A manifestação, organizada pela Delegação Regional da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), estava prevista para terminar com a entrega de um documento que sintetiza as “preocupações, reclamações e reivindicações” de agricultores e consumidores.
O documento seguirá, em alternativa, na segunda-feira, por correio, para a DRAP Alentejo e para os grupos parlamentares com assento na Assembleia da República.
Segundo Joaquim Lopes, coordenador da CNA no Alentejo, o Diretor Regional, José Godinho Calado, informou na sexta-feira que não poderia receber a comitiva, ao contrário do que tinha comunicado anteriormente.
Isso não impediu, porém, a concretização da ação de sensibilização que estava programada e à qual aderiram os presidentes das câmaras municipais de Évora e Serpa, Carlos Pinto de Sá e Tomé Pires, respetivamente, assim como o deputado eleito pela CDU em Beja, João Dias.
“Não dependemos do Diretor Regional para fazer a marcha lenta. Os motivos do protesto continuam em cima da mesa. Disseram-nos para entregar o documento ao porteiro, mas, por respeito ao porteiro, não o fizemos e vamos enviar na segunda-feira por correio”, disse Joaquim Lopes à agência Lusa.
Os motivos, segundo uma nota de imprensa divulgada pela CNA, prendem-se com “sensibilizar os poderes políticos para a situação originada pelas culturas superintensivas que têm vindo a afetar os campos alentejanos”, pondo em causa “a sustentabilidade destes territórios” no futuro.
“É a defesa da agricultura tradicional, dos modos de produção tradicionais que nos move. Claro que, depois, tem a ver com os modos de produção superintensiva, com os olivais em sebe, que são uma loucura agronómica que vamos pagar daqui a 20 anos”, explicou o coordenador da CNA.
“A política que o Estado devia ter desenvolvido quando começou a construir [a barragem de] Alqueva”, prosseguiu o coordenador o CNA, era uma “estratégia agroindustrial que permitisse a transformação de produtos” através de unidades industriais que lhes acrescentassem valor na região.
No entanto, “não foi nada disso que aconteceu”, frisou.
“A forma de responder à ocupação do território agrícola foi criar este tipo de culturas [superintensivas] que tiveram a consequência que tiveram, em Algeciras [Espanha], no Texas ou na Califórnia [EUA]. Basta ir lá ver o que as pessoas pensam disto”, comparou o coordenador.
Nesses territórios, disse, as culturas superintensivas “desertificaram o solo” e deram origem a uma “esterilização do solo, com todas as consequências que isso tem no futuro”.
“O meu avô costumava dizer que o olival dele dava borregos e horta, porque, efetivamente, não permitia que as oliveiras tomassem conta dos 10 metros que têm à volta. Aqui [no Alentejo], os 10 metros são cinco carreiras [de oliveiras]”, exemplificou Joaquim Lopes.
As viaturas que participaram na marcha lenta concentraram-se em quatro locais distintos da cidade de Évora, nomeadamente nas rotundas de Reguengos, Estremoz, Arraiolos e Montemor-o-Novo, antes de seguirem, perto das 11:00, até à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo.
No documento que vão entregar, na segunda-feira, aos grupos parlamentares da Assembleia da República, defendem “as culturas tradicionais, o controlo e fiscalização adequada de novas culturas superintensivas e a defesa da agricultura familiar” para “favorecer o povoamento do interior”.
Sustentam, ainda, o “acesso à exploração da terra por novos e jovens agricultores”, a “reestruturação da posse e uso da terra ao serviço de uma estratégia alimentar de proximidade” e em defesa da “soberania alimentar nacional”.
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