"Tenhamos a humildade e a inteligência de preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na sessão solene comemorativa do 50.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República.
O chefe de Estado considerou que muitos avanços conseguidos nestas cinco décadas estão a "precisar do impulso de novas gerações, ideias e pessoas", antes que o 25 de Abril "fique ou acabe por ir ficando saudosismo, nostalgia, mais passado do que futuro".
"O que fazer, como fazer? Tomar aquilo que de mais forte, mais duradouro, mais redentor, mais promissor tem Abril, e com isso ir recriando Portugal. Esse valor único, singular, que nunca morreu, nunca se apagou, nunca se enfraqueceu: chama-se liberdade, democracia e vontade do povo. Então reconheçamos essa força vital da democracia", apelou.
Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que "são democracias, mesmo inacabadas, as sociedades mais fortes e criativas do mundo, como são as humanamente melhores, como são as ambientalmente mais avançadas, como são as mais livres, mais plurais, mais abertas, menos repressivas, menos persecutórias, menos intolerantes, menos avessas à diferença".
As democracias são "mais abertas a todos, mesmo a todos, incluindo aqueles que contestam, no todo ou em parte, essa democracia", acrescentou.
"Ninguém quer trocar uma democracia menos perfeita por uma ditadura, ainda que sedutora ou escondida por detrás de tiques iliberais. Nós em Portugal não queremos. Queremos é maior qualidade económica, social e cultural, para dar força a melhor qualidade política", reforçou.
O chefe de Estado começou o seu discurso recordando o seu tempo como deputado constituinte "de 20 e poucos anos", entre 1975 e 1976.
"Parece que foi ontem, ou anteontem, mas não foi, foi há meio século. Dei hoje comigo a ver-me há 48 anos, sentado neste hemiciclo, na Assembleia Constituinte", disse.
"Não encontro muitos mais deste tempo nesta sala. É a lei da vida", observou.
No fim da sua intervenção, recuou a "uma memória mais antiga", do período da ditadura, quando esteve na então Assembleia Nacional, "no final os anos 60, sentado na terceira fila da galeria – ironicamente por detrás da futura bancada de 76 – acompanhado de colegas estudantes universitários, olhando para os que falavam".
Os deputados eram "todos eles escolhidos um a um por uma pessoa, e só ela, líder vitalício ou líder sem prazo do partido único não assumido, aqui chegados pela vontade do chefe, não pela vontade do povo", referiu.
"Um hemiciclo tão diferente, tão oposto ao de 76, ao dos últimos 50 anos, ao de hoje. Um hemiciclo de escolha popular seria impossível de encontrar, em 35, em 45, em 55, em 65, em 24 de Abril de 74", salientou.
"Definitivamente o caminho que queremos não é esse, o da ditadura, mas o de cada vez melhor, muito melhor democracia, pelo futuro de Portugal", concluiu Marcelo Rebelo de Sousa, exclamando: "Viva o 25 de Abril, viva a liberdade, viva a democracia, viva Portugal".
Marcelo defende que nada se compara à Revolução dos Cravos e lembra protagonistas da democracia
O Presidente da República defendeu hoje que nada na História contemporânea se compara ao 25 de Abril de 1974, pelas mudanças que implicou, num discurso em que lembrou os protagonistas da democracia portuguesa nas últimas cinco décadas.
"Por isso, é injusto comparar o incomparável, e esquecer os custos globais daquilo que vivemos, e até os custos da revolução, que só existiu porque a ditadura não soube ou não quis fazer uma transição, ao contrário da vizinha Espanha", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.
Na sua intervenção, que durou perto de meia hora, o chefe de Estado evocou, embora sem os nomear, Ramalho Eanes, Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Cavaco Silva, entre outros, ao falar dos antecedentes da Revolução dos Cravos e da estabilização do regime democrático.
Cada nome evocado suscitou aplausos distintos, ora mais à direita ora mais à esquerda, na Sala das Sessões, em que estavam presentes, numa das galerias, os antigos chefes de Estado António Ramalho Eanes e Aníbal Cavaco Silva.
"Muitos e muitos outros como eles batalharam e tantas vezes venceram. E outros batalharam e perderam, pouco ou muito. E alguns se desiludiram, no 25 de Abril, outros no 28 de setembro, outros no 11 de março, outros no verão quente, outros no crucial 25 de novembro, que acabou por definir o desfecho da revolução", e ainda "outros ao longo dos últimos 50 anos", referiu.
Neste ponto da sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que o 25 de Novembro de 1975 "a justo título, tal como a Constituinte e a Constituição, desde sempre foi pensado para integrar as celebrações de Abril, que só terminarão em 2026".
"Assim a História, faz-se e refaz-se amiúde mais de baixos do que de altos", observou.
Em seguida, o Presidente da República questionou: "E esses altos e baixos terão comparação com qualquer outro movimento político militar, social, na nossa história contemporânea, na história dos nossos parceiros europeus mais antigos ou dos nossos parceiros europeus mais recentes?"
"Não, não tem comparação. O 25 de Abril implicou ao mesmo tempo fim de um império de cinco séculos, fim de uma ditadura de cinco décadas, integração económica e política na hoje União Europeia e quatro mudanças de regime económico", defendeu.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "nenhuma outra revolução ou golpe militar foram comparáveis" na História contempoânea, porque "nenhum outro império europeu moderno enfrentou todos estes desafios ao mesmo tempo em menos de 30 ou 40 anos".
"Nenhum dos nossos parceiros de Leste tivera impérios extraeuropeus nem vivera descolonização, com democratização, com integração europeia e quatro mudanças de regime económico como nós. Por isso, é injusto comparar o incomparável", defendeu.
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