Com os partidos tradicionais a desabar e o centro a minguar, os discursos em França lançam-se aos extremos. De repente, as ideias violentas de Le Pen deixam de ser apenas um assunto da margem e ocupam o coração do debate político. 

Há quem veja nesta história uma reencarnação de peças de Shakespeare. E há quem veja nas peças de Shakespeare todas as histórias possíveis. Porém, a história de Marine é inédita na história de França. E também do mundo.

Muito já se escreveu sobre esta mulher. Mais ainda sobre esta família. O alemão ‘Der Spiegel’ apresentava-a, em 2011, como a “Madame Fúria” que trazia o populismo às massas. A revista ‘The Economist’, no ano passado, analisava as origens “brutais” da líder do movimento de revivalismo nacionalista que se espalha pela Europa. E o jornal britânico ‘The Guardian’, em 2011 também, dava conta da mulher que procurava sair da sombra do pai. Chegou a liderar as sondagens na primeira volta (a curta distância de Emmanuel Macron), mas acabou por ficar em segundo lugar, atrás do candidato liberal.

Apesar de as sondagens dizerem que perde esta segunda volta, a incerteza dita que tudo é possível. E por isso, é importante saber quem é a líder da Frente Nacional (FN).

Marion Anne Perrine Le Pen - eis o nome de uma das mais polémicas candidatas à presidência francesa. Como nas histórias de princesas, Marine, nome por que sempre lhe chamaram, cresceu num castelo. Mas aquilo que as histórias não previram foi que a menina de caracóis loiros fizesse tremer todo um continente. E a culpa é do apelido.

Rodeada de amas, jardineiros e criados, Marine Le Pen viveu desde os oito anos atrás das muralhas do castelo que o pai, Jean-Marie Le Pen, líder histórico da Front National, construiu com as suas ideias radicais. Castelo que mais não é que ostracização, que separação dos colegas cujos pais não permitiam que brincassem com Marine.

Nasceu em Neuilly-sur-Seine, um dos subúrbios chiques da capital francesa, a 5 de agosto de 1968, duas semanas antes de os estudantes começarem os protestos que marcaram aquele verão. Todavia, foi aos oito anos, precisamente antes de ir habitar um castelo, que a política lhe fez o mundo estremecer. Literalmente: às 3h45 de uma noite fria de novembro de 1976, 20 quilos de explosivos rasgam a parede do edifício onde Marine dorme com a família, no 15.º arrondissement de Paris.

No meio de vidros e estuque, no quinto andar do prédio na Villa Poirier, no sul da capital francesa, está Marine, as duas irmãs mais velhas, a mãe, Pierrette, e o pai, a quem a bomba era destinada.

O pai não morreu. A família, aliás, escapou ilesa. Mas Marine deixou de ser criança. Já não era a pequena rapariga como todas as outras, diz. Apesar do estrondo, apesar do abalo, o caso passou aparentemente despercebido. Nem o presidente da câmara quis apoiar a família Le Pen.

Seguem, então, para o château de Montretout. Construída nos anos 30 do século XIX a mando de Napoleão III, esta casa senhorial ergue-se imponente na zona oeste de Paris. Yann, uma das irmãs mais velhas de Marine (que tem nome de rapaz porque o pai, Jean-Marie, queria um filho), chega a dizer que a casa tem um irascível cheiro a morte.

A história de como a família Le Pen acabou num castelo com 140 anos é mais uma a adensar a mística que envolve o clã. Pertencia a Hubert Lambert, um empresário rico e apoiante da extrema-direita francesa. Hubert morreu no château. Supostamente no quarto que mais tarde Jean-Marie e Pierrette viriam a ocupar.

A família Le Pen ficou desde aí bastante rica. É que para além da casa, o empresário, que não tinha filhos, deixou-lhes também no testamento a fortuna. A família do industrial tentou contestar a herança. Mas de nada lhes valeu. Ainda hoje Montretout é propriedade dos Le Pen.

Nestas histórias que a cada linha parecem resvalar para a fantasia há sempre fantasmas. Por isso, as alegadas assombrações de que o château padece merecem honrosa menção, apesar de os eventuais espíritos que povoem as dezenas de salões, quartos, escadarias e demais divisões de Montretout não terem impedido as numerosas e memoráveis festas que os Le Pen fizeram na propriedade.

