Em entrevista à RTP, Centeno afirmou que a saída do Governo, que se concretizará na segunda-feira, foi “uma decisão construída” ao longo do tempo com o primeiro-ministro, António Costa, com quem disse ter relações “saudavelmente tensas”, mas que se mantiveram idênticas durante os quatro anos e meio de convivência governativa.
“Todas as leituras que têm sido feitas sobre a minha relação com o primeiro-ministro são descontextualizadas: não houve nenhuma deterioração dessa relação, nem podia haver”, assegurou, classificando a relação com António Costa como “absolutamente clara e absolutamente transparentes”.
O ministro das Finanças assegurou que “nada mudou do ponto de vista político, nada mudou no relacionamento pessoal” e considerou até que não se pode conceber “uma situação em que o ministro das Finanças e o primeiro-ministro não estejam numa relação tensa, mas saudavelmente tensa”.
Questionado sobre o momento escolhido para a saída - que coincide com a crise causada pela pandemia de covid-19 -, Centeno ligou-o apenas ao fim da sua presidência do Eurogrupo, que terminará em 12 de julho.
“É o fim de um ciclo, era o fim de um mandato no Eurogrupo”, afirmou, salientando a relevância para Portugal de ter ocupado, pela primeira vez, a presidência desta instituição.
Mário Centeno assegurou que “não há nenhum motivo” adicional para a sua saída do Governo nesta altura e rejeitou que tivesse pensado demitir-se quando se reuniu com o primeiro-ministro há algumas semanas, a propósito da polémica sobre o Novo Banco.
“Nunca esteve em cima da mesa”, afirmou, dizendo que havia necessidade de “clarificar uma situação que estava a crescer em termos públicos”.
A saída do Governo de Mário Centeno irá concretizar-se na próxima segunda-feira, com a tomada de posse de João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento, como o novo ministro de Estado e das Finanças do XXII Governo Constitucional.
“Preparámos todas as circunstâncias, mesmo durante a pandemia, e eu mantive a minha interpretação de que era o momento para fechar este ciclo, um ciclo que foi de uma dedicação permanente”, salientou.
Questionado se sentiu alguma vez “falta de apoio” do Presidente da República, em matérias como o Novo Banco ou a Caixa Geral de Depósitos, Centeno repetiu por várias vezes ter “uma relação institucional” com Marcelo Rebelo de Sousa.
“Eu não tenho de filtrar esse apoio institucional, isso é feito pelo primeiro-ministro, em todos os momentos dos dois mandatos eu não tive nenhuma dúvida de que tinha feito aquilo que me tinha comprometido fazer, aquilo que estava no programa do Governo”, disse, recusando revelar se alguma vez o chefe de Estado lhe pediu para não sair do executivo.
Centeno rejeitou que tenha havido, neste segundo Governo de António Costa, uma inversão da importância da economia sobre as finanças - “não há uma dicotomia entre as duas” - e assegurou que para o seu sucessor, que descreveu como o “colega e amigo” João Leão, “a visão é a mesma”.
O ministro das Finanças cessante reiterou que não conhece nem falou ainda com António Costa Silva, o gestor escolhido pelo primeiro-ministro para desenhar o plano de recuperação da economia, mas assegurou que essa decisão foi “debatida dentro do Governo”.
“As decisões do Governo são coletivas, debatemos e no final todos concordámos”, afirmou.
Já sobre o futuro da TAP, Centeno classificou o apoio que será agora concedido como “um empréstimo de emergência” e defendeu que, se os privados não conseguirem acompanhar o Estado no esforço de recapitalização, “terá de haver contrapartida na responsabilização do Estado”.
“Mas esse não é nenhum objetivo estratégico”, disse, recusando pronunciar-se sobre a necessidade de reduzir a dimensão empresa ou o seu número de trabalhadores.
Comentários