“Não sei se é justo pedir à esquerda que seja o protagonista do combate à extrema-direita”, afirmou Mariana Mortágua hoje no Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos, quando questionada sobre o que pode a esquerda fazer para retirar votos à direita que se radicalizou em vários países da Europa e do mundo.
Oradora numa mesa de autores em que começou por debater com o escritor Paul Mason o poder da moeda e a relação entre a finança e a política, a bloquista, que não queria “vestir o papel de deputada”, acabou a falar sobre o papel da esquerda numa altura em que, ambos os oradores concordaram que “a direita se está a radicalizar e o centro paralisou”.
À esquerda, afirmou, cabe “apresentar alternativas e ser uma alternativa ao centro”, mas, vincou, não é à esquerda que “cabe o papel principal no combate à extrema-direita” em Portugal, onde, lembrou “os votos do Chega vêm sobretudo da desagregação do CDS e do PSD”.
Já sobre se a esquerda pode, então, ajudar o centro a “não paralisar” a deputada acredita que sim, mas, exemplificou, “tal como para ajudar uma velhinha a atravessar a estrada, só se pode ajudar se a velhinha quiser atravessar”. Até porque, acrescentou, “se for um velhinha absoluta, ainda é mais difícil convencê-la a atravessar”.
“A clareza da direita moderada quanto às opções de ir para um governo com a extrema-direita é importante para travar a extrema-direita”, sublinhou Mortágua, criticando o papel “ambiguo” da direita portuguesa e a “relação simbiótica muito difícil de explicar” em que “o centro conta com a extrema-direita para se manter onde está”.
Aos partidos do centro “dá jeito a extrema-direita”, afirmou, justificando que esta “desestabiliza a direita tradicional e é uma chantagem para não se votar na esquerda”.
Numa conversa em que não faltaram criticas às politicas económicas da Europa e dos estados perante a crise e a subida da inflação Mortágua e Mason alertaram que o poder “da finança põe em perigo as democracias”, concordando ambos que “é preciso mobilização” das populações para alterar políticas reféns dos sistemas financeiros.
Mariana Mortágua e Paulo Manson foram os últimos oradores de hoje no Folio que decorre na vila até ao dia 16 sob o tema “O Poder”.
Por 24 espaços da vila do distrito de Leiria passam, em 11 dias, cerca de 300 autores de cerca de dez países, no âmbito da programação que integra 16 exposições, 36 concertos, 14 mesas de autores, 62 apresentações e lançamentos de livros, 16 oficinas, ao que se juntam tertúlias, workshops e masterclasses e sessões de cinema, entre muitas outras iniciativas.
O Festival Literário Internacional de Óbidos teve a sua primeira edição em 2015 e desenvolve-se em seis capítulos: Autores, Educa, Ilustra, Mais, BD e Boémia.
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