Várias centenas de pessoas reuniram-se na Avenida Paulista, no coração financeiro do Brasil, para expressar a sua rejeição ao regime militar, responsável por 443 assassínios ou desaparecimentos por razões políticas.
Os manifestantes mostraram fotografias de algumas pessoas desaparecidas durante a ditadura, um dos capítulos mais sombrios da história do Brasil e cuja verdade oficial tem sido repetidamente questionada pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, capitão do Exército na reserva.
Entre os desaparecidos na época está Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, e cuja memória foi lembrada durante a marcha pacífica realizada em São Paulo sob o ‘slogan’ “Ditadura Nunca mais”.
Bolsonaro disse recentemente que sabia a verdade sobre o paradeiro de Santa Cruz e atribuiu a sua morte a um grupo de esquerda, contradizendo novamente os documentos da Comissão da Verdade.
Estas palavras somam-se a uma longa lista de declarações controversas, infundadas ou falsas sobre a ditadura e reabriram as feridas deixadas por um período que foi marcado pela repressão e por milhares de casos de tortura, como lembraram os manifestantes.
“O Presidente do Brasil, Bolsonaro, está resgatando um discurso histórico, que ele não inventou: que a ditadura do Brasil não existia e que era suave. Precisamos levar a cabo essa luta novamente, para dizer que a ditadura existiu, assassinou, causou o desaparecimento”, disse à agência de notícias Efe Viviana Mendes, que faz parte de uma comissão de familiares de mortos e desaparecidos políticos.
O professor Lucas Marcelino saiu para as ruas de São Paulo para “resgatar a memória, a verdade e a justiça” e continuar a lutar para “encontrar os restos mortais dos políticos desaparecidos e fazer justiça aos que foram mortos e torturados” .
Como responsáveis pela tortura, o relatório da Comissão da Verdade identificou 377 agentes da ditadura que não puderam ser julgados por uma grande amnistia concedida em 1979 pelo próprio regime e que beneficiou militares e membros de grupos armados de esquerda.
“O Brasil não puniu os seus torturadores”, lamentou Marcelino, em declarações à Efe.
Um dos líderes da repressão ditadorial que beneficiou da amnistia foi Carlos Alberto Brilhante Ustra, que Bolsonaro exaltou enquanto ainda era deputado, durante o julgamento político que levou à destituição de Dilma Rousseff (2011-2016).
No seu discurso, Bolsonaro referiu-se a Ustra como o “pavor de Dilma Rousseff”, presa e torturada pelo coronel durante a ditadura.
No dia de seu controverso discurso, em 2016, Bolsonaro estava acompanhado pelo seu filho e também deputado Eduardo Bolsonaro, que hoje, mais uma vez, intensificou a polémica ao questionar nas redes sociais a ajuda recebida pelas vítimas do regime militar.
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