"Estou de consciência tranquila", começou por dizer Luís Montenegro em reação à aprovação da moção de confiança à direção de Rui Rio. Frase que repetiu por cinco vezes nas declarações que prestou aos jornalistas, esta manhã, no Porto.
“Apesar de não ter sido convidado para participar nessa reunião [reunião do Conselho Nacional] segui de perto o que lá se passou, sei que foi muito viva, à PSD, com uma discussão leal, frontal e plural”, referiu.
O antigo líder parlamentar do PSD escusou-se a comentar os ataques que lhe foram diferidos, “por mais injustos, despropositados, desadequados ou mesmo falsos”, que tenham sido.
“A minha iniciativa teve um efeito inegável: acordou um gigante adormecido que é o PSD. Estou convencido que nada vai ficar como antes, na mesma; estou convencido de que o PSD, mais do que nunca, se vai concentrar em garantir a sua unidade interna, em garantir ao país uma oposição firme efetiva e que possa dar corpo ao descontentamento que se sente na sociedade portuguesa, e um PSD concentrado em apresentar ao país uma alternativa política forte, capaz de o levar a uma terceira vitória nas eleições legislativas”.
Essa vitória nas legislativas, sublinhou o antigo deputado social democrata, “é o grande objetivo do PSD para este ano de 2019”.
Montenegro continuou afirmando que as suas "desavenças estratégicas" não desaparecerão "de um momento para o outro". Mas que, a partir de agora, não irá insistir nas suas intervenções públicas em expressar essas divergências. "Deixarei todo o espaço de afirmação política à direção do PSD, como de resto fui fazendo ao longo do último ano”, disse aos jornalistas.
“Aproveitarei a minha intervenção para fazer um combate cerrado ao governo, ao primeiro-ministro António Costa e ao partido socialista”, continuou. “Sou daqueles que acha que em Portugal o rei vai nu”.
“As políticas do governo não estão a fazer Portugal crescer como deviam (…), temos as desigualdades sociais a manterem-se ou a agravarem; temos os serviços públicos à míngua, a ausência de investimento é gritante em vários domínios, como a saúde, a educação ou os transportes, nas áreas de soberania como a justiça ou administração interna. E temos um governo incapaz de reformar qualquer sistema público”.
Sobre a postura do PSD, Montenegro defende que o partido deve apresentar-se ao país "mobilizado e mobilizador” e empenhado "em preparar o futuro".
"[O PSD] Terá de apresentar um projeto direcionado a dar condições de mais bem-estar aos portugueses se especial a uma classe média fustigada pelos impostos e que vive na pele os efeitos do desinvestimento nas áreas que atrás enunciei. Um projeto político que deve focar-se em dar esperança aos jovens, em dar-lhes uma educação exigente e com qualidade para que possam acalentar o sonho dos seus projetos de vida e de integrar o mercado de trabalho de forma efetiva.”
Reiterando a sua disponibilidade, voltou a referir que estava de consciência tranquila e que esta "última semana tornou o PSD mais forte e mais apto".
Respondendo às questões dos jornalistas, o antigo líder parlamentar do PSD, reafirmou que estará "ao lado do PSD". "Do lado em que sempre estive”, completou.
Luís Montenegro salientou que se mostrou disponível para liderar hoje o PSD sem estar a pensar no futuro, isto é, nas funções que o próprio venha a desempenhar no futuro do partido. “Creio que a discussão de fez no PSD, a vivacidade que esteve presente, o confronto de ideias permitem concluir que há um vencedor que é o partido social democrata”.
"Podem andar à procura de vencedores e vencidos, mas o único que verdadeiramente venceu foi o PSD”, terminou.
Sobre o abraço de Rui Rio a Luís Filipe Menezes, Montenegro diz que vê com bons olhos os esforços conjuntos de ilustres de partidos e acrescenta: “Nunca me escusei a abraçar o dr. Rui [Rio] mesmo quando frontalmente discordei dele”.
“Nunca pensei, não penso nem atuo em função de lugares para mim nem para ninguém”, respondeu Montenegro quando questionado sobre a possibilidade de as pessoas que concordam com Rui Rio ficarem fora das listas.“Não tomei esta iniciativa a pensar nos lugares de ninguém”.
“Ainda bem que o PSD continua a ser um partido de homens e mulheres com coragem [de defender aquilo em que acreditam]”, congratulou-se.
Sobre a posição atual de Rui Rio agora no PSD, Montenegro clarifica que este "tem agora as condições para executar o seu projeto".
“Creio que este ‘abanão’ é útil para quem dirige hoje o partido. Nunca questionei a legitimidade que o dr. Rui Rio adquiriu por eleições diretas há um ano. O que questionei foi o momento em podia haver uma clarificação. Creio que ele tem agora as condições para executar o seu projeto e poder dar ao PSD a terceira vitoria eleitoral consecutiva nas legislativas (...). Acho que a obrigação de um líder do PSD em enfrentar umas eleições para as vencer é a mesma independentemente das circunstâncias".
“Não ignoro as dificuldades eleitorais que atravessamos”, assumiu Montenegro, reiterando porém que o partido tem condições para enfrentar e vencer todos os desafios eleitorais deste ano.
Questionado pelos jornalistas sobre um cenário de mau resultado nas legislativas e sobre se, nesse cenário, Montenegro se candidata ou não à liderança do partido, o antigo deputado respondeu: “Falamos no dia das eleições”.
O Conselho Nacional do PSD aprovou na madrugada desta sexta-feira a moção de confiança à Comissão Política Nacional liderada por Rui Rio, com 75 votos a favor, 50 contra e um nulo.
Votaram 126 conselheiros nacionais, o que totaliza uma aprovação da moção da confiança por cerca de 60% dos votos.
A moção de confiança tinha sido apresentada pelo presidente do partido, depois de o antigo líder parlamentar Luís Montenegro ter desafiado Rui Rio a convocar diretas.
Rio rejeitou o repto de antecipar as eleições - completou no domingo metade do seu mandato, um ano -, mas pediu ao órgão máximo do partido entre Congressos que renovasse a confiança na sua Comissão Política Nacional.
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