Há uma semana Luís Montenegro, antigo líder parlamentar do PSD e um dos nomes de maior destaque do antigo executivo de Pedro Passos Coelho, desafiou Rui Rio a convocar todos os militantes para eleições diretas, um ano depois da eleição que opôs o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto a Pedro Santana Lopes. Rio fintou o repto lançado e convocou um Conselho Nacional extraordinário para votar uma moção de confiança à sua Comissão Política, estrutura do partido que engloba a direção.

Nos seus escritórios, a cerca de 500 metros do Palácio Hotel, na Avenida da Boavista, no Porto, Montenegro foi figura ausente do Conselho, onde não podia participar devido ao facto de ter renunciado ao mandato de deputado e de, segundo Pedro Mota Pinto, presidente da mesa do Conselho, não ter entregado um documento em seu nome que pedisse para ser ouvido.

Num Conselho Nacional que durou onze horas, a discussão sobre a estratégia do partido e o caminho a seguir na oposição foi tanta quanto aquela que se travou sobre a forma de votação desta moção de confiança, braço no ar ou voto secreto.

O modo como iria ser votada a moção de confiança acabou mesmo por ser decidido através de uma outra votação. Resultado, votou-se de braço no ar a favor de um voto secreto sobre a moção de confiança. 78 conselheiros a favor contra 26 e registaram-se três abstenções.

À decisão do Conselho Nacional seguiu-se meia hora de grande confusão: primeiro, o presidente do PSD, Rui Rio, fez a intervenção final de uma reunião que já levava mais de nove horas e apelou ao voto secreto.

No entanto, em seguida, o presidente do Conselho Nacional, Paulo Mota Pinto, anunciou que iria submeter à decisão dos conselheiros os requerimentos que pediam formas diferentes de votação da moção de confiança à direção de Rui Rio, o que provocou assobios e apupos na sala, audíveis no piso inferior onde estava a comunicação social.

Na sequência desta decisão, os membros do Conselho Nacional de Jurisdição abandonaram a sala da reunião por terem entregado um parecer à Mesa onde defendiam que o requerimento de um décimo dos conselheiros nacionais a pedir o voto secreto era potestativo (obrigatório). Este requerimento tinha sido entregue ao início da tarde por um grupo de apoiantes de Luís Montenegro, entre os quais o presidente da distrital de Lisboa do PSD.

Finalmente, é chegada a hora da votação da moção de confiança, que Rui Rio veria aprovada com 60% dos votos. Uma hora depois, os resultados davam uma vitória clara a Rui Rio: 75 votos a favor, 50 contra e um nulo, um resultado, saliente-se, superior, em percentagem, aos 54% dos votos que conseguiu nas diretas.

Estas foram as declarações que marcaram a noite:

Rui Rio: “Não foi seguramente a mim que faltou a coragem. Faltou, sim, a quem há um ano atrás, na altura própria, não teve o arrojo de se assumir, poupando o PSD a este espetáculo pouco dignificante que estamos a dar aos portugueses”

Rui Rio: "Estou à espera de, pela primeira vez, perder umas eleições, enquanto os que me desafiam estão na posição inversa: estão à espera de conseguir ganhar uma eleição pela primeira vez na vida".

Fernando Negrão: "Todos os partidos passam por crises. Nós assistimos a crises no Partido Socialista, assistimos a crises no Bloco de Esquerda, assistimos a crises noutros países e, portanto, é natural que também aconteça o mesmo no PSD. Estamos de facto numa situação dessas, como eu disse no início: sairemos daqui reforçados".

Luís Filipe Menezes: “Em coerência, acho que nesta altura devemos cerrar fileiras à volta do líder do partido, ajudá-lo a arrepiar caminho em algumas coisas, tirar-lhe do lado alguns maus amigos que não o ajudam em coisa nenhuma. Só se querem vingar através de Rui Rio de um passado de que não gostavam".

Hugo Soares: “O doutor Rui Rio demonstrou mais uma vez hoje que tem mais força para falar contra militantes do seu partido do que contra o primeiro-ministro de Portugal”.

Luís Filipe Menezes: “Foi uma pena não terem esclarecido essa matéria [da votação] ao longo destes dias, era escusada toda esta especulação. Só não há voto secreto nos partidos fascistas e nos partidos marxistas radicais"

Rui Rio: "Neste momento, já é claro que o PS pode perder as próximas eleições, o que ainda não é claro é que o PSD as possa ganhar. Isso é o que nós temos que fazer, é essa a tarefa que temos pela frente”