Marcelo Rebelo de Sousa falava numa conferência intitulada "Portugal e os Estados Unidos da América: Parceiros num Mundo em Mudança", no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, na presença do embaixador norte-americano em Lisboa, Robert Sherman.
"Vale a pena notar que, qualquer que seja o rumo que o mundo leve, a geografia não muda. O Oceano Atlântico vai continuar a ligar os EUA à Europa e os Açores serão sempre a primeira porta para a Europa no Atlântico Norte", declarou.
O chefe de Estado salientou que "Portugal foi um dos primeiros estados europeus a reconhecer a independência dos Estados Unidos" e referiu-se aos dois países como "parceiros e aliados que nunca, mas nunca, devem esquecer que o são, seja em tempos de maior paz e calma, seja em tempos de desafios maiores".
"Cabe aos decisores políticos transformar o que nos uniu em ações concretas e tornar realidade o que ainda é apenas visto como potencial. Cabe aos decisores políticos não se contentarem com o que temos e ambicionar mais desta ótima relação, para benefício mútuo dos nossos países, dos nossos povos", defendeu.
Citando o antigo Presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "o melhor de hoje não é suficientemente bom para amanhã" e afirmou: "O que tivemos no passado foi bom, o que temos no presente é muito bom, mas Portugal quer muito mais desta relação".
Marcelo Rebelo de Sousa citou também palavras de Roosevelt em defesa da liberdade de expressão e de culto, contra as "doutrinas isolacionistas prevalecentes na altura", em 1941, e que, disse, "foram a base para a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO)".
No início desta conferência, o Presidente da República ouviu o embaixador norte-americano em Lisboa descrevê-lo como um "pensador estratégico profundo", com "uma mente analítica brilhante" e "as capacidades políticas e de comunicação necessárias para galvanizar apoio para a sua mensagem".
Robert Sherman elogiou o discurso "de esperança e não de medo" de Marcelo Rebelo de Sousa e disse que em junho o chefe de Estado "anteviu que haveria uma necessidade de reexaminar as relações transatlânticas depois das eleições nos Estados Unidos", embora talvez não tenha "previsto uma vitória do Trump" na altura.
Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu ao embaixador norte-americano, a quem se referiu como "um querido, mesmo querido amigo de Portugal".
Na sua intervenção, o Presidente da República disse que os portugueses e lusodescendentes que vivem nos Estados Unidos estão no centro da relação entre os dois países, e falou também nos valores e princípios que unem as duas nações, e que datam da pioneira Constituição dos Estados Unidos elaborada em 1787.
"Falo, por exemplo, dos princípios da separação de poderes, da independência do poder judicial, da noção de liberdade individual, mas também do equilíbrio entre Estados e federações, assegurando que tanto os maiores como os mais pequenos estivessem representados na base da igualdade, e não proporcionalmente", mencionou.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que esses princípios e valores são hoje considerados "quase naturais", mas "não são naturais", e têm de ser defendidos.
"Resultam de muita luta e de muita coragem, são princípios e valores que têm de ser acarinhados e defendidos todos os dias, porque não podemos perdê-los. São princípios e valores que têm de ser entendidos pelas novas gerações, que estão aí, para as guiar no futuro", declarou.
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