Fala-se de centenas de convidados; de gente da música, das artes plásticas, do mundo do espetáculo; mas também aristocratas e políticos. A invocar outras literaturas, é difícil esquecer o Grande Gatsby, de Fitzgerald. É que, por trás das festas, há sempre a névoa da FN. Há sempre as ideias e comentários difíceis de Jean-Marie, que acusam de ser racista, xenófobo, antissemita.

Já nos anos 1980, Pierrete foge com o jornalista responsável por escrever a biografia de Jean-Marie Le Pen. Marine, muito próxima da mãe, fica abalada. Até porque o divórcio é espetacular. Sobre a ex-mulher Jean-Marie diz que se precisar de dinheiro Pierrette pode sempre trabalhar como empregada doméstica.

A resposta não tarda. Pierrette posa quase nua para a ‘Playboy’. Veste apenas um fato de criada. Só quinze anos depois do espetacular divórcio Pierrete regressa a Montretout, onde ainda hoje vive. Pelo caminho, chamou “ditador” ao ex-marido.

É o escândalo. Escândalo que terá afetado Marine, que ainda hoje capitaliza o seu passado, usando-o para se identificar como vítima e, assim, aproximar-se das outras vítimas do sistema, sejam elas quem forem.

Jean-Marie, por outro lado, apenas vai à propriedade para trabalhar ou para se entranhar na biblioteca e nos arquivos que rasgam o subsolo do lugar. O pai Le Pen vive agora em Rueil-Malmaison, não muito longe do castelo.

Quem também não está longe de Montretout é a “castelã”, como alguns lhe chamam por ter vivido mais de três décadas na propriedade. Depois de tentar sair da sombra do pai - e de tentar tirar a sombra do pai da FN - Marine comprou casa perto do château, onde vive com o também divorciado Louis Aliot, das fileiras do partido. Com ela vivem também os três filhos, de casamentos anteriores: Marine foi casada duas vezes e duas vezes se divorciou.

Marine deixa o castelo em 2014, depois de entrar em rutura política com o pai e fundador do partido que hoje lidera na corrida às presidenciais de dia 23 de abril. A mudança não lhe deixa saudades, já que diz que o tempo em Montretout foi um pesadelo. A gota de água terá sido quando os cães de Jean-Marie mataram o gato preferido de Marine.

Na praça pública, a guerra é igualmente intensa como a de cães e gatos, gatos e ratos. Se Marine sai do castelo, o pai sai da FN. Jean-Marie Le Pen acaba expulso pela filha do partido que ele próprio fundou. Estávamos em agosto de 2015, Marine pretendia distanciar a FN da imagem antissemítica e entrar na verdadeira corrida pela relevância política em França.

Quatro meses de discussão pública empurraram o velho Le Pen para fora do cadeirão de presidente honorário vitalício do partido. É o culminar de uma espécie de encenação do Rei Lear, de Shakespeare, aplicada à dinastia Le Pen na frente da extrema-direita gaulesa: uma filha que conquista (democraticamente, em eleições internas) o poder e lidera enquanto o pai se tenta agarrar ao comando.

Durante três horas e meia, Jean-Marie Le Pen esteve a ser interrogado pelo comité executivo do partido, para explicar comentários antissemíticos, bem como a alegada defesa de um líder do tempo da Segunda Guerra (1939-1945) que terá colaborado com os nazis.

Marine quer um partido que não é racista, que não é xenófobo, que não é sequer de extrema-direita. Nem de extrema-esquerda. Nada disso: a Frente Nacional é, defende, um partido patriótico. E, sobretudo, um partido de governo, longe dos votos de protesto que o pai recolhia. Está, então, a assumir responsabilidades no caminho para limpar a imagem da FN.

Admite que Jean-Marie tenha usado alguns métodos menos ortodoxos para se fazer notar, mas garante que isso é coisa do passado. “Há trinta anos”, dizia ao ‘The Independent’ em 2010, “Jean-Marie Le Pen talvez tenha usado alguns comentários provocadores para se fazer ouvir quando as classes políticas e os media não davam espaço às nossas ideias.”

