"O que o Presidente Bolsonaro está a fazer é um crime de Estado (...), um genocídio, por negacionismo de uma pandemia", afirmou, numa iniciativa que decorreu hoje ao final da tarde, para contestar a situação política e chamar a atenção para as mortes por covid-19 no Brasil, o segundo país com mais infeções a nível mundial (26.417 mortos e mais de 438 mil casos).

Sérgio Tréfaut, nascido em 1965 no Brasil, referiu que os números oficiais não são esses, pois há fora desses “pelo menos 11 mil pessoas com síndrome respiratória aguda" que morreram "obviamente de covid-19".

Além disso, "a previsão, infelizmente, é de que o Brasil ultrapasse os Estados Unidos" em termos de números de infetados e mortes como resultado da pandemia, indicou.

"Quando falo de crime de Estado e quando falo de genocídio (...) é que o facto de haver um negacionismo total sobre uma pandemia, que foi o que aconteceu no Brasil, faz com que o número de mortos seja enorme”, assinalou.

"Relativamente a esse extermínio, existe o lado do negacionismo científico, existe o lado do descuido completo dos hospitais. Por não se levar a sério a pandemia, não se prepararam os hospitais", apontou.

Recordando que viveu três quartos da sua vida em Lisboa e que decidiu voltar ao Brasil logo após a eleição de Jair Bolsonaro, o cineasta assegurou que viu acontecer neste período no seu outro país "coisas terríveis (...) como as queimadas da Amazónia, todo o desmatamento totalmente ilegal da Amazónia", assim como o "desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde [no Brasil SUS]”.

"Mas essa vida que estava cheia de coisas difíceis, tornou-se impossível a partir da crise da pandemia", declarou, considerando que “esta também pode dizimar completamente os índios".

Por outro lado, da parte do Presidente do país, "há um enorme desprezo pela vida” e “várias vezes, tanto o Presidente Bolsonaro como os seus filhos disseram 'morreram têm de morrer'", sublinhou o cineasta.

Na sua intervenção, Sérgio Tréfaut defendeu também que, perante tudo o que se está a passar no Brasil, o Estado português deve assumir uma posição.

"Para nós aqui em Portugal é importante que, não só o Governo se solidarize com essa questão e não lave as mãos de maneira diplomática, dizendo que é um país irmão, mas também apelamos à população que tome a nova bandeira que nós criámos sobre o luto dos brasileiros" e a ponha à janela. "Para dizerem que estão com as pessoas que morreram e não com as pessoas que matam", adiantou.

"É importante pressionar o Governo português para que não lave as mãos do crime de Estado, do genocídio, do extermínio que está a decorrer no Brasil", realçou.

Para Sérgio Tréfaut, existem várias instâncias internacionais onde Portugal pode atuar. O Parlamento Europeu pode pronunciar-se", exemplificou.

"Quando a decisão de um chefe de Estado, por razões económicas, não são sanitárias, leva à morte de 150 mil pessoas em vez de cinco mil, se somos um país irmão (...), alguma coisa tem que ser feita", concluiu.

Os organizadores do protesto sustentaram que o Governo liderado por Bolsonaro não tem legitimidade para permanecer no poder, pedindo um posicionamento da comunidade internacional.

Em frente às instalações do Consulado-Geral do Brasil, 10 intelectuais portugueses e brasileiros juntaram-se à iniciativa promovida por Tréfaut.

A Câmara Municipal de Lisboa e a PSP estavam avisadas do protesto, que cumpriu as restrições a que obriga a pandemia de covid-19, ou seja, sem aglomerações.

O protesto, que contou também com o apoio e a participação da Presidente da Casa do Brasil, Cyntia de Paula, consistiu na afixação de cartazes, nos quais se lia "Deposição imediata. 'Impeachment'. Julgamento", "O Brasil não é isto" ou "Brasil, previsão até agosto: 100 mil mortos. 'E daí?', pergunta Jair Bolsonaro".

Outro cartaz dizia: "Bolsonaro, genocida demente".

Os manifestantes deixaram um apelo aos portugueses para que mostrem solidariedade com o povo brasileiro, porque "o Brasil está de luto".

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 360 mil mortos e infetou mais de 5,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 2,3 milhões de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.