como “destino cultural e patrimonial de referência".

"Como somos um pouco loucos, temos um sonho muito grande. (…) Esse sonho passará por criar um conjunto de patrimónios ligados à cultural e que permitam que a cidade do Porto seja visitada e eleita como ponto de visitação pelo lado cultural e patrimonial", disse.

Também o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, congratulou-se com a decisão tomada pelos sócios da Livraria Lello, salientando que este projeto não surgiu da escolha do autarca, mas de um ato livre - a hasta pública.

Moreira, que lembrou a "via sacra" que a autarquia e os antigos proprietários do imóvel tiveram de passar por conta das exigências do Tribunal de Contas (TdC), explicou que a aquisição do Sá Bandeira conseguiu um amplo consenso partidário em véspera de eleições autarquias de 2017, perante o receio de que quem viesse a adquirir o teatro pudesse lá “exercer uma outra atividade qualquer" ou destruí-lo, cumprindo o Plano Diretor Municipal em vigor.

Com a venda em hasta publica, o autarca considera que foi conseguido "um triângulo virtuoso" entre o interesse patrimonial da cidade, o direito ao negócio e ao empreendedorismo.

"Isto demonstra aquilo que nós vimos dizendo há bastante tempo, pelo menos desde a primeira vez em que eu fui eleito, que é que a cultura é muito importante e é um bom negócio", defendeu.

Questionado sobre o que espera para o Teatro Sá Bandeira, o autarca lembrou que aquele teatro foi sempre um teatro de revista, com uma programação "diferente" do Teatro Nacional de S. João ou do Rivoli, mostrando-se convicto que os proprietários vão continuar a promover essa diferença, em articulação com a agenda cultural da cidade.

A escritura pública de aquisição do Teatro Sá Bandeira chegou a estar agendada para 27 de março, dia mundial do Teatro, mas não se realizou devido à pandemia e covid-19.

O edifício, recentemente classificado como Monumento de Interesse Público, foi adquirido em hasta pública em maio de 2019, por 3,5 milhões de euros, estando o novo proprietário obrigado "a destinar exclusivamente o imóvel" ao Teatro Sá da Bandeira, "não podendo afetá-lo a um uso distinto", sob pena de reverter para o município.