Em declarações à agência Lusa, Andrea Peniche, da ContraBando — Espaço Associativo, uma das associações da organização, explicou que a iniciativa nasceu do “incómodo” pela forma como a comunicação social tratou o vídeo de cariz sexual gravado este mês no interior do autocarro.
O caso, que foi noticiado como “alegado abuso sexual” de uma jovem, está a ser investigado pela polícia e a divulgação das imagens está a ser analisada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
“É o reflexo daquilo a que nós chamamos a cultura da violação, porque vários foram os comentadores e as notícias que invocaram argumentos para desculpar um comportamento que não tem desculpa”, apontou.
O vídeo motivou a iniciativa, mas acabou por não ser a única razão por que as várias associações saem à rua sob o lema “Mexeu com Uma, Mexeu com Todas. Não à cultura da violação!”.
“Aquilo que nós sabemos, e são dados de 2015, é que mais do que uma mulher por dia apresenta queixa de violação, o que significa que os números são altíssimos”, frisou.
Segundo Andrea Peniche, as várias associações juntaram-se não só em nome da rapariga que aparece no referido vídeo, mas em nome de todas as mulheres para dizer que não toleram e recusam os argumentos que “procuram desculpar e naturalizar um comportamento que é crime”.
A responsável explicou que a iniciativa começou por estar marcada para o Porto porque a cidade tem “uma forte tradição na organização destes eventos” e de trabalho em rede, tendo depois procurado chamar outras associações e outros coletivos.
Dessa forma, foi construído e debatido um manifesto, que começou por ter o apoio de cinco associações, três do Porto e duas de Lisboa, e que agora já se estendeu a mais de 40.
Consequentemente, a iniciativa deixou de estar circunscrita à cidade do Porto para rapidamente se alargar a Braga, Lisboa, Coimbra e Faro.
“De norte a sul do país vamos sair à rua para dizer que não aceitamos a cultura da violação”, disse Andrea Peniche.
Questionada sobre o que falta fazer para que o número de mulheres violadas baixe, a responsável apontou que Portugal tem legislação e que essa legislação tem avançado mais do que as mentalidades, defendendo que é preciso uma cultura antimachista que consiga reconhecer o que são agressões machistas e saiba agir sobre elas.
“Precisamos de combater o hábito de sermos observadores de situações de violência e não intervir. Precisamos que a escola se implique nisso e precisamos que todas as instituições, associações percebam a necessidade que há em desmistificar esta cultura da violação, que é aquela em que somos educadas”, defendeu.
Andrea Peniche admitiu ter “boas expectativas” em relação à adesão, apontando que o facto de a ideia ter nascido e de as associações se terem organizado para irem para a rua vai ao encontro do que é o sentimento de “uma grande camada da população”.
“Não sei se vai estar muita gente ou pouca gente, mas sei que muita gente foi chamada à atenção para este assunto porque nós marcámos este protesto. Neste momento está-se a discutir e a discussão é sempre o ponto de partida para a transformação dos comportamentos”, rematou.
No Porto, a manifestação está marcada para as 18:00, na Praça dos Leões, e em Lisboa é à mesma hora na Praça Luís de Camões, enquanto em Faro arranca às 18:00 no Jardim Manuel Bívar, em Braga começa às 18:30, na Avenida Central, e em Coimbra sai à rua às 21:00, no Largo D. Dinis.
As cinco associações que tomaram a iniciativa foram: ContraBando – Espaço Associativo (Porto); Colectivo Feminista do Porto; Com Calma – Espaço Cultural (Lisboa); Panteras Rosa — Frente de Combate à LesBiGayTransfobia e Parar o Machismo, Construir a Igualdade — Rede de Ativistas Feministas (de âmbito nacional).
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