“Respeitando as posições unilaterais, veja como Portugal tem sido muito cuidadoso no lidar com essa realidade, até para não dar a sensação de que há um mundo bom e um mundo mau, sendo que o mundo bom é aquele que se pode vacinar rapidamente e o mundo mau é aquele que não tem acesso tão rápido a vacinas”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado, que falava à imprensa em Estrasburgo, França, à margem de uma cerimónia de homenagem europeia ao antigo Presidente francês Valéry Giscard d’Estaing, considerou que “Portugal tem tido o bom senso muito grande no lidar com essa situação”.
“Eu estava em Angola e vi como Angola, ela própria, tomava unilateralmente algumas medidas temporárias relativamente a países daquela área. Uma coisa é medidas temporárias, que foram tomadas aqui e acolá, mas são temporárias e a pensar realmente num futuro que tem de ser, a médio e longo prazo, tratado de outra forma”, disse.
“Se nós começamos a dividir o mundo de uma forma muito simplista e sem metas definidas no tempo, corremos o risco de ignorar aquilo que é um mundo global e acentuarmos as desigualdades”, advertiu.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ter consciência de que “em período de crise, as pessoas ficam egoístas e pensam ‘como é que eu trato do meu assunto’ e o resto não é tão importante”.
“Só que o meu assunto é o assunto de todos, e o assunto de todos é o meu assunto”, concluiu.
Na quarta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, proferiu “um sinal de alarme contra a injustiça e a imoralidade na forma como a comunidade internacional trata África” e afirmou que, do ponto de vista da pandemia de covid-19 e da crise climática, “este escândalo que condena África a uma situação extremamente difícil deve acabar”.
Guterres reforçou a acusação do presidente da comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, da injustiça e ineficácia das medidas impostas por vários países para não admitir viagens vindas da África do Sul e países vizinhos.
Os dois responsáveis consideraram que o encerramento de fronteiras apenas para países africanos equivale a um regime de “apartheid de viagens” e consideraram ser “inaceitável” que uma das mais vulneráveis partes do mundo esteja condenada ao confinamento, o que representa uma dificuldade acrescida à recuperação económica após a pandemia.
Na visão do secretário-geral da ONU e do presidente da comissão da UA, as medidas não são justificáveis e não têm fundamento científico, para além de serem um castigo à transparência dos países africanos que revelaram a descoberta da variante Ómicron do vírus da covid-19, que já circulava noutras partes do mundo antes.
“Com um vírus que realmente não tem fronteiras, as restrições de viagem que isolam qualquer país ou região não são apenas profundamente injustas e punitivas – são ineficazes”, declarou Guterres, antigo Alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados.
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