“Hoje já não há necessidade desses métodos porque, em tantas áreas, os factos provaram que a Frente Nacional estava certa. Na imigração descontrolada. Na UE. Na globalização. No ultra-capitalismo. Até o presidente Sarkozy parece concordar connosco numa série de temas. Estamos agora numa posição em que podemos oferecer soluções e não apenas convencer as pessoas de que identificámos os problemas certos. Isso muda tudo.”

Nicholas Sarkozy, então presidente, aproximou-se da FN quando começou a expulsar comunidades ciganas do país, ligando-os à criminalidade violenta. Ao fazê-lo acabou a legitimar as ideias do partido da família Le Pen e a base de apoio cresceu.

E apesar de as velhas ideias permanecerem no discurso do partido (ao contrário do que Marine está disposta a admitir), outras vieram refrescar-lhe a imagem (e angariar alguns inimigos internos nos círculos mais tradicionais de patrióticos fervorosos e católicos fundamentalistas).

Casada duas vezes, frequentemente de calças, fuma, ri. De voz e porte fortes. Marine é tudo menos o ideal que os conservadores reservam às mulheres. Defende o aborto e os direitos dos homossexuais. E procura uma França com valores seculares, o que irrita os fundamentalistas católicos.

Revigorar a imagem da FN tem sido uma tarefa bem-sucedida. Ocupada a “de-demonizar” o partido, ao contrário do pai, parece uma pessoa normal, politicamente correta. E mesmo quando a acusaram de negar a responsabilidade francesa no envio de judeus para campos de concentração na Alemanha Nazi, não perdeu tempo a esclarecer o alegado mal-entendido.

Mas o mal estava aparentemente feito. Os adversários viam-na resvalar para as pegadas de Jean-Marie, a ressuscitar o antissemitismo que enevoa a história do partido. É que tanto os historiadores como os líderes políticos franceses têm vindo a admitir a culpa dos gauleses na perseguição aos judeus no país.

Jacques Chirac, em 1995, dizia, do ajuntamento de Vel d’Hiv que a “França nesse dia cometeu o irreparável”. E pode agora Marine negar a responsabilidade da República Francesa?

Não foi isso que fez, defende numa nota publicada no site do partido. “Acho que a França e a sua República estavam em Londres durante a ocupação e que o regime de Vichy não era França”.

Os historiadores, como conta o ‘New York Times’, discordam. É que o governo de Vichy, durante a segunda Guerra, “gozou inicialmente de apoio alargado, os seus funcionários e oficiais vinham em grande parte da burocracia pré-guerra, e muitos continuaram com excelentes carreiras no governo e nos negócios depois da guerra”.

Em julho de 1942, os alemães ordenaram à polícia francesa o agrupamento de 13.000 judeus no velódromo de Hiver (o Vel d’Hiv), antes de serem deportados para o campo de concentração de Auschwitz.

De ombros largos e semblante forte, Marine Le Pen impõe a voz grave enquanto atira as palavras com uma convicção científica. Acredita ter consigo a chave para resolver os problemas de um país mergulhado no medo, na desconfiança e no descontentamento.

Os atentados terroristas dos últimos anos, os refugiados que chegam todos os dias ao país e a estagnação económica são terreno fértil para ganhar apoio. Mais do que isso, parecem confirmar aquilo que, antes de Marine, Jean-Marie defendeu durante décadas. E com certeza podemos nisso ver provas daquilo que Marine argumenta.

Fala da islamização como um problema. Da imigração como outro. Da globalização como outro ainda. A França aos franceses. O estado social aos franceses. O emprego aos franceses. Os franceses a Marine.

Filha de uma personagem tão demonizada tanto pela imprensa como pelos adversários políticos, Marine diz ter sentido o peso de se chamar Le Pen. Acabou por estudar direito na Faculdade de Paris II - Assas, em 1991. E Obteve o certificado de aptidão à prática da advocacia já em 1992, depois de mais estudos de direito penal naquela universidade.

