Na sexta-feira, à chegada ao Peso da Régua, o chefe de Estado disse aos jornalistas que os seus discursos na cerimónia militar do 10 de Junho são “sempre sobre o país, nunca sobre os acontecimentos do dia-a-dia”.
No ano passado, no seu discurso no Dia de Portugal, em Braga, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou o povo português, “a arraia-miúda” que construiu Portugal, se espalhou pelos oceanos e que “se desdobrou em dois” na independência do Brasil.
E, no discurso que proferiu esta manhã, o país a que deu destaque foi o do interior ou não estivesse a falar a partir do Peso da Régua.
"Queremos que os Pesos da Régua dos nossos interiores sejam tão importantes quanto as nossas Lisboas", afirmou Marcelo Rebelo Sousa, citando a lista das mais importantes cidades.
"Este 10 de junho é muito diferente dos últimos, é celebrado em Peso da Régua, cidade do interior, que nunca foi nem capital de distrito nem sede de diocese"
"Por entre alegrias e tristezas estamos a fazer Portugal", começou por dizer o Presidente da República, recordando que neste 2023 "o 10 de junho começou a 5 de junho com os nossos compatriotas dispersos pelo mundo antes de aqui chegar".
"De que nos serve ter essa influência mundial se entre portas sempre tivemos problemas por resolver?"
Enumerando um conjunto de razões para termos orgulho no país - “a 5ª língua mais falada no mundo e a segunda mais falada no hemisfério sul", "o secretário geral das Nações Unidas, "as nossas forças nacionais destacadas, sendo as mais pedidas e as mais louvadas de todas", "os nossos compatriotas e seus descendentes à frente de universidades, empresas" - Marcelo Rebelo de Sousa apontou que "é de pasmar para tão pequeno território terrestre".
Mas foi também a partir daqui que conduziu o discurso até aos temas da atualidade, lançando a pergunta: “De que nos serve a influência externa, se dentro de portas temos problemas por resolver? Se temos mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade?”
"Mais pobreza, mais desigualdade, mais razões para partir (...) sejamos honestos, sempre assim foi", afirmou o presidente, para quem a resposta é "não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça”.
Só dessa forma, prosseguiu o chefe de Estado, Portugal poderá continuar a ter a sua “projeção do mundo”, o seu “desígnio nacional”.
“É a nossa vocação de sempre: fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos. Outros há, e haverá, que são e serão mais ricos do que nós, mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciar, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta”, disse.
O chefe de Estado considerou que o país não quer “nunca cometer o erro” de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou “há séculos”. “Mas atenção, que isso não seja álibi ou justificação para não sermos mais fortes e mais justos cá dentro, até para podermos ser mais fortes e justos lá fora”, frisou.
Segundo o chefe de Estado, “é esse o apelo deste Douro e de todos os Douros”: “Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, com vezes, mil vezes, falharmos mais do que acertamos, (…) não desistirmos, começarmos de novo”.
Num discurso cheio de analogias à vinha e ao Douro, o Presidente da República afirmou que “darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente”, declarou, sem nunca mencionar diretamente qualquer caso político atual.
"Só se não quisermos é que o nosso Portugal não será eterno", concluiu.
O roteiro do 10 de Junho
A cerimónia militar começou às 10:00 na Praça do Município na presença do Presidente da República, do primeiro-ministro, do presidente da Assembleia da República e dos líderes de partidos, entre os quais o presidente do PSD, Luís Montenegro.
Após a cerimónia militar, que terminará pelas 13:15, o Presidente da República irá visitar, às 16:30, a exposição das Forças Armadas, no Cais da Régua, antes de regressar, às 19:30, à Praça do Município para participar na cerimónia militar do arriar da bandeira nacional.
De seguida, às 20:00, irá visitar expositores de produtores de vinhos e produtos regionais integrados no ‘Douro Wine City’, no auditório municipal do Peso da Régua.
Às 21:30, as comemorações do 10 de Junho irão terminar com um concerto, aberto à população, no Jardim da Alameda dos Capitães, em que Marcelo Rebelo de Sousa irá condecorar as três bandas militares.
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