“Acredito que [a tentativa de golpe] não teria acontecido sem ele”, afirmou Luiz Inácio Lula da Silva, numa entrevista à rádio Itatiaia, que coincidiu com a operação policial numa dezena de estados brasileiros, que tem diretamente como alvo o seu antecessor na Presidência, além de vários dos seus antigos ministros e militares de alta patente.

O chefe de Estado brasileiro destacou que Bolsonaro “não estava preparado” para perder as eleições de 2022, nas quais o atual Presidente venceu o líder da extrema-direita por uma margem estreita, e “nem teve coragem” de assistir à sua tomada de posse a 1 de janeiro de 2023.

“Ele ficou em casa chorando e foi para os Estados Unidos. Deve ter participado da construção daquela tentativa de golpe. Vamos aguardar as investigações”, afirmou, acrescentando: “Espero que possamos ter um resultado do que aconteceu no Brasil o mais rápido possível”.

Lula afirmou ainda que “obviamente há muita gente envolvida” no caso.

“O facto concreto é que houve uma tentativa de golpe, houve uma política de desrespeito à democracia, uma tentativa de destruição do processo democrático e essas pessoas têm que ser investigadas”, concluiu o Presidente do Brasil.

No âmbito da operação de hoje, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou que Bolsonaro entregasse o passaporte no prazo de 24 horas e proibiu-o de manter contacto com outros investigados.

Um dos advogados do ex-Presidente brasileiro garantiu que Bolsonaro vai entregar o seu passaporte às autoridades depois de ter sido alvo, hoje, de uma operação policial por suspeita de “tentativa de golpe de Estado”, que culminou nos motins de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

“Em respeito às decisões tomadas hoje”, Bolsonaro irá “entregar seu passaporte às autoridades”, escreveu no X (ex-Twitter) Fabio Wajngarten, advogado e colaborador próximo do ex-chefe de Estado (2019-2022).

A Polícia Federal anunciou, em comunicado, que lançou uma vasta operação, com 33 buscas e quatro mandados de prisão, no âmbito de uma investigação sobre “uma organização criminosa que participou numa tentativa de golpe de Estado (. ..) para obter vantagens políticas, mantendo o Presidente da época no poder”.

O Presidente em questão é Jair Bolsonaro, derrotado em outubro de 2022, na tentativa de reeleição contra Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma semana após a tomada de posse de Lula, a 8 de janeiro de 2023, milhares de bolsonaristas saquearam locais do poder em Brasília, tumultos semelhantes à invasão do Capitólio dois anos antes nos Estados Unidos.

Segundo a imprensa brasileira, quatro generais foram alvo da operação de hoje, como Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente ao lado de Jair Bolsonaro, e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

Na semana passada, um dos filhos de Bolsonaro foi alvo de outra operação policial, como parte de uma investigação sobre espionagem ilegal sob o Governo do ex-presidente de extrema direita.