“Macau é a região com o maior pico de jogo no mundo, mas isto é passageiro, porque a China pode abrir jogo noutro lado, e Macau vai por aí abaixo. Macau não pode estar dependente dessa vontade chinesa, tem de ter vontade autónoma para se desenvolver nas novas tecnologias, com novas ‘start-ups'”, disse à Lusa o antigo ministro da Educação português.
Nesse sentido, Roberto Carneiro vaticinou “um grande futuro” para a região administrada por Portugal durante vários séculos.
Roberto Carneiro falou à margem da apresentação do livro “O Macaense”, em Lisboa, projeto que co-coordenou e que resultou de uma parceria entre a Fundação Macau e a Universidade Católica Portuguesa, através do seu Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP).
O presidente da FEPM explicou que o objetivo da obra passa por “divulgar e investigar o que é o macaense”.
“É uma espécie de mistura entre português e chinês, mas que deu origem a algo autónomo, a uma comunidade autónoma”, afirmou.
“É uma hibridação entre duas culturas que gera uma terceira cultura, que não tem a ver com sangue, não tem a ver com uma coisa biológica, tem a ver com culturas que estão abertas uma à outra”, continuou.
A obra, que ao longo de 286 páginas compila análises de 22 autores, é resultado de um trabalho que durou uma década e que “teve vários arranques falsos”, mas que acabou por avançar e foi finalizada “em tempo recorde”.
Além de Roberto Carneiro, também Jorge Rangel, Fernando Chau e José Manuel Simões participaram na conceção do livro.
O antigo ministro da Educação referiu que este é “um livro académico” e que está aberto a mais investigação.
“Há poucas coisas de fundo sobre o que é ser macaense. Este livro dá profundidade ao que é ser macaense no mundo, o seu papel no futuro”, detalhou.
Ainda sobre a região, Roberto Carneiro assinalou que Macau faz a ligação entre “um país enorme como a China e um país pequeno como Portugal”.
Fernando Ilharco, atual presidente do CEPCEP, considerou que a obra “tenta refletir à volta da experiência portuguesa de 500 anos em Macau”, ao mesmo tempo que procura “identificar esta presença na figura do macaense, que é uma figura híbrida entre o português e o chinês”.
“Parece-me que é uma obra que pode contribuir para afirmar o relacionamento e a natureza da cultura e da diáspora portuguesa”, reforçou o responsável do CEPCEP.
Para o presidente do centro de estudos, a transformação de Macau num jogador-chave na região “depende muito da China”.
“Há um quadro de grande desenvolvimento de Macau, porque Macau é importante para o desenvolvimento da China, é importante na globalização da China, é importante no ‘interface’ com o mundo de língua portuguesa”, contou.
Fernando Ilharco apontou que este projeto “é algo de natural”.
“O centro de estudos mais antigo da Universidade Católica é o CEPCEP, por isso este projeto é algo de natural. Passados 20 anos da saída de Portugal da Ásia, passados 20 anos da passagem da soberania de Macau para a China, fazemos um balanço de um mundo global”, referiu.
“É um projeto que é um marco, mas numa linha de investigação de cultura e povos portugueses na Ásia e no Extremo Oriente que nós pretendemos continuar a alimentar e a explorar”, concluiu.
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