Lula da Silva, apesar de alegar que os EUA sempre relegaram a América Latina para segundo plano, disse esperar que o novo Presidente norte-americano mude a política em relação à região e, entre outras coisas, acabe com os bloqueios contra Cuba e a Venezuela.
“Sobre Biden tenho a expectativa de que ele atue pelo menos de forma mais civilizada com a América Latina. Os americanos nunca gostaram da América Latina e sempre deram pouca atenção a ela”, disse Lula da Silva, numa entrevista ao portal de notícias brasileiro UOL.
O líder do Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil entre 2003 e 2016, considerou necessário que acabem com essas “travessuras do bloqueio a Cuba, que acabem com aquelas travessuras do bloqueio da Venezuela e que permitam a cada país viver em silêncio sua democracia da maneira que o povo a entende”.
O antigo chefe de Estado ironizou que um país governado por Donald Trump não tem o direito de duvidar da validade da democracia na Venezuela.
“Não é possível que um político que agiu como um troglodita como Trump possa acreditar que a Venezuela não é democrática”, disse.
“A política externa é algo sagrado, é uma relação de respeito, uma relação civilizada. E espero que Biden aja assim em relação à América Latina, que seja mais flexível, que permita aos cubanos ser definitivamente livres e que os venezuelanos podem decidir seu futuro sem a intervenção dos americanos”, defendeu o ex-presidente.
Sobre as divergências entre Biden e o Governo do Brasil nas questões ambientais, Lula da Silva, sem fazer referência ao atual Presidente, Jair Bolsonaro, garantiu que o problema é que os EUA rejeitam qualquer tipo de protagonismo na América Latina.
“Os americanos não suportam a ideia de o Brasil ser protagonista. No meu Governo (2003-2010), o Brasil tinha algumas lideranças e era muito respeitado na América Latina, África e até na União Europeia. O Brasil ajudou a construir o BRICS [fórum que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], e os americanos jamais aceitarão que o Brasil seja o protagonista”, afirmou.
“Por isso preferem um Governo submisso, um lambe botas. Mas se o PT voltar ao governo, o Brasil terá uma política externa soberana e altiva, que dará prioridade à relação Sul-Sul sem desrespeitar os irmãos ricos do norte. O Brasil já mostrou que isso é possível”, defendeu.
Lula da Silva criticou a atual política externa do país e, principalmente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, que já disse não se importar que o país seja considerado um pária internacional por suas questionadas posições internacionais.
“Em primeiro lugar, não temos política externa brasileira. Nunca na minha vida imaginei que o Brasil pudesse viver a degradação internacional que vive”, frisou.
Na longa entrevista, Lula da Silva voltou a dizer que é inocente e que quer justiça ao comentar os dois processos em que foi condenado na Lava Jato, operação policial liderada pelo Ministério Público Federal que investigou desvios na estatal Petrobras e outros órgãos públicos.
O núcleo principal da operação, os promotores que atuaram na cidade de Curitiba, é suspeito de que agir em conluio com o ex-juiz Sérgio Moro. A suspeita é balizada na divulgação de diálogos obtidos por um ‘hacker’ que invadiu os telemóveis dos procuradores que, agora, estão sendo usados pelos advogados do ex-presidente.
Este diálogos sugerem, segundo a defesa do ex-presidente, que procuradores brasileiros cooperaram de forma ilegal com autoridades do sistema de justiça dos EUA nas investigações contra a Odebrecht, empresa que agora se chama Novonor.
“A Lava Jato foi construída como um instrumento de comunicação. Houve um acordo entre o [ex-juiz, Sérgio] Moro, [o procurador que chefiava a Lava Jato em Curitiba, Deltan] Dallagnol e os meios de comunicação que iriam tornar verdade tudo que se apresentasse. Eu vivi isto na pele. Já provei minha inocência e agora estou esperando que provem a minha culpa”, afirmou.
O ex-presidente avaliou que o ex-juiz Sérgio Moro, que o condenou num processo da Lava Jato e depois se tornou ministro do Governo do atual Presidente, Jair Bolsonaro, é um “ídolo de barro” que a imprensa brasileira criou.
“O Moro é um ídolo de barro que a [rede de televisão] Globo criou (…) Ele arquitetou com os meios de comunicação que só era possível [combater a corrupção] se os meios de comunicação dessem a cobertura total para ele. Estou falando de quatro anos, 100% todo dia, de manhã, de tarde e de noite [os media] só com matérias favoráveis ao Moro”, acusou o antigo chefe de Estado.
“Moro se tivesse de competir com Jesus Cristo ganhava. O Moro era endeusado 24 horas por dia. Agora estamos percebendo que ele estava mais para Judas do que para Cristo. Ele tem de pagar um preço, ninguém pode colocar uma toga e mentir”, concluiu.
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