A marcha faz parte do Dia de Luta Antirracista, que ocorre neste Dia de Portugal, quando há 29 anos foi assassinado Alcindo Monteiro, perto de onde hoje os manifestantes de reuniram e começaram o protesto.

Alcindo Monteiro, cidadão cabo-verdiano assassinado por um grupo neonazi, em 1995, foi uma referência presente na marcha e o seu nome bem visível em vários dos cartazes com que os participantes desfilaram pela Rua Garrett, seguindo depois pela Rua Serpa Pinto, Travessa do Carmo e, finalmente, o Largo do Carmo.

O seu nome, aliás, é um dos 14 evocados em pequenos posters vermelhos que identificam alegadas vítimas do racismo e hoje foram colocados, em círculo, no chão do Largo do Carmo, onde há 50 anos caiu a ditadura.

“Racistas, fascistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora”, gritavam os manifestantes com a ajuda de megafones e ao som dos tambores que estiveram sempre presentes ao longo da marcha, tal como vários elementos da PSP, apoiados em viaturas.

Para Flávio Almeida, porta-voz do movimento Vida Justa, esta iniciativa tem como objetivo fazer com que “não caia no esquecimento o que aconteceu no 10 de junho, com a morte de Alcindo Monteiro”.

Mas também mostrar que “o combate antirracista não pode ser dissociado da questão material e que não é o combate de um dia, é um combate de todos os dias”.

Para José Falcão, da organização SOS Racismo, o Governo devia avançar já com a legalização de todos os imigrantes e dar-lhes o direito de voto, além de aprovar a criminalização do racismo.

O dirigente associativo congratulou-se por a questão antirracista mobilizar cada vez mais pessoas e associações, mas deixou um lamento: “Infelizmente quem está no Governo não faz isso”.

O colorido dos participantes e a música, a que se sobrepunham as palavras de ordem, apanharam de surpresa os turistas que aproveitaram para registar o momento com as câmaras dos telemóveis, com alguns a sair mesmo dos cafés e restaurantes para verem passar a marcha.

Ao longo de todo o percurso, a situação na Palestina foi lembrada por várias bandeiras e palavras de ordem: “Israel é um Estado assassino, viva a luta do povo palestino”.

Com uma bandeira de cores vermelho, preto, branco e verde, Susana Gaspar, do Movimento da Palestina, considerou impossível não incluir a luta do povo palestiniano a este dia antirracista.

“Assim como Alcindo Monteiro foi assassinado, as pessoas na Faixa de Gaza estão diariamente a ser assassinadas e vemos isso nos telejornais de uma forma pornográfica e a comunidade internacional, toda junta, não consegue resolver isso”, afirmou.

E prosseguiu: “É um sofrimento horrível saber o que fizeram ao Alcindo Monteiro, sem que nunca ninguém neste Estado tenha pedido desculpa e perdão, por tudo: Pela morte dele, pela morte dos outros, pelo racismo, pelo colonialismo e pela guerra colonial, que dizimou as nossas famílias, psicologicamente também”.

Seyne Torres, da Frente Antirracista (FAR), uma das organizações promotoras desta marcha, acredita que esta jornada faz hoje ainda mais sentido, um dia depois do Parlamento Europeu ficar “cada vez mais de direita, de extrema-direita”.

Por reconhecer que “as políticas da União Europeia influenciam as políticas nacionais”, esta ativista considerou ser determinante “marcar este dia de luta contra o racismo, contra todas as políticas neoliberais, para uma maior democracia e um país mais igualitário”.

“Forças e o movimento capitalista incentivam as forças de extrema-direita para que usem o racismo e a xenofobia como armas de arremesso contra uns e outros para desviarem as atenções do que interessa, os baixos salários, a falta de habitação e o estado da saúde”, adiantou.

Além da FAR, organizaram esta marcha a Associação Desportiva e Recreativa “O Relâmpago”, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a União de Sindicatos de Lisboa e o movimento Vida Justa.