Este é um dos resultados do estudo levado a cabo por uma equipa liderada pela investigadora Raquel Varela, da Universidade Nova, a pedido da Federação Nacional de Professores (Fenprof), com o objetivo de ter dados nacionais sobre o desgaste da profissão docente.
Através de um trabalho de parceria, as estruturas sindicais distribuíram pelas escolas milhares de inquéritos com mais de cem perguntas sobre ‘burnout’, desgaste e ‘stress’ sócio-ocupacional, cansaço e mal-estar, mas também sobre dados sociodemográficos, contou à Lusa a investigadora.
“Mais de 65 mil professores” revelaram “níveis preocupantes de exaustão emocional”, uma das três características de ‘burnout’, revelou Raquel Varela.
Para a investigadora, “a exaustão emocional apresenta valores elevadíssimos” entre a classe dos professores, atingindo mais de 60% dos inquiridos.
O estudo mostra que os docentes mais velhos são os que mais sofrem de exaustão, com forte incidência nos profissionais com mais de 55 anos.
O ‘burnout’ é causado por uma exaustão ou ‘stress’ profissional, despersonalização e diminuição da realização pessoal e profissional.
Os professores em ‘burnout’ têm a sensação de não conseguirem acompanhar os alunos individualmente nem as múltiplas tarefas burocráticas que lhes são exigidas na escola, contou.
“Particularmente todos os professores estão cansados. Há mais professores cansados do que professores em ‘burnout’, devido à extensão do horário de trabalho e a intensificação das tarefas dentro do horário de trabalho”, sublinhou.
Os professores mais exaustos são os que mais defendem a reforma antecipada.
À Lusa Raquel Varela disse que o estudo ainda não está terminado, mas já é possível confirmar uma “correlação direta entre os índices de adoecimento no local de trabalho com a gestão no local do trabalho, a burocracia e a indisciplina dos alunos”.
Quase metade dos professores (42,5%) tem um baixo índice de realização, o que leva Raquel Varela a concluir que este “é um setor com níveis preocupantes de realização”.
O confronto entre as expectativas e a realidade profissional do dia-a-dia é um dos fatores para os baixos níveis de realização profissional dos professores que se veem confrontados com uma “intensa falta de autonomia, pouca influência nos currículos e na gestão da escola”.
Um trabalho “muito vigiado, muito repetitivo e onde os professores sentem que não conseguem dar resposta às necessidades dos alunos e da sociedade” são outros dos problemas identificados.
Já os índices de despersonalização são relativamente baixos, segundo Raquel Varela que explicou à Lusa que a despersonalização se verifica quando o professor deixa de ver os alunos como indivíduos, mas sim “como uma linha de montagem”, passando a haver um afastamento emocional.
No entanto, o inquérito mostra que, “para a maioria dos professores, os alunos continuam a ser importantes. Apesar do elevado grau de exaustão emocional, os professores gostam dos alunos”, sublinhou.
O estudo, que será apresentado hoje no Encontro Internacional sobre o Desgaste dos Professores, promovido pela Fenprof em Lisboa, revelou ainda uma forte dependência entre o descontentamento face aos salários e a desmotivação no local trabalho.
A investigadora alertou também para os “níveis preocupantes de falta de reconhecimento social e de cansaço” dos docentes.
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