A polémica na União Europeia levou a americana Fiona Scott Morton a desistir do cargo de economista-chefe na direcção-geral da Concorrência, para o qual tinha acabado de ser nomeada pela comissária Margrethe Vestager, cujo futuro pode agora estar em risco.

"Dada a controvérsia política levantada pela escolha de uma não-europeia para ocupar este cargo, e a importância para a Direcção-Geral da Concorrência de ter o apoio total da União Europeia, decidi que o melhor caminho seria retirar a minha candidatura e não aceitar o cargo de economista-chefe", anunciou Fiona Scott Morton em carta enviada à comissária Margrethe Vestager.

A oposição à escolha de Fiona Scott Morton foi marcada pelos principais quatro grupos políticos com assento no Parlamento Europeu, que alegaram conflito de interesses: a americana fez parte da administração Obama, além de ter sido consultora da Amazon, Apple ou Microsoft, gigantes tecnológicas que teria de regular e supervisionar já a partir de 1 de Setembro.

O presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos fortes críticos da decisão de Vestager, alegando o risco da interferência de Washington em matérias europeias. À França juntaram-se Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Bélgica e Luxemburgo.

Esta foi a primeira vez que numa selecção é escolhido alguém de fora dos 27 Estados-membros. Macron considerou "extremamente preocupante" que não houvesse candidatos europeus à altura, facto que para o presidente francês pode dizer mais das regras do concurso do que da falta de competência dos profissionais locais.

A Comissão Europeia terá agora de abrir novo concurso, o que deverá acontecer apenas em Setembro, depois do período de férias.

Este incidente poderá ter comprometido as ambições e Vestager, indicada pela Dinamarca para a presidência do Banco Europeu de Investimento (BEI) e considerada até aqui uma das favoritas para substituir Werner Hoyer, que termina o seu mandato este ano.

Se escolheu uma americana para defender os interesses europeus em matérias tão sensíveis como a regulação do mercado digital, que garantias oferece quando, por exemplo, o BEI tiver de analisar financiamentos de projectos ligados à energia nuclear, como tem a França, ou à defesa? Este parece ser o novo dilema.