A cientista portuguesa, que hoje recebeu o Prémio Universidade de Lisboa 2017, disse à Lusa que “é preciso que as pessoas, todas as pessoas, se apercebam da importância do que está a acontecer” com o envelhecimento do sistema científico nacional, “cheio de cientistas com mais de 50 anos” e incapaz de absorver gente nova, que o país desaproveita.

“O país é que fica a perder. Temos pessoas da maior qualidade. Podíamos ser respeitados internacionalmente pela qualidade da ciência que produzimos e andamos aí, para a trás e para a frente”, disse Maria de Sousa, aludindo à quase inevitável emigração dos jovens cientistas nacionais que não encontram lugar em Portugal.

Para Maria de Sousa “as consequências são terríveis”, não só para o país e para a ciência que não produz, mas para os cientistas, que pessoalmente vivem “uma grande incerteza”, porque “fica tudo empanado nas Finanças”.

Ainda assim, Maria de Sousa entende que o problema não é apenas de dinheiro e defende “uma conjugação de fatores” que permita aproveitar “a qualidade individual” dos jovens cientistas.

“Para isso é preciso ter sistemas abertos que promovam a competitividade”, disse, apontando como exemplo a Fundação Champalimaud.

E é também na Fundação Champalimaud que se apoia para criticar a escassez de exemplos em Portugal como o desta instituição, que tem na base a filantropia de António Champalimaud, banqueiro e empresário português que morreu em 2004, considerado um dos homens mais ricos de Portugal.

“Não temos tradição de filantropia na ciência em Portugal e a ciência beneficiaria largamente disso”, disse a imunologista portuguesa.

Maria de Sousa disse que “há coisas muito interessantes a acontecer em todas as áreas, não só na ciência” e que o mecenato deveria ter maior expressividade, em benefício próprio.

“Portugal é, de facto, um país muito interessante. É melhor sermos nós a descobrir isso antes que venha alguém de fora descobrir por nós”, disse.

Sobre o prémio que hoje foi entregue numa cerimónia no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, a cientista disse ter sido uma surpresa.

“Os cientistas não esperam ser reconhecidos. De maneira geral, ninguém sabe quem são os cientistas, conhecem apenas o resultado do seu trabalho. A pessoa não espera ser reconhecida. Um prémio é uma coisa que deixa a pessoa boquiaberta. E eu, quando fechei a boca, fiquei muito contente”, disse Maria de Sousa à Lusa.

Numa nota biográfica disponibilizada pela universidade apresenta-se a imunologista, licenciada em Medicina pela instituição, como uma cientista “profundamente estimada e muito respeitada na comunidade científica” que é também “uma humanista que cultiva o gosto pelas artes, pela história e pela poesia”.

“A Universidade de Lisboa premeia uma mulher que contribuiu de forma notável para o progresso da ciência e para a projeção de Portugal no mundo”, lê-se no comunicado da universidade.

O prémio, entregue anualmente, e suportado pela Caixa Geral de Depósitos, tem o valor de 25 mil euros.

[Fotografia: Universidade de Lisboa/Facebook]