O relatório, publicado na terça-feira, refere que a rota migratório do Mediterrâneo regista “um número crescente de mortes” quer “nas fronteiras terrestres da Europa, [quer] dentro do continente”.

O Mediterrâneo Central continua, aliás, segundo a OIM, a ser a rota de migração mais mortal, tendo aí morrido 2.836 pessoas desde janeiro de 2021, quando tentavam chegar à Itália ou a Malta em barcos com origem sobretudo na Líbia e na Tunísia.

As últimas vítimas conhecidas foram dois bebés gémeos recém-nascidos que morreram num barco onde estavam 60 pessoas vindas da Tunísia. A guarda costeira italiana resgatou os sobreviventes na terça-feira, tendo-os desembarcado na ilha italiana de Lampedusa.

As operações de resgate nessa rota por navios militares italianos e barcos operados por organizações humanitárias nas costas do sul da Itália intensificaram-se nas últimas semanas, mas os navios humanitários continuam frequentemente a ter de esperar dias até obterem permissão para atracar em portos italianos, refere o relatório da OIM.

Centenas de pessoas resgatadas estão abrigadas temporariamente em centros de acolhimento superlotado em Lampedusa, onde todos os dias continuam a registar-se novas chegadas de migrantes.

De acordo com o relatório da OIM, a segunda rota migratória mais mortal foi a que liga a África Ocidental às Ilhas Canárias espanholas, onde mais de 1.500 mortes foram registadas desde 2021. No entanto, os investigadores da organização admitem que a contabilização esteja subestimada, já que não incluiu os barcos que desaparecem no mar sem testemunhas.

Os números de mortes de migrantes também aumentaram noutras áreas de fronteira com a Europa, como na Grécia, os Balcãs Ocidentais e o Canal da Mancha, sublinha o relatório.

Os mortos cujas nacionalidades são conhecidas eram provenientes sobretudo de África e do Médio Oriente, mas mais de 17.000 tinha nacionalidade desconhecida.

Muitas das mortes “podiam ter sido evitadas se tivesse sido dada ajuda imediata e eficaz aos migrantes em perigo”, defendeu o documento do Projeto Migrantes Desaparecidos.

Na terça-feira, a linha telefónica direta de voluntários para ajuda a migrantes e refugiados com problemas no mar, a Alarm Phone, anunciou que estavam cerca de 400 pessoas num barco que tinha saído da Líbia e que se dirigia a Itália.

A guarda costeira italiana não respondeu logo à mensagem, só reagindo quando a Alarm Phone avisou que dois grandes barcos de madeira com quase 1.400 pessoas tinham saído juntos do leste da Líbia e estavam a chegar, em condições muito precárias, a zonas de resgate de Itália e Malta.

“Fomos informados que um [navio] transporta cerca de 700 pessoas e o outro cerca de 650. Alegadamente, uma pessoa já morreu e os motores já não estão a funcionar. É urgente uma enorme operação de resgate”, alertou o grupo, numa mensagem divulgada através da rede social Twiteer.

Dez horas depois, sem que as autoridades tivessem respondido ao pedido de resgate, o grupo avisou de novo na rede social que já estavam “pessoas em perigo” e tinham sido relatadas “12 mortes e a existência de pessoas inconscientes e a sofrer de desidratação”.

A Itália luta, há mais de uma década, com a chegada contínua de migrantes às suas costas, tendo a nova primeira-ministra italiana defendido, na terça-feira, no seu primeiro discurso perante o parlamento, que o Governo pretende “travar as saídas ilegais” de migrantes de África com destino à Itália, adiantando que vai pedir ajuda à União Europeia.

Este Governo “quer acabar com as saídas ilegais [de África] e acabar com o tráfico de pessoas” no Mediterrâneo, defendeu Giorgia Meloni, explicando que vai pedir à União Europeia que recupere a operação naval Sophia, através da qual foi feito, entre 2015 e 2020, um patrulhamento regular do Mediterrâneo por aviões europeus com vista a desmantelar redes de traficantes de seres humanos.

O relatório da OIM adianta ainda que existe “uma falha estrutural em fornecer caminhos seguros adequados” aos migrantes e refere que, segundo relatos de sobreviventes retransmitidos à OIM, pelo menos 252 pessoas morreram durante expulsões forçadas por autoridades europeias desde 2021.