Marcelo Rebelo de Sousa começou o seu discurso, a partir da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, por recordar os mais recentes números da pandemia, bem como os de 2 de novembro, dia em que se invocaram as vítimas da pandemia.

"A 2 de novembro, dia da evocação das vítimas da pandemia no Palácio de Belém, havia 2.590 mortos. São agora 10.469. Para eles, assim como para os mortos não covid, destes quase 11 meses de provação, vai o meu primeiro emocionado pensamento, para eles e para as suas famílias", começou por dizer Marcelo.

"São, com os demais que sofreram e sofrem e lutam dia após dia pela vida e pela saúde, o retrato do Portugal em que decorreu esta eleição, em plena pandemia agravada em janeiro, com estado de emergência e confinamento inevitável, com crise económica e social, queda de crescimento e projeção na pobreza e das desigualdades", continuou.

“Para eles vai o meu e o nosso pensamento”, afirmou, relembrando também as famílias afetadas pela covid-19.

De seguida, Marcelo saudou os portugueses que proporcionaram a realização destas eleições, com apreço para "os que se mobilizaram para as mesas de voto, para que pudesse haver eleição, os que votaram apesar da pandemia e do inverno agreste, os que só não votaram por impossibilidade legal ou física, os que não o fizeram por sua opção muito pessoal. Para todos eles — mas em particular os que mais se sacrificaram para que a democracia não fosse vencida pela pandemia — vai uma palavra de gratidão ilimitada, pelo serviço que prestaram à liberdade, ao estado de direito e a Portugal."

Quanto ao resultado da eleição, Marcelo lembrou que estas eleições representam uma resposta dada "quanto à escolha feita entre a renovação da confiança no Presidente da República em funções e a sua substituição por outra ou outro dos candidatos com diversos perfis", sendo que "perante essa opção, que envolvia também julgar o desempenho de quem se submetera ao voto como o responsável máximo do Estado e, nessa medida, da gestão da pandemia, os portugueses responderam, renovando a confiança no atual Presidente da República por mais cinco anos".

Além disso, Marcelo referiu estar "honrado e agradecido por esta confiança em condições tão mais difíceis do que em 2016".

Agradecendo de "coração aberto" a quem votou nele, o Presidente deixou também uma palavra a quem não o fez, pois "o Presidente é um só e só um e representa todo o Portugal".

"Tenho a exata consciência que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco e diz que tem de continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses", começou por dizer, frisando que não pode ser um presidente "de uns contra os maus, que não seja de facção, que respeite o pluralismo e a diferença e que nunca desista da justiça social".

Fazendo referência à abstenção, Marcelo lembrou que, mesmo assim, se registou uma "subida significativa do voto absoluto em relação há cinco anos".

Retomando o tema inicial, Marcelo frisou que os portugueses "não querem um pandemia infindável, uma crise sem fim à vista, um recuo em comparação com outros países, uma radicalização e um extremismo nas pessoas nas atitudes na vida social e política", mas sim "uma pandemia dominada o mais rápido possível, uma recuperação do emprego".

Marcelo defende revisão legislativa antes de novas eleições

O Presidente da República reeleito defendeu ainda a necessidade de uma revisão legislativa antes de novas eleições, “daquilo que se concluiu dever ser revisto”, e também para que se possa avançar com a possibilidade do voto por correspondência.

No seu discurso de vitória, Marcelo Rebelo de Sousa prometeu “tudo fazer para persuadir quem pode elaborar leis a ponderar a revisão antes de novas eleições daquilo que se concluiu dever ser revisto, para ajustar a situações como a vivida”.

E prosseguiu: “Mais em geral, para ultrapassar objeções ao voto postal ou por correspondência, objeções essas que tanto penalizaram os votantes, em especial os nossos compatriotas espalhados pelo mundo. Compreendi este outro sinal e insistirei para que seja finalmente acolhido”.

O chefe de Estado afirmou ainda ter a noção de “que os portugueses, ao reforçarem o seu voto, querem mais e melhor”, seja “em proximidade, em convergência, em estabilidade, em construção de pontes, em exigência, em justiça social e de modo mais urgente, em gestão da pandemia”.

“Entendi esse sinal e dele retirarei as devidas ilações”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, afirmando ter “a exata consciência que a confiança agora renovada é tudo menos um cheque em branco”.

“Quem recebe um mandato tem de continuar a ser um presidente de todos e de cada um dos portugueses. Um presidente próximo, um presidente que estabilize, um presidente que una, que não seja de uns, os bons, contra os outros, os maus. Que não seja um presidente de fação”, concluiu.