O ex-motorista de autocarros, de 56 anos, começará esta quinta-feira, 10 de janeiro, um segundo mandato de seis anos, não reconhecido pela oposição, pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por vários países latino-americanos.
Promete que agora haverá prosperidade, apesar de durante o seu governo, iniciado em 2013, o tamanho da economia da outrora rica nação petrolífera se tenha reduzido para metade.
Ex-sindicalista, maduro recebeu o peso de substituir Hugo Chávez (1999-2013), que se mostrava "insubstituível", e, no início, projetou baixa autoestima, disse à AFP o cientista político Luis Salamanca. "Esse Maduro já não existe. Chávez é uma lembrança distante", sustenta.
Sob a sua presidência, a Venezuela viveu protestos com 200 mortos, sanções internacionais e uma radicalização da "revolução bolivariana". A sua rejeição chega a 80%, segundo a Delphos.
Maduro sobrevive graças ao seu autoritarismo. "Mudou as leis para não enfrentar uma disputa eleitoral democrática porque sabe que perderia", considera Salamanca.
Os seus adversários acusam-no de destruir a Constituição e a economia, e de ser um "ditador" sustentado pelos militares, aos quais outorgou poder em todas as frentes e que considera a "espinha dorsal" do país.
"Não ligo quando dizem que sou um ditador", afirma Maduro, que a 4 de agosto denunciou uma tentativa de assassinato por opositores depois de dois drones explodirem perto de um palanque onde comandava uma parada militar.
Denunciando constantemente planos de golpe, Maduro diz-se vítima de uma "guerra económica" dos Estados Unidos e da oposição, os quais culpa pela falta de alimentos e pela inflação, projetada pelo FMI em 10.000.000% para 2019.
"Nem com votos, nem com balas"
Em abril de 2013, Maduro venceu as presidenciais por muito pouco contra Henrique Capriles. Dois anos depois, sofreu um duro revés quando a oposição teve um ótimo resultado nas legislativas, o que marcou uma rutura. "Nem com votos, nem com balas voltarão ao (palácio presidencial) Miraflores; não nos vencerão nunca mais numa eleição", adverte desde então.
Com influência em todos os poderes do Estado, conseguiu que a Justiça anulasse o parlamento ao declará-lo em desacato, bloqueou um referendo revogatório e prendeu ou inabilitou adversários.
Desde agosto de 2017 que governa com uma Assembleia Constituinte de poder absoluto que substituiu na prática o Legislativo. Adiantou as presidenciais para 20 de maio e mudou as leis eleitorais.
"Há cinco anos eu era um novato. Hoje sou um Maduro de pé, experiente na batalha (...) Aqui estou: mais forte do que nunca", descreveu sobre si mesmo.
Chávez, a quem conheceu em 1993, considerava-o um "revolucionário", mas opositores e ex-camaradas acusam-no de enriquecer empresários amigos e a cúpula militar.
"Soube aproveitar os erros de uns e outros, anulando adversários dentro e fora do chavismo", disse à AFP Andrés Cañizalez, investigador em Comunicação Política.
A sua antiga aliada, Luisa Ortega pagou caro por desafiá-lo. Após denunciar uma rutura democrática, a Constituinte destituiu-a como procuradora-geral e ela fugiu para a Colômbia para evitar ser presa.
Sem o carisma de Chávez, Maduro tentou imitá-lo com longas aparições televisivas e retórica popular e anti-imperialista, mas foi construindo uma imagem própria.
Diz-se "operário", conduz a sua camioneta, faz piadas com o seu inglês parco e dos que lhe chamam de "Maburro", dança salsa e reggaeton, e é muito ativo nas redes sociais. Declara-se católico e quando adolescente foi guitarrista de uma banda de rock. Os seus opositores asseguram que nasceu na Colômbia, mas jura ser de Caracas.
Está casado com a ex-procuradora Cilia Flores, a quem chama de "primeira combatente". É pai de "Nicolasito", membro da Constituinte de 28 anos, fruto de um casamento anterior.
A sua boa receção em Cuba, onde se formou politicamente nos anos 1980, encaminhou-o para o poder.
De discurso moderado e capacidade negociadora como chanceler e vice-presidente, assumiu mais tarde agitadas discussões com seus oponentes, os quais ridiculariza, insulta e ameaça. Manteve diálogos em quatro ocasiões com a oposição, muito dividida. Mas outra negociação parece hoje distante.
"Não vê seriamente o plano de negociar, mas de se impor. Negociará somente quando estiver com a corda no pescoço, mas então poderá ser tarde demais", diz Salamanca.
Por Maria Isabel Sanchez/AFP
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