Sem dados concretos sobre a adesão à paralisação, Francisco Gonçalves, dirigente do Sindicato dos Professores do Norte (SPN) e da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), explicou aos jornalistas que o que se sabia, cerca das 08:30, era de muitas escolas encerradas, admitindo que “nessas tem mais a ver com a adesão do pessoal não docente, de setores chave”.
“O diretor de cada escola tem que verificar se tem condições de segurança para a escola funcionar ou não e, portanto, há muitas que estão encerradas por essa razão”, afirmou o dirigente dos SPN junto à Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, no Porto, que também encerrou.
Relativamente à adesão dos professores “só ao longo do dia se saberá”, disse Francisco Gonçalves, referindo que os professores aderiram a esta greve por questões relacionadas com o Orçamente de Estado, que “não responde aos problemas, não tem dotação orçamental suficiente para solucionar problemas como a precariedade, a carreira, cotas, vagas e também por questões salariais”.
“Aumentos de 3,4 a 2%, nos escalões de topo, é manifestamente insuficiente”, sublinhou, elencando outras questões que levaram à adesão dos professores a esta paralização, entre as quais a alteração do modelo de seleção e recrutamento de docentes que é “absolutamente inaceitável e deve ser retirado de cima da mesa”.
Junto à escola Fontes Pereira de Melo estavam também dirigentes dos sindicatos dos Trabalhadores da Administração local (Stal) e dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte (STFPSN).
Lurdes Ribeiro, dirigente do STFPSN, disse que “há escolas encerradas desde a Póvoa de Varzim até ao Marco de Canavezes”, citando como exemplo, entre outras, as escolas do Cerco, Filipa Vilhena e Aurélia de Sousa, no Porto, e os agrupamentos escolares Costa Matos e Canelas, em Vila Nova de Gaia.
E referiu: “a maioria dos trabalhadores da função pública vai ter um aumento de 52 euros, no meu caso, e no de milhares de assistentes operacionais, passo de 705 euros para 761, a partir de janeiro”.
“Isto é inaceitável, não só a nível salarial, mas também no que se refere às carreiras. Os trabalhadores estão mesmo desagradados com estas manobras de fingir que dão e ao mesmo tempo não estão a dar”, acrescentou Lurdes Ribeiro.
Consultas e exames adiados no hospital de Faro devido à greve da função pública
A greve nacional da administração pública convocada para hoje está a afetar alguns dos serviços do hospital de Faro, nomeadamente as consultas externas, com vários utentes a verem as suas consultas ou exames adiados devido à paralisação.
Os balcões de admissão e de informações das consultas externas estão encerrados, sendo que , ao início da manhã, vários utentes estavam a tentar obter esclarecimentos sobre as suas marcações, sem sucesso, enquanto outros faziam ‘check in’ nos balcões digitais.
É o caso de Pedro, ucraniano que levou a filha a uma consulta de cirurgia pediátrica mas não conseguia obter informações sobre se a consulta se ia ou não realizar. Depois de ter sido mandado a outro edifício, voltou às consultas externas onde ficou, na expectativa de serem chamados.
Uma outra utente queixou-se à Lusa de estar desde hoje de madrugada no hospital com a mãe, de 82 anos, e de ter demorado horas até conseguir obter informações sobre o seu estado, devido ao “caos” gerado pela greve, que fez com que houvesse “poucos médicos” ao serviço, referiu.
Apesar de alguns utentes terem voltado para trás depois de verem as suas consultas ou exames adiados, outros tiveram mais sorte, conseguindo saber que, pelo menos, o médico com quem iam ter consulta estava ao serviço, ainda que tivessem um tempo de espera pela frente.
Em declarações à Lusa, o dirigente regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), adiantou que a greve no Algarve está a ter uma “adesão excelente”, que anda na média dos 70% nos cuidados de saúde hospitalares e dos 60% nos cuidados de saúde primários.
De acordo com Nuno Manjua, a greve da Função Pública, que coincidiu com o segundo dia de greve dos enfermeiros, tem causado, sobretudo, ao nível da enfermagem, constrangimentos nos serviços de internamento, urgências, Unidades de Cuidados Intensivos e blocos operatórios.
“Dependendo dos turnos, são esses os serviços em que, em média, os colegas estão a aderir mais”, referiu à Lusa, durante a manhã, na unidade de Faro do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA).
A greve
Os trabalhadores da administração pública cumprem hoje uma greve, a uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), que prevê aumentos salariais de um mínimo de cerca de 52 euros ou de 2% para os funcionários públicos, no próximo ano.
A Frente Comum, que convocou a paralisação, antecipava que os efeitos da greve iriam sentir-se a partir da noite de quinta-feira, na recolha do lixo e nos hospitais, uma vez que a greve começou no início dos turnos destes trabalhadores.
A paralisação está afetar serviços da educação, saúde, finanças, segurança social e autarquias, mas também áreas com menor visibilidade por não terem atendimento ao público, como centros de processamento, serviços centrais ou o centro nacional de pensões, disse à Lusa o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana.
A Frente Comum, que convocou a paralisação, espera “uma grande adesão” à greve perante o “descontentamento” face às negociações com o Governo sobre os aumentos salariais para 2023.
Entre as estruturas da Frente Comum que emitiram pré-avisos de greve estão a Federação Nacional de Sindicatos dos Trabalhadores da Administração Pública, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL).
(Notícia atualizada às 10h58)
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