Entre 1992 e 1998 foi advogada em Paris. Defendia aqueles que não tinham dinheiro ou condições para contratar um advogado e viam o Estado nomear-lhes um. Marine aceitava esses trabalhos, defendendo pobres, mas também imigrantes ilegais.

Apesar de ter vivido sempre na sombra da Frente Nacional, é em 1998 que entra ao serviço do partido do pai, dirigindo os serviços jurídicos da FN.

Chega ao Parlamento Europeu em 2004. Reeleita em 2009 e 2014, é uma voz ativa pela desconstrução do bloco comunitário. Nas primeiras coisas que Le Pen promete fazer se for eleita pelos gauleses encontramos uma iniciativa que não é inédita no velho continente: referendar a situação francesa na União Europeia (em cujo centro nevrálgico o país - que é a terceira maior economia da Europa, atrás da Alemanha e do, já com um pé de fora, Reino Unido - se encontra).

Num comício em Lille, no norte de França, deixava um alerta: se ganhar as presidenciais, a União Europeia “vai morrer”, porque “as pessoas já não a querem”.

O eventual referendo deverá ser marcado no primeiro semestre após a conquista do Eliseu. E Le Pen deixa a promessa de se demitir caso o perca, isto é, caso os franceses não queiram o funeral da União.

Mas enquanto esse tempo não chega, é em Estrasburgo que dá voz às suas ideias sobre a União Europeia. O jornal ‘Politico’ considerou-a a segunda eurodeputada mais importante do Parlamento Europeu no ano passado, atrás apenas de Martin Schulz.

Marine “usa o Parlamento Europeu como uma plataforma com estilo e é líder de um grupo partidário, tendo acesso a mais informação que a maioria. A sua presença regular em Estrasburgo serve de irritação constante às forças eurófilas no parlamento”, escreve o jornal.

O talento de Marine para a oratória é notável. Em meia dúzia de anos, conquistou muitos franceses; bastantes franceses; os suficientes para as sondagens a colocarem no topo das preferências para a primeira volta. Os resultados, contudo, não comprovaram as previsões e Le Pen ficou 2,5 pontos percentuais atrás de Macron - o outro nomeado para a segunda volta.

As sondagens dizem que, à segunda volta, não ganha, mas, fiando no que aconteceu no Reino Unido com o Brexit e nos Estados Unidos com Donald Trump, a única certeza é a de que não há certeza alguma até os votos caírem nas urnas.

Do segundo lugar para a segunda volta

A presença de Le Pen na segunda volta não foi surpresa. A votação do passado dia 23 de abril foi somente o preâmbulo do verdadeiro combate, a que a Front National chegou apenas uma vez no passado (em 2002), com o pai de Marine a perder para Jacques Chirac, conseguindo à volta de 17% dos votos.

15 anos depois, a filha conseguiu mais de 21% dos votos dos franceses na primeira volta e as sondagens dizem que pode conseguir até 41% das intenções de voto na segunda. Não são os suficientes para chegar ao poder, mas são os bastantes para assustar o coração político da Europa.

Em França, a esquerda e a direita uniram-se numa efémera coligação a favor de Emmanuel Macron, que partiu para a corrida como um independente “nem de esquerda nem de direita”, mas que para esta segunda volta conta com o apoio oficial de Nicolas Sarkozy (antigo presidente do país, proveniente do partido de direita Les Républicains) e de François Hollande, atual presidente francês, que vem do socialista Parti Socialiste).

Logo no dia a seguir à primeira volta das presidenciais francesas, Marine Le Pen deixou de ser presidente da Front National. Abandonou o cargo que detinha desde de 2011 para ser simplesmente uma candidata presidencial. “Considero que nos aproximamos de um momento decisivo e sempre considerei que o presidente é um presidente de todos os franceses”, disse em entrevista ao canal France 2.

Com “a convicção de que se deve passar das palavras aos atos” Marine suspende a “liderança no partido Frente Nacional”.

Apesar da oposição que se uniu para apelar ao voto contra ela, Le Pen continua a campanha bem perto do adversário. Tão perto que chega a estar no mesmo sítio que ele, ao mesmo tempo que ele.

Foi o que aconteceu no dia 26 de abril, quando Le Pen foi a Amiens visitar uma fábrica onde nessa mesma altura Macron se reunia com dirigentes sindicais. A fábrica era a Whirlpool, em Amiens, no norte do país, que enfrenta um futuro incerto, já que a multinacional vai transferir o fabrico de secadores de roupa, que dá trabalho a 295 pessoas, para a Polónia.

Marine, que faz campanha contra a União Europeia e a imigração, foi a candidata mais votada nesta região. E foi encontrar-se com os trabalhadores em greve. É ao lado deles que se põe, declarando-se “a candidata dos trabalhadores” franceses.

As críticas vão-se multiplicando. Até o jornal satírico ‘Charlie Hebdo’ deixou os bonecos de lado e lança somente um apelo: precisam de um desenho?

E agora, o plágio. No passado 1.º de Maio, o discurso da candidata teve vários momentos iguais a um outro discurso feito por François Fillon, candidato dos Républicains, derrotado na primeira volta, a 15 de abril. Le Pen veio já assumir a responsabilidade e dizer que a culpa está no facto de a candidata partilhar uma “visão de França” com Fillon, e que esta “foi uma forma de o mostrar”.

Quem não gostou do “tributo” foi Damien Abad, porta-voz de Fillon, que diz ter-se tratado de um “roubo flagrante… e prova de que a Frente Nacional não tem coluna vertebral. Os apoiantes de Fillon não são tonto, e não vão ser comprados apenas porque alguém copia o seu discurso”, disse à BFMTV.

Tão perto, tão longe - tão incerto

As propostas vão sendo afinadas. Nicolas Dupont-Aignan, que concorreu à primeira volta pelo movimento Debout la France foi já apontado por Le Pen como o primeiro-ministro. Candidato da direita, Dupont-Aignan conseguiu 4,7% dos votos na primeira volta das presidenciais francesas. Com eles, fazendo fé nas sondagens mais otimistas para o lado de Le Pen (41% para ela, 59% para Macron), a candidata da extrema-direita fica nos 45,7%, e Macron cai para os 54,3%.

Porém, a maior ajuda à campanha de Le Pen pode vir do sítio mais inesperado. Pode, aliás, vir do sítio mais afastado daquele onde ela se põe: a extrema-esquerda. É que apesar de não apelar ao voto em Le Pen, Mélenchon também não declara apoio a Macron. E esse limbo parece resultar em abstenção, que beneficia, dizem os analistas, Marine.

Nestas contas, Mélenchon conseguiu 19,6% dos votos no passado dia 23 de abril. Se os juntar-mos aos 41% previstos para Le Pen nesta segunda volta chegamos aos 51,6%, suficientes para chegar ao Eliseu. Se lhes somarmos os 4,7% de Dupont-Aignan, chegamos aos 56,3%. Não há, porém, qualquer rigor científico nestes valores. Nada nos diz que os sete milhões de pessoas que votaram em Mélenchon escolham agora votar em Le Pen, uma candidata que vem do outro lado do espetro.

Mas há semelhanças que aproximam mais os dois candidatos extremistas um do outro que do candidato do centro, que não lhes parece que o candidato da continuidade, do poder instituído, da classe a reformar.

Tanto um como outro procura o voto das classes trabalhadoras; tanto um como outro não morre de amores pela elite financeira, precisamente de onde vem Macron, que Mélenchon chegou a acusar de ter “arruinado a vida de milhares de pessoas” com políticas pró-mercado.

Não nos confundamos: Mélenchon continua a criticar Le Pen e já disse que não só não vai votar nela como espera que nenhum dos seus apoiantes o façam. Todavia, aqueles que votaram nele podem escolher a abstenção para protestar. E se a escolherem, é Le Pen quem capitaliza, alertam os críticos do impasse de Mélenchon.

Mas tudo isto são suposições. Tudo isto são previsões, estimativas e cálculos que procuram antever que futuro querem os franceses para França. A única certeza é que o caminho continua para o Eliseu aberto. E tudo pode acontecer no combate a dois deste domingo (7 de maio). Marine dizia na campanha que precisa dos franceses, resta saber se os franceses acham que precisam dela.

[atualizado a 5 de maio com informação sobre o resultado da primeira volta, bem como da campanha para a segunda volta]