A Justiça brasileira poderia ter travado as celebrações de aniversário de Lula caso tivesse mantido o julgamento, previsto para hoje no Superior Tribunal de Justiça, que analisaria um recurso apresentado pela defesa do político em relação à sua primeira condenação.
Nesse processo, o ex-chefe de Estado foi condenado em terceira instância a oito anos e 10 meses de prisão, pena da qual já cumpriu uma sexta parte, por favorecer a construtora OAS em contratos com a petrolífera estatal Petrobras, pelos quais teria recebido como suborno um apartamento de três andares no litoral de São Paulo.
Sem esse julgamento à vista, o antigo líder sindical nascido em Garanhuns, em 1945, comemorou o seu aniversário num ato privado e sem grandes celebrações, embora lhe tenham sido feitas várias homenagens virtuais, como por parte do Instituto Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT), formação política que ajudou a fundar em 1980 e que ainda lidera.
O ex-mandatário (2003-2010), sobre quem pesam duas condenações por corrupção e várias outras acusações, permanece em quarentena desde meados de março para se proteger do novo coronavírus e adotou o mundo virtual como meio de comunicação, um campo em que ainda não conseguiu mostrar a sua força política, tal como fazia nos comícios de rua.
A partir das redes sociais e com constantes entrevistas, o ex-líder sindical tenta manter vivo o legado do PT, principalmente devido às eleições municipais do próximo mês, nas quais se espera um resultado pouco animador para a formação que governou o Brasil por 13 anos.
Mas a garra política do principal líder da esquerda brasileira já não é a mesma desde que os seus problemas judiciais se intensificaram, os quais o levaram a cumprir 580 dias de prisão, entre abril de 2018 e novembro de 2019.
Desde então, o ex-Presidente, que recorre da sua sentença em liberdade condicional, tem estado mais concentrado em defender sua inocência do que a alavancar o PT, partido que sofreu um pesada derrota após a vitória do líder de extrema-direita brasileira, Jair Bolsonaro, nas presidenciais de 2018.
O ex-torneiro mecânico, que se encontra impedido politicamente de concorrer às eleições após ser condenado por corrupção, também teve uma reviravolta na sua vida pessoal após conhecer Rosangela Silva, com quem começou um relacionamento ainda na prisão e com quem tem planos para se casar assim que termine a pandemia da covid-19.
Sem Lula a atuar plenamente no campo político, a esquerda brasileira move-se às cegas no campo da oposição e não conseguiu tornar-se num contrapeso para Bolsonaro, que encontrou na direita mais moderada, mais concretamente no governador de São Paulo, João Doria, o seu principal opositor.
O PT tem concentrado todos os seus esforços em fazer campanha a favor de seu principal líder e tem enterrado o debate sobre a sucessão de Lula, que, caso a Justiça permitisse e o próprio político aceitasse, poderia concorrer às eleições presidenciais de 2022, com 77 anos.
Lula viu-se obrigada a passar o seu testemunho em duas ocasiões, primeiro à ex-Presidente Dilma Rousseff, que foi destituída do cargo em 2016, num julgamento político após perder o apoio do Congresso, e depois ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a quem entregou a responsabilidade de ser candidato presidencial depois de ser impedido pela justiça de participar no sufrágio de 2018, devido à sua condenação por corrupção.
Tanto Dilma Rousseff quanto Haddad, derrotado na segunda volta das presidenciais por Bolsonaro, não conseguiram expressar o carisma do seu padrinho político, que nunca deixou de movimentar o PT, mesmo quando estava preso.
Desde então, nenhum outro nome conseguiu abrir-se dentro do seio do PT, que permanece em silêncio sobre qual poderá ser o futuro do partido além de Lula.
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