“Este ano, não tivemos o problema da falta de água, mas tivemos o granizo extremamente intenso. Caiu cinco vezes no concelho. As perdas estão apuradas entre os 95 e os 98%, na parte mais crítica. No resto, rondarão os 80 a 90%”, avançou Luís Vila Real.

O responsável disse ainda que “o produto ficou sem qualidade, não tem valor de mercado, e, obviamente, os compradores não querem esse tipo de produto, porque o consumidor final também não”.

Por isso, o destino de grande parte da maçã é a indústria, essencialmente para fabrico de concentrado ou sumo fresco.

Luís Vila Real não tem um número exato da quebra a nível económico, mas não tem dúvidas de que é muito elevada.

“São uns milhões, porque somos um concelho que produz entre 25 a 30 mil toneladas de maçã de qualidade por ano. Temos uma redução na ordem 95 a 98% desse valor. Se o preço por quilo andar na ordem dos 35 cêntimos, é só fazer as contas do descalabro económico que vem por aí”, assinalou.

Este preço pago por quilo ao agricultor – em média entre os 30 e os 35 cêntimos em fruta de qualidade – é considerado baixo para fazer face ao aumento dos fatores de produção no pós-pandemia.

“O produtor vende a preços ridículos, que, muitas vezes, já nem estão a cobrir os custos da produção. O custo por quilo para produzir já se aproxima muito dos 30 cêntimos. O que significa que quase não fica nada para o produtor”, afirmou Luís Vila Real, que disse ainda que não conseguem “traduzir o aumento de custo no produto que é vendido aos operadores do mercado”.

Considerando que “o preço justo, em média, seriam 50 cêntimos por quilo na colheita de fruta de qualidade”, Luís Vila Real explicou ainda que os produtores “acabam por ceder” aos preços pagos pelos grandes grossistas, porque “os agricultores não têm uma organização que faça a gestão da comercialização”. Por isso, quem compra a fruta são as “grandes unidades fruteiras, que estão nas mãos dos grandes armazenistas. Têm câmaras de frio de grande capacidade”.

O produto vai depois encarecendo ao longo da cadeira de distribuição: “Neste processo, não vem nada para o produtor. A responsabilidade do encarecimento não é do agricultor”, lamentou Luís Vila Real.

Carrazeda de Ansiães é o maior produtor de maçã de Trás-os-Montes. São 600 hectares de pomar, cultivados por cerca de 45 agricultores. O concelho dedica aos produtos de maior expressão a Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite, entre 25 e 27 de agosto. Luís Vila Real diz que haverá maçã para as montras do certame e garante ainda que as preocupações dos agricultores também vão estar presentes.

“Também vamos lá pôr o nosso produto deteriorado, para que as pessoas tenham consciência do que realmente se passou”, disse.

A campanha de colheita começa dentro de cerca de duas semanas.

O presidente da Associação de Fruticultores e Viticultores do Planalto de Ansiães (AFUVOPA), Luís Vila Real, pediu hoje apoios para os produtores de maçã de Carrazeda de Ansiães instalarem sistemas anti-granizo na região.

“Nós precisamos de apoios para instalação de sistemas de proteção. Sejam sistemas de telas anti-granizo, ou então uns mais fáceis de instalar e muito mais baratos, que são as torres anti-granizo. Já têm provas dadas em Movimenta da Beira, em Armamar e pelo mundo. Só que o Governo insiste em não apoiar essa medida e estamos de mãos atadas”, afirmou ainda.

Este ano, as perdas na colheita da maçã naquela concelho, o maior produtor de Trás-os-Montes, rondam os 95 a 98%, consequência do granizo que se abateu na região entre o final de maio e o início de junho.

Dos 600 hectares de pomar do Planalto de Ansiães, cultivados por cerca de 45 agricultores, apenas cerca 10% têm atualmente proteção com telas anti-granizo.

“As telas têm um custo de 30 mil euros por hectare e é de difícil e demorada implementação. Tendo em conta que nos anteriores programas de financiamento que estiveram abertos os valores de referência eram pré-pandemia, e que agora os custos subiram exponencialmente, não há qualquer capacidade dos agricultores”, justificou Luís Vila Franca.

Para o presidente da AFUVOPA, a solução mais vantajosa seria a torre anti-granizo.

“A torre anti-granizo é um sistema que faz um disparo de uma onda de choque para as altas camadas da atmosfera onde se forma o granizo e dissipa-o antes de atingir o solo”, explicou Luís Vila Real.

Luís Vila Rela lança contas à instalação destas proteções em Carrazeda de Ansiães.

“No concelho de Carrazeda de Ansiães, a instalação das telas rondaria os 18 milhões de euros e as torres anti-granizo entre os 750 e os 800 mil euros e seria possível instalá-las num mês. É uma diferença brutal. Só que continua a haver uma resistência enorme por parte do Estado em apoiar essa medida. Por exemplo, com uma comparticipação de 50% do Governo, entre os 350 ou 400 mil euros de ajuda do Estado, conseguiríamos proteger o núcleo-duro da produção”, concluiu.

Quanto aos apoios anunciados pelo Governo em junho, de um máximo 55 euros por hectare de área afetada para minimizar os efeitos do granizo, Luís Vila Real disse à Lusa serem insuficientes.

“É uma brincadeira de mau gosto. Porque só um tratamento de uma aplicação foliar fica muito mais caro do que isso. E estamos a falar de 17 a 18 tratamentos por campanha. Alguns tratamentos ultrapassam os 150 euros por hectare. E nestes casos não resolve absolutamente nada. O mal já está no terreno”.