“Táticas de guerrilhas nos tumultos de Paris”, titula o Diário Popular no dia 23 de maio numa notícia sobre o caráter dos confrontos referindo que os estudantes amotinados “largaram fogo a vários automóveis e arrancaram as pedras dos passeios".

Além de acompanhar as consequências políticas dos confrontos desde o início do mês, o Diário Popular, através do redator-correspondente em Paris, José Augusto, destaca - no dia seguinte - a ocupação da Sorbonne pelos estudantes, a detenção de 75 pessoas pela polícia e a apreensão de armas em Dijon.

“Tudo começou há 15 dias, com as barricadas dos estudantes. As reivindicações operárias vieram depois, pela brecha aberta (…) Na noite passada, até às 03:00 da manhã lutou-se nas ruas do ‘Bairro Latino’. Entretanto, elementos provocadores misturaram-se com os estudantes e puseram em prática as suas ideias de luta rua contra a polícia”, escreve o jornalista na capital francesa no despacho enviado no dia 24 de maio.

Duas semanas antes, no dia 11, igualmente um dia marcado por violentos confrontos, o correspondente notava que a solidariedade “apregoada pelas massas trabalhadoras” às reivindicações dos universitários permitiu aos partidos políticos da oposição “descerem para a rua em cortejo, com bandeirolas, e tudo…”

Em meados do mês, o Diário Popular publica também um longo artigo referindo que a “França conhece o problema da emigração portuguesa”, sobretudo em trabalhos agrícolas no sul do país.

Nos dias em que se regista a "escalada da violência nas ruas de Paris” (23 e 24 de maio) uma fotografia de meia página anuncia o “extraordinário concerto” da cantora francesa Juliette Greco no novo Casino do Estoril.

A par dos acontecimentos em França, o Diário Popular publica ao longo de quase todo o mês uma série de reportagens, com destaques de primeira página, do enviado ao Vietnam.

As reportagens “em especial para o Diário Popular” do escritor José da Câmara Leme, ex-militar da Legião Estrangeira Francesa, relatam as operações de uma divisão aerotransportada norte-americana a norte de Saigão.

Além das reportagens no Vietnam, o mesmo jornal publica também durante vários dias as reportagens do jornalista Nuno Rocha com os militares portugueses em Moçambique.

“Sobrevoando zonas de fronteira à procura de terroristas”, escreve Nuno Rocha numa reportagem em várias edições ao longo do mês e que terminam na baixa de Lisboa.

“Agora que volto a percorrer o Chiado, a reencontrar os amigos e os camaradas, a ver o céu azul de Lisboa não deixo de pensar nos que, sob um clima inóspito e sujeitos à traição do inimigo, vivendo praticamente na selva, de armas em punho, escrevem novas páginas para a velha história da Lusitânia”, escreve Nuno Rocha no final do mês de maio de 1968.

No República o noticiário francês é acompanhado através da tradução dos textos das agências de notícias internacionais, mas destaca, nomeadamente, as greves e a solidariedade dos operários em relação aos pedidos de reformas dos universitários.

Em meados do mês, o República noticia perturbações na ligação aérea diária entre Paris e Lisboa devido à greve na Air France tendo a TAP estabelecido viagens entre Portugal e a Bélgica assegurando viagens de autocarro entre Bruxelas e a capital francesa.

No último dia do mês, o República noticia na primeira página com grande destaque a transferência dos dois regimentos de tanques franceses na Alemanha, “sem aparato”, para a zona de Versailles, Paris.

A medida tomada por De Gaulle coincide com o dramático discurso do chefe de Estado francês que acaba por marcar eleições para o final do mês de junho.

A 04 de junho de 1968, o República noticia o regresso “com lentidão” ao trabalho em França.

No dia 06 de junho, Robert Kennedy, irmão do ex-presidente norte-americano, é assassinado a tiro em Los Angeles por Sirhan Bishara Sirhan, católico de origem palestiniana nascido em 1944 no antigo protetorado britânico de Jerusalém e que cumpre uma sentença de prisão perpétua nos Estados Unidos.

As atenções da imprensa passam a concentrar-se no assassinato de Robert Kennedy que pretendia candidatar-se à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.

Em França, De Gaulle controla a situação e nas legislativas do final do mês de junho as forças conservadoras mantêm o poder parlamentar.