O périplo de Theresa May pelas instituições europeias em Bruxelas terá início às 11:00 horas locais (menos uma hora em Lisboa e Londres), com May a ser recebida pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, antes de atravessar a Rue de la Loi para se encontrar com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, numa reunião agendada para as 15:00.
Naquela que é a sua primeira deslocação a Bruxelas desde que o parlamento britânico aprovou, em 29 de janeiro, uma proposta que preconiza a substituição do ‘backstop’ para a fronteira irlandesa, inscrito no acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, por “disposições alternativas”, com vista à ratificação daquele texto pela Câmara dos Comuns, a líder do Governo britânico terá a difícil missão de demover Juncker e Tusk, inabaláveis no seu propósito de não renegociar.
Um dia antes da visita de May, e no âmbito dos seus encontros individuais com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, os dois políticos repetiram pela enésima vez que nem o acordo de saída, ‘fechado’ entre Bruxelas e Londres em novembro e endossado pelos chefes de Estado e de Governo dos 27 no final daquele mês, nem o mecanismo de salvaguarda da fronteira irlandesa serão renegociados.
E se o presidente do executivo comunitário até foi comedido nas palavras — embora tenha deixado bem claro que a primeira-ministra britânica está ciente de que os seus parceiros do bloco comunitário não vão ‘tocar’ no texto já fechado e em processo de ratificação do lado europeu -, Donald Tusk não ‘poupou’ os britânicos.
“Tenho-me questionado como será o lugar especial no inferno reservado àqueles que promoveram o ‘Brexit’ sem terem sequer o esboço de um plano para realizá-lo em segurança”, declarou na quarta-feira.
Num discurso duro, o presidente do Conselho Europeu reafirmou o seu compromisso com a República da Irlanda e lembrou que a posição dos 27 é “clara” e que aqueles não farão qualquer concessão.
“Deixem-me vincar que o Conselho Europeu de dezembro decidiu que o acordo de saída não será alvo de uma renegociação”, completou, dizendo esperar que a líder do Governo britânico traga na mala uma solução “realista” para resolver o impasse criado pelo ‘chumbo’ daquele documento, em 15 de janeiro, na Câmara dos Comuns, e para evitar uma saída desordenada do Reino Unido da UE em 29 de março.
A própria Theresa May tinha reconhecido, quando foi mandatada para renegociar o ‘backstop’, que não seria fácil ‘convencer’ Bruxelas a reabrir as negociações do texto já acordado entre as partes, especificamente a cláusula relativa à ‘rede de segurança’ para a fronteira irlandesa.
O acordo do ‘Brexit’ inclui um mecanismo de salvaguarda, comummente conhecido como ‘backstop’, que pretende evitar o regresso de uma fronteira física entre a República da Irlanda, Estado-membro da UE, e a província britânica da Irlanda do Norte.
O ‘backstop’ consiste na criação de “um território aduaneiro único” entre a UE e o Reino Unido, no qual as mercadorias britânicas teriam “um acesso sem taxas e sem quotas ao mercado dos 27″ e que garantiria que a Irlanda do Norte se manteria alinhada com as normas do mercado único “essenciais para evitar uma fronteira rígida”.
Este mecanismo só seria ativado caso a parceria futura entre Bruxelas e Londres não ficasse fechada antes do final do período de transição, que termina a 31 de dezembro de 2020 e que poderá ser prolongado uma única vez por uma duração limitada.
O ‘backstop’ é contestado pelos parlamentares britânicos que temem que este mecanismo deixe o país indefinidamente numa união aduaneira, e que reclamam que Londres possa ‘abandonar’ unilateralmente esta solução.
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