
Nasceu em Tomar em pleno Estado Novo. Tinha 16 anos no 25 de Abril e, aos 67 anos, continua a manter a garra desses tempos quando sente que os direitos dos trabalhadores estão sob ameaça.
Ainda não tinha começado a dar aulas e já estava sindicalizado. Foi numa escola primária em Coimbra que começou a sua carreira de professor, no ano letivo de 1978/1979. Aos 25 anos integrou o Conselho Nacional da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e, nos últimos 18 anos, foi o rosto da luta docente.
Enquanto secretário-geral da Fenprof sentou-se à mesa com sete ministros: Maria de Lurdes Rodrigues, Isabel Alçada, Nuno Crato, Margarida Mano, Tiago Brandão Rodrigues, João Costa e Fernando Alexandre. No final das reuniões negociais, sempre foram habituais as declarações aos jornalistas em que dizia não ter chegado a acordo, mesmo depois de a tutela ceder em várias reivindicações.
Para o representante dos professores, um acordo não pode deixar ninguém de fora. Resultado: Muitas negociações terminaram em protestos ou greves nacionais.
Sempre disse que a luta nasce do descontentamento sentido nas escolas e, no limite, pode chegar às ruas. Em 2008, foi corresponsável pela manifestação em Lisboa de cerca de 120 mil professores contra as políticas de Maria de Lurdes Rodrigues, que queria dividir a carreira em duas categorias (professores e titulares).
Em 2013, a guerra contra as políticas de Nuno Crato fez-se nas escolas, com os professores a participar numa greve de quase um mês às avaliações.
Já em 2018, sob a tutela de Tiago Brandão Rodrigues, registaram-se muitas greves pela contagem integral do tempo de serviço congelado. Este foi também o ano em que apareceu a 23.º estrutura sindical representativa de professores: o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P.), que veio criticar as formas de ação dos "sindicatos tradicionais" e, numa fase inicial, chegou a ofuscar algum do protagonismo da Fenprof.
A luta pela recuperação do tempo de serviço levou a uma união de estruturas sindicais, à marcação de vários protestos, convocação de greves nacionais e até a uma ameaça de demissão por parte do então primeiro-ministro, António Costa, em 2019.
Já em 2023, cerca de 150 mil professores saíram à rua e realizaram a maior manifestação de todos os tempos numa luta por um direito que já tinha sido garantido aos docentes das ilhas e que só foi garantido aos professores do continente no ano passado, com o ministro Fernando Alexandre.
Mário Nogueira é conhecido por não ceder mas também pela criatividade nas metáforas que usa para ilustrar problemas por vezes difíceis de explicar, como aconteceu na famosa conferência de imprensa em que usou fruta e pratos de vidro para mostrar que os professores tinham direito a progredir na carreira e acusar o Governo de estar a “comer as progressões”.
Eleito pela primeira vez em 2007, foi o secretário-geral da Fenprof mais tempo no cargo, depois do fundador António Teodoro (1983-1994) e de Paulo Sucena (1994-2007). Ainda é o rosto da luta dos professores, mas garante que as vitórias da classe são resultado de um trabalho coletivo.
Este fim-de-semana, no 15.º Congresso da Fenprof será a vez de passar a pasta. Até ao momento há apenas uma lista, que foi votada por unanimidade, e propõe como sucessores José Feliciano Costa e Francisco Gonçalves, que desempenham atualmente os cargos de secretários-gerais adjuntos.
Comentários