Nascido em Milão, com mãe italiana e pai egípcio, Alessandro Mahmoud faz parte de uma geração de italianos multirraciais - outro é Ghali - a fazer ondas na cena musical do país. Atuando com o nome Mahmood, o cantor venceu no passado sábado o festival da canção de Sanremo (o equivalente ao 'nosso' Festival da Canção), o que lhe garantiu a participação no Festival da Eurovisão em representação da Itália.

O tema com que Mahmood venceu, “Soldi” (“Dinheiro”), é de cariz autobiográfico, relembrando a sua infância, e inclui várias palavras em árabe, assim como influências arábicas misturadas com hip-hop na produção instrumental.

A vitória de Mahmood foi obtida com os votos do júri, composto por especialistas da indústria musical e jornalistas, que contribuem para 60% da pontuação dos concorrentes. Os outros 40% são conseguidos através da participação telefónica do público.

A questão é que o voto popular foi largamente dirigido a Ultimo, o pseudónimo do cantor Niccolò Moriconi. As polémicas quanto às vitórias dos concorrentes são comuns, e não só em Itália, mas raramente têm o envolvimento de altas figuras da política, como ocorreu com a vitória de Mahmood.

Em resposta a este triunfo, Matteo Salvini, Ministro do Interior e Vice-Primeiro-Ministro de Itália, reagiu com desagrado através da rede social Twitter. “Mahmood… mah...a mais bela canção italiana? Teria escolhido #Ultimo” escreveu o líder do partido de extrema-direita Liga Norte, acrescentando que, de acordo com a reação do público à vitória, “90% das pessoas ficaram perplexas”.

Luigi DiMaio, também Vice-Primeiro-Ministro e colega de coligação de Salvini, foi outro líder a juntar-se às críticas, denunciando “a distância abismal entre o povo e as ‘elites’” no que toca à atribuição dos vencedores. No mesmo post do Facebook, o líder do Movimento 5 Estrelas diz que a vitória de Mahmood representou a vontade de um júri minoritário constituído por “jornalistas e esquerda caviar” em vez de ser pela “maioria dos votantes em casa.” Di Maio acrescentou ainda que para si venceria Simone Cristicchi, outro dos concorrentes.

Apesar de não referirem explicitamente questões raciais ou étnicas, as reações de ambos os líderes foram recebidas em Itália como indiretas dado o contexto atual do país em relação à imigração. “Todos os anos acontece alguma coisa [em relação ao festival], mas com este tipo de governo que temos agora e com a história de Salvini com a imigração, parece haver um pretexto”, escreveu o jornalista Federico Capitoni no jornal La Repubblica.

No entanto, se por um lado Capitoni admite que a escolha do júri pode ter constituído uma mensagem política ao apoiar o cantor, este já veio a público dizer que o único intuito da canção era contar uma história, afirmando-se também como “100% italiano”.

Como consequência desta polémica, Marcello Foa, o presidente do canal público Rai - que transmite o festival da canção de Sanremo - já veio defender uma mudança no sistema de votação do concurso. Foa, que já exprimiu posições anti-imigração no passado, disse haver “um claro desequilíbrio entre o voto popular e o júri composto por algumas dezenas de pessoas”, pelo que era preciso fazer alterações “para que o público se sinta representado”.

Foa foi conduzido enquanto presidente do Rai em setembro de 2018 por um comité parlamentar que supervisiona a emissora, sob recomendação de Salvini e Di Maio. À época, a escolha foi criticada tanto pelo partido Democrático, de centro-esquerdo, como pelos sindicatos dos jornalistas